Crítica
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Sinopse
Um pistoleiro chamado Roland Deschain percorre o mundo em busca da famosa Torre Negra, prédio mágico que está prestes a desaparecer. Essa busca envolve uma intensa perseguição ao poderoso Homem de Preto, passagens entre tempos diferentes, encontros intensos e confusões entre o real e o imaginário.
Crítica
Será absolutamente compreensível se os admiradores dos livros em que se baseia A Torre Negra, sobretudo os fãs de Stephen King, saírem desta sessão um tanto frustrados. Afinal de contas, o cineasta dinamarquês Nikolaj Arcel pretere a mitologia criada pelo escritor norte-americano, inspirada em fontes bastante distintas, em função de uma narrativa menor, que fala basicamente de questões concernentes à paternidade. O protagonista é Jake (Tom Taylor), assombrado por pesadelos constantes acerca de uma realidade fantasiosa onde está em curso o embate entre Walter, o Homem de Preto (Matthew McConaughey), e Roland, o Pistoleiro (Idris Elba). Essas revelações durante o sono se transformam em desenhos, servindo como brechas na estrutura para entendermos logo a contenda, cujo resultado determinará o destino do universo. É um recurso canhestro, mas funcional, um atalho mal enjambrado, mas que nos permite pular etapas, distinguindo sem dúvidas os representantes do bem e do mal.
Portanto, o cotidiano de Jake é entrecortado por essas visões confundidas com distúrbio mental na esfera familiar. Sua mãe, preocupada em virtude da reincidência das perturbações, especialmente após os terremotos que balançam Nova York, decide, por pressão do novo marido, interna-lo numa instituição psiquiátrica por um fim de semana. A Torre Negra possui amplo espaço à construção dessa dinâmica fracionada, em que a falta do pai se impõe com força determinante. Não é por acaso que o realizador protela o deslocamento da trama ao mundo alternativo, pois seu recorte se pretende realmente mais intimista, menos grandiloquente, embora a batalha em voga tenha proporções incalculáveis. Nota-se, a todo o momento, aliás, essa disputa virtual entre os escopos possíveis. Por mais absorto em novidades e amplitudes cósmicas que o protagonista porventura esteja, Arcel prioriza os sentimentos, a incompletude vivida pelo garoto quando totalmente extirpado da família.
A aproximação de Jake e Roland ocorre por associação e identificação. A Torre Negra passa brevemente a ideia de que a posição de Pistoleiro é mítica, vitaminando ocasionalmente o delineamento dessa esfera lendária com informações jogadas para justificar, por exemplo, o espanto de algumas pessoas com a chegada do personagem de Idris Elba num vilarejo. O investimento prioritário é na relação estabelecida entre o garoto e o guardião da Torre Negra, cego de ódio e sedento de vingança, já que o antagonista assassinou seu pai a sangue frio. Ou seja, temos, a partir de dado instante, dois defensores do bem sofrendo a perda de seus respectivos progenitores. Tudo o que verdadeiramente importa na viagem deles rumo ao enfrentamento diz respeito à construção de um vínculo essencial a ambos. Nesse trajeto emocional sobra pouco espaço ao desenvolvimento dos elementos periféricos. Além disso, a aura potencialmente fascinante, que mescla fantasia e western, é subaproveitada.
É surpreendente, porém, que um cineasta como Nikolaj Arcel, à frente de sua primeira superprodução, deixe de lado a abundância de componentes referenciais e invista fortemente no paralelo entre pessoas de mundos distintos, mas angustiadas pelo mesmo motivo. Ao aceitar a missão de proteger o garoto especial, vital aos planos do ótimo vilão interpretado por Matthew McConaughey, Roland passa por uma transição capital, pois, gradativamente, deixa de ser o filho enlutado para se tornar uma espécie de pai substituto. Infelizmente, A Torre Negra oscila demais no que tange à mitologia instituída previamente por Stephen King. O encerramento é uma das piores coisas do filme, completamente anticlimático, sem o tônus dramático necessário para valorizar a dificuldade do percurso até ali. Contudo, é uma surpresa agradável a disposição do cineasta para encontrar um recorte humano no enredo fantástico e pautar-se por aspirações prosaicas que acabam sobrepujando, bem ou mal, o extraordinário.
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