Crítica
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Sinopse
Uma sereia maligna se apaixona por Roman, noivo de Marina, e tenta mantê-lo longe da amada em seu reino submerso. Marina terá apenas uma semana para superar o medo do oceano, lutar com monstros e se manter viva e na forma humana para salvar seu futuro marido.
Crítica
Embora se chame A Sereia: Lago dos Mortos, o novo longa-metragem de Svyatoslav Podgaevskiy (A Noiva, 2017) não tem a representação clássica (criada pelos gregos, acrescida de elementos ao longo dos séculos, principalmente a partir da Idade Média) do ser marítimo tocando o terror nos protagonistas. Se trata, na verdade, da equivalente russa Russalka, presente na lenda homônima. A ameaça vem do espírito obsessivo de uma jovem que cometeu suicídio num lago da Rússia após praticar crime passional. O prólogo mostra essa assombração enfeitiçando um homem, então salvo das garras nefastas do sobrenatural pela esposa que se sacrifica. No presente, Roman (Efim Petrunin), filho do casal desfeito outrora pela tragédia, é um competidor de natação prestes a se casar com Marina (Viktoriya Agalakova). Nesse momento inicial, surgem tentativas de atribuir à água uma flagrante carga de tensão, não apenas porque a noiva ignora como se nada – o que acarreta uma cena mal executada de quase afogamento enquanto certa competição entre amigos acontece –, mas também em virtude de aspectos comezinhos do cotidiano. A torneira que funciona parcialmente, o chuveiro ligado que antecede um ataque, tudo isso serve para sublinhar o líquido como catalisador do perigo.
Mesmo sem as consecutivas quebras de coerência interna, os buracos absurdos de roteiro e a inépcia dos intérpretes, A Sereia: Lago dos Mortos ainda seria extremamente mal resolvido por conta da encenação que não consegue instaurar uma substancial atmosfera de medo. Claro que não ajuda o fato da distribuidora brasileira lançar por essas plagas cópias inexplicavelmente dubladas (pessimamente, diga-se de passagem) em inglês, relegando a língua original a poucos momentos, como nos sons provenientes de uma televisão. Os personagens são destituídos de carisma e não sustentam os dilemas que supostamente os atravessam. Marina é vista na dependência de seu futuro marido, seja esperando em casa, se encarregando dos preparativos do enlace ou torcendo à beira da piscina. Já Roman é desenhado tortuosamente como sujeito virtuoso, um cara gente boa que tem crise de consciência durante sua despedida de solteiro, quando larga amigos e strippers para trás e, inadvertidamente, cai diretamente nos braços do espírito que o aguardava às margens do lago.
Saindo um pouco do âmbito formal, atendo-se apenas à história propriamente dita, é possível encontrar desconexões impressionantes em A Sereia: Lago dos Mortos. Roman mergulha no lugar em que sua mãe supostamente decidiu dar fim à própria vida, com o simples intuito de relaxar (?); após o flashback canhestro cuja função é elucidar os acontecimentos que levaram Lisa (Sofia Shidlovskaya) a se tornar assassina e depois morrer de tristeza ao atirar-se no lago, como explicar sua lápide submersa?; ainda que parado durante mais de 20 anos, o casebre isolado ainda é abastecido de energia elétrica, uma força restabelecida com mero religar de fusíveis. Esses são apenas três exemplos das incongruências presentes no relato débil, isso sem contar a maneira absolutamente desajeitada de construir dramas familiares, turbulências amorosas e reações diante de uma ameaça aparentemente indestrutível. O desleixo com a delineação da trama é responsável por tornar o filme praticamente risível, passando assim bem longe de amedrontar ou de provocar considerável desconforto.
A Sereia: Lago dos Mortos desperdiça bons potenciais, tais como o pai que retorna do limbo para esclarecer contra o quê se está lutando. Aliás, o reencontro frio e burocrático do genitor isolado com os filhos dá uma ideia da falta de competência de Svyatoslav Podgaevskiy para enxertar humanidade nas situações. A direção de arte recorre a diversas convenções, vide o lago caracterizado por uma névoa espessa que lhe torna “misterioso”; a maquiagem que pega carona na onda de lugares-comuns, como atesta a palidez e as olheiras profundas de Roman tão logo tenha suas forças drenadas pela “sereia”; e a estrutura narrativa frágil que não esconde a inabilidade para, ao menos, causar momentos aterrorizantes. Os jump scares mal executados, a trilha sonora genérica, a inexpressividade dos intérpretes, tudo converge para o resultado próximo do desastroso. Além disso, denominar a alma penada de "sereia" não está completamente errado, mas é como reproduzir o canto dos seres mitológicos citados, pois certamente atrairá incautos às águas turvas desse engodo soporífero e com um sabor amargo.
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