A Rainha Nzinga Chegou
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Junia Torres, Isabel Casimira Gasparino
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A Rainha Nzinga Chegou
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2018
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Brasil
Crítica
Leitores
Sinopse
O reinado feminino Treze de Maio, comandado pela experiente Isabel Casimira, é somente um reflexo dos vários territórios de Minas Gerais que iniciaram a sua expansão hierárquica por meio da dominação da rainha Nzinga, uma figura importante na resistência contra o domínio português na África no século XVII.
Crítica
Problemas concernentes à carpintaria de A Rainha Nzinga Chegou atrapalham a sua fruição desde a primeira transição. As possibilidades levantadas pelo vislumbre do batuque com textura de vídeo, ou seja, reminiscência de um tempo não tão longínquo, sucumbem diante da fragilidade do desenho de som. Esse dado meramente técnico, que permite uma cena em volume quase inaudível e a subsequente com uma estridência incômoda aos ouvidos, ejeta o expectador da imersão pretendida. E esses senões, especificamente em relação ao que se ouve, mas não apenas, se acumulam no decurso do documentário, dificultando bastante a pronta adesão à proposta narrativa das diretoras Junia Torres e Isabel Casimira Gasparino. A câmera se detém em etapas da celebração de tradições africanas, disposta a centralizar Isabel Casimira, principal figura do Reinado Treze de Maio, manifestação cultural que estabelece uma ponte direta entre os descendentes de escravizados e o Congo.
A Rainha Nzinga Chegou, contudo, desperdiça sucessivamente as potências por ineficiência diretiva. Alguns planos alongados não encontram uma razão de assim existir no seu conteúdo reiterado. Embora seja evidentemente rica a mera observação dos rituais, as explicações sobre sementes transformadas em matérias-primas valiosas de coroas que carregam um forte teor simbólico, as realizadoras não conseguem criar pontos de atração dramática entre os núcleos, numa debilidade que vai além da fragilidade da montagem. Mas falta realmente um alinhave efetivo do conteúdo, então justaposto aparentemente sem muito critério. Não fica clara a intencionalidade de certas recorrências, como o aparecimento de câmeras apontando a instantes-chave, vide o velório que oferece novas perspectivas ao filme. Parece efetivamente mais uma nódoa de proporções mal calculadas do que necessariamente uma porta aberta a reflexões, inclusive aquelas potenciais sobre o registro.
Junia Torres e Isabel Casimira Gasparino não se preocupam em situar o espectador. De fato, há raras explicações sobre a atuação do Reinado Treze de Maio, os pormenores da sucessão importante àquela comunidade que canta não somente a sua religiosidade, mas também a história dos antepassados que vem a reboque dela. Há uma imprecisão, aparentemente deliberada, quanto ao espaço geográfico no qual as cenas se passam. Claro que, adiante, a visita ao Congo da nova rainha e do representante da guarda escancaram a ambientação no país africano, com encontros destituídos de força cinematográfica, sobretudo para asseverar os significados desse retorno às origens. Há um desajeito praticamente integral nessa construção narrativa frouxa, algo sinalizando obviamente nas circunstâncias que nem projetam o bastidor expressivamente, e, tampouco, fogem a uma dinâmica que soa como aproveitamento involuntário de vários erros crassos.
É exatamente em virtude do acúmulo acintoso das falhas, gritantes no desenho do som, mas igualmente presentes na encenação e na correção de cor, que A Rainha Nzinga Chegou não consegue assimilar demais procedimentos produtivamente. Quando Isabel aparece colocando um gravador no bolso do sujeito que ora no primeiro plano, nessa precariedade instaurada, o movimento é entendido como passagem em que a direção tentou, em vão, explicitar o processo de filmagem a fim de oferecer camadas ao longa-metragem. O filme transcorre garantindo aderência bem esporadicamente, errando mais do que acertando, inclusive, por não cuidar devidamente da consistência dos personagens. Prova disso, o diálogo inteiro em que um interlocutor responde apenas com sons guturais, causando uma reação cômica e involuntária, assim apontando a uma facilidade para nos desprender do todo, distraídos que somos por tantas faltas e poucas proposições férteis.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Marcelo Müller | 3 |
Daniel Oliveira | 6 |
Francisco Carbone | 6 |
MÉDIA | 5 |
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