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Crítica

Uma aventura eficiente. Assim pode ser descrita A Senha: Swordfish, thriller marcado pela reunião do astro John Travolta, que na época passava por um período de baixas em sua carreira, e o então novato Hugh Jackman, em um papel feito especificamente para o seu estrelato. Travolta havia recém saído dos fracassos retumbantes de A Reconquista (2000), ficção-científica que custou US$ 75 milhões e arrecadou um terço deste valor, além de ter sido o grande ‘perdedor’ das Framboesas de Ouro, com nove vitórias – ou seriam derrotas? – entre elas a de Pior Filme do Ano, Pior Filme da Década e Pior Drama dos Primeiros 25 Anos da Premiação (!), e Bilhete Premiado (2000), fraca comédia que arrecadou menos de um sexto do seu orçamento. Já Jackman, por outro lado, havia recém sido introduzido no cinema hollywoodiano com o sucesso X-Men (2000), e precisava de um novo filme de efeito que rapidamente consolidasse sua nova condição.

Ainda que cada estrela envolvida em A Senha: Swordfish tivesse seus próprios interesses, foi junto com o diretor Dominic Sena e com o produtor Joel Silver que conseguiram desenvolver esse projeto que poderia ser desacreditado, mas que curiosamente funciona com eficiência dentro do que se propõe. Jackman, o verdadeiro protagonista dessa história, aparece como um dos melhores hackers dos mundo, um pirata de computador que está sendo chantageado por um perigoso assassino (Travolta). O objetivo é darem um golpe milionário no Banco Mundial. Para tanto, contarão com a ajuda da belíssima Halle Berry (ainda antes do Oscar) e do geralmente eficiente Don Cheadle. Chamam atenção também as participações do ex-jogador de futebol Vinnie Jones e do veterano Sam Shepard, cada um respondendo por momentos de grande tensão.

Um dos problemas – e também um dos maiores méritos – de A Senha: Swordfish é justamente sua sequência inicial, uma explosão gigantesca e tão exagerada capaz de deixar qualquer um abismado. Tudo funciona à perfeição, dos efeitos ao posicionamento de cada um dos atores envolvidos, e de imediato somos jogados dentro de um filme que promete muito logo no começo, mas que infelizmente não consegue segurar o mesmo ritmo no seu desenrolar. Após elevar a adrenalina do espectador ao máximo logo nos primeiros minutos, o filme vai, aos poucos, amornando. A impressão que fica é a de que o diretor teria passado o resto do filme tentando recriar o mesmo impacto, o que infelizmente não consegue.Ao seu término, a sensação de dever cumprido existe, porém um misto de frustração com perplexidade ainda persistirá.

Absurdo do começo ao fim, é um thriller que chegou atrasado no contexto das espionagens tecnológicas, um tema que esteve muito em alta na metade da década anterior. O roteiro apresenta soluções muito fáceis, em que tudo é tão impossível quanto inacreditável. Se somos envolvidos é pela eficiência dos protagonistas, completamente entregues em seus personagens, e pela condução alucinada do realizador em sua busca pela êxtase do início ao fim. Se era para extrapolar, ninguém aqui pode ser acusado de não ter seguido essa proposta até às últimas consequências.

A Senha: Swordfish, no entanto, não é um filme que mereça ser levado muito à sério. É diversão barata e passageira, sem maiores consequências. A história é absurda, sim, mas entretém na medida certa, mantendo o espectador atento ao seu desenrolar. Jackman está ótimo, convencendo como herói de ação com um físico invejável e muita vontade de provar seu valor, Halle está linda como poucas vezes antes, sexy e selvagem, e Travolta se diverte como há muito não fazia. Os efeitos competentes garantem um legítimo cinema-pipoca. E se depois dos letreiros finais ninguém lembrar do que acabou de ver, ao menos restará a certeza de ter passado por duas horas divertidas. Algo que, hoje em dia, já é um grande negócio.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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