Crítica
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Crítica
Acho interessante quando o cinema mostra visões de conflitos e guerras que mexeram com o mundo, apesar do mesmo parecer ignorar que isso ocorra. Somos bombardeados sempre com temas como o Holocausto, o 11 de Setembro ou a ascensão e a queda do Império Romano. Obviamente não estou desmerecendo o sofrimento causado pela Segunda Guerra ou pelo ataque às Torres Gêmeas, mas parece que esquecemos que outros territórios do mundo sofrem o mesmo, e o pior, todos os dias. Só por isso A Rebelião (2011) se mostra uma grata surpresa.
Aqui acompanhamos a chamada “Tomada de reféns de Ouvéa” ocorrida em 1988 na Ilha de Ouvea, na Nova Caledônia, região colonizada pela França. Cerca de 30 oficiais são sequestrados por um grupo rebelde que prega a independência da localidade enquanto na sua “nação soberana” as eleições presidenciais estão chegando. O governo envia uma tropa de 300 homens liderados pelo capitão Phillipe Legorjus (Mathieu Kassovitz, também diretor do filme), que resolve investir no diálogo com o líder dos rebeldes Dianou Alphonse (Iabe Lapacas).
Em alguns momentos este longa lembra o excelente Hotel Ruanda (2004). Não só pelo conflito em si, mas pela forma como diretor tratou a história. Após entregar algumas pequenas bombas como Na Companhia do Medo (2003) e Missão Babilônia (2008) na sua carreira hollywoodiana, Kassovitz acertou as contas com os espectadores ao voltar para a França e entrega uma obra sensível (por vezes violenta), mas que trata um conflito como ele tem que ser visto: de ambos os lados. Não há um pingo de maniqueísmo em querer mostrar os franceses como os bad guys que não querem entregar Nova Caledônia para seus habitantes e, principalmente, aos rebeldes, que também não são tratados como “coitadinhos” ou qualquer coisa do gênero.
Só pelos diálogos entre Phillipe e Alphonse o ingresso está mais do que garantido. Conversas que revelam não apenas o lado político da questão, mas também a sensibilidade de seus líderes perante a responsabilidade que tem em mãos. Muito se deve ao talento dos atores principais, bem como um roteiro bem construído e legitimado por excelentes cenas de ação.
Uma pena que o título original (L’Ordre et la Morale) não tenha sido mantido. Afinal A Ordem e a Moral revela uma análise ambígua e extremamente crítica do que foi este conflito que, a bem da verdade, permanece até hoje, mesmo que os tiros e explosões possam ter diminuído. Esta pequena guerra (quase) silenciosa resultou no Acordo de Matignon em 26 de junho de 1988, que criou um estatuto transitório de dez anos e a organização de um referendo para os próprios habitantes decidirem se querem ou não a independência. Decisão que não foi tomada até hoje.
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