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Sinopse

Um ex-astro de futebol americano que se tornou detetive particular investiga o desaparecimento de uma pessoa. Ele não imaginava que seria envolvido numa teia de crimes.

Crítica

A grande dúvida a respeito desse A Rosa Venenosa é: o que Morgan Freeman veio fazer por aqui? Afinal, ele é praticamente o único do elenco que, ao menos num primeiro olhar, não precisaria estar envolvido em uma produção tão duvidosa quanto essa. Por outro lado, é impressionante como para onde se olhe é possível observar atores talentosos, que já tiveram seus momentos de estrelato em Hollywood, mas que acabaram sucumbindo às suas vaidades e inseguranças. A começar por John Travolta, o protagonista, que a cada novo trabalho tem se esforçado tem se esforçado mais em seguir os passos do colega de um dos seus maiores sucessos: Nicolas Cage, com quem dividiu a cena em A Outra Face (1997). Se vinte anos atrás os dois eram nomes de primeira grandeza, atualmente ambos representam o que de pior tem se feito na meca do cinema mundial. E aqui temos mais um bom exemplo disso.

Nos primeiros instantes de A Rosa Venenosa, o que se vê é um letreiro daqueles antigos de cinema, e o título em cartaz é nenhum menos do que o clássico Relíquia Macabra (1941). A obra referencial de John Huston estrelada por Humphrey Bogart se tornou um marco no subgênero que convencionou-se chamar “film noir”, no qual um detetive em fim de carreira invariavelmente era contratado por uma dama irresistível para se meter em uma investigação repleta de reviravoltas, na qual ele é que mais se dá mal, até a resolução do mistério. Pois bem, são com esses mesmos elementos que o diretor George Gallo, em parceria com o também roteirista Francesco Cinquemani, tenta construir a sua história. O problema é que até partem desses signos, mas os mesmos são logo esquecidos, ficando perdidos pelo caminho. Travolta encarna Carson Phillips, um investigador particular que recebe uma missão aparentemente simples de uma mulher desconhecida, mas bela suficiente para convencê-lo. E assim começam os seus problemas.

Narrado em primeira pessoa – ao menos nas passagens nas quais a narrativa faz uso desse recurso pois não consegue dar conta de elucidar tais passagens apenas com imagens e diálogos – o que Phillips precisa descobrir é por quê a tia da sua cliente, uma senhora milionária que se encontra internada em um instituto psiquiátrico, há muito não responde às mensagens da sobrinha. Chegando lá, no entanto, ele logo perceberá que as coisas são bem mais complicadas do que gostaria. Principalmente porque a cidade a qual se dirige é a sua antiga terra natal, onde deixou para trás antigos desafetos, falsos amigos e um amor que até hoje não esqueceu. Ao retomar todos esses laços, segredos do passado virão à tona, envolvendo negociatas escusas, mentiras que a todo instante surgem no seu caminho e um esquema fraudulento que envolve todas as principais autoridades do local.

Se estes elementos, bem articulados, poderiam render uma história, no mínimo, curiosa, infelizmente não é o que se encontra em A Rosa Venenosa. Pra começar, tem-se o próprio Travolta, já com quase 70 anos, interpretando um personagem com duas ou três décadas a menos. O rosto do artista sofreu tantas interferências estéticas que sua motricidade da face está visivelmente alterada – tem até um cacoete na fala prejudicando suas aparições. Sem esquecer de mencionar a peruca em tons caju, que segundo ele mesmo deveria criar um visual de “leão cansado no zoológico”. Outro susto se tem ao se deparar com Brendan Fraser, como o médico responsável pelo hospital. O homem que já viveu o herói de filmes como A Múmia (1999) e George: O Rei da Floresta (1997) está completamente deformado, com olhos saltados, praticamente careca e uma barriga assustadora. Poderia ser interessante se fosse uma composição para o personagem, mas o triste é perceber que essa é a sua condição atual.

Entre uma Famke Janssen (saga X-Men) alterada pelo botox e um Robert Patrick (O Exterminador do Futuro 2: O Julgamento Final, 1991) que há muito deixou o porte atlético de outrora, resta apenas Freeman, imponente como um mafioso assustador, cujas ameaças não podem ser encaradas de modo leviano. Ele é a única presença que oferece um pouco de credibilidade a um imbróglio que chega, inclusive, a oferecer um momento entre Travolta e a novata Ella Bleu Travolta – o sobrenome não nega o parentesco – os dois vivendo na ficção nada menos do que... pai e filha! Um encontro tão gratuito quanto desprovido de emoções, seja pela falta de talento dramático da garota como também pelas limitações evidentes do antigo astro. E no final, quando tudo finalmente se resolve, o protagonista chega até a estrelar uma rápida sequência de dança, como se não conseguisse disfarçar a saudade dos tempos de Os Embalos de Sábado à Noite (1977) e Grease: Nos Tempos da Brilhantina (1978). O tempo passa para todos, afinal, mas o mais triste são os efeitos desse para aqueles que não aceitam essa inevitável verdade.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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CríticoNota
Robledo Milani
4
Lucas Salgado
1
MÉDIA
2.5

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