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Sinopse

Christine mora em Los Angeles, em 1928, e se desespera ao chegar em casa e perceber que seu filho desapareceu. Entre pistas falsas e frustrações, ela continua procurando enquanto é revelada a corrupção da polícia local.

Crítica

Ela é uma verdadeira estrela, uma das poucas na Hollywood atual que consegue por si só viabilizar um novo projeto, garantindo interesse do público e da crítica, ao mesmo tempo em que exerce um magnetismo singular. E Angelina Jolie dá mais uma demonstração deste talento ímpar em A Troca, drama que a despeito dos seus outros – e evidentes – méritos é inteiramente carregado pelo charme incomparável da sua protagonista. A direção segura do renomado Clint Eastwood, o argumento curioso e provocador, a impressionante reconstituição de cenários e figurinos e a envolvente trilha sonora acabam sendo meros adornos – dignos de atenção, claro, porém periféricos no conjunto geral – diante do incrível trabalho da atriz vencedora do Oscar como coadjuvante por Garota Interrompida (1999).

Falando em Oscar, chega a causar indignação o fato de que Jolie teve apenas uma indicação ao prêmio máximo do cinema mundial – ao menos foi vitoriosa. Trabalhos interessantes, como O Preço da Coragem, O Bom Pastor e Alexandre foram solenemente ignorados. Com a vitória neste ano no Satellite e as indicações ao Globo de Ouro, ao Sindicato dos Atores dos EUA, e nos círculos dos Críticos de Londres e Chicago (ao menos até o momento), a expectativa é de que este ‘esquecimento’ não se repita mais uma vez. Angelina pode ser a esposa de Brad Pitt, a mãe cosmopolita de diversos bebês e embaixadora da Unicef, mas é também uma excelente e dedicada intérprete, e é preciso deixar de lado qualquer ideia pré-concebida e focar no que realmente interessa – que é a performance vista na tela grande. É ali que existem enquanto artistas, todo o resto é pura distração.

A Troca trata de um caso real acontecido em Los Angeles no final dos anos 20, no século passado. A trama é sobre uma mãe solteira que não encontra o filho após retornar para casa depois de um dia de trabalho. A polícia, além de demorar para entrar em ação e do pouco empenho em ajudá-la, meses depois promove um grande circo junto à mídia ao entregar a ela o menino desaparecido. Tudo estaria certo, não fosse um único porém – tratava-se da criança errada! Apesar dos protestos maternos, que foram seguidamente desprezados, o detetive encarregado do caso não só se recusava em admitir o erro como passou a acusá-la de louca e negligente, chegando a interná-la, obviamente contra a vontade dela, em um sanatório. Graças à descoberta de um outro investigador, que se depara com o caso de um assassino de meninos, e à intervenção de um pastor (John Malkovich, de Queime Depois de Ler, em participação discreta e eficiente), a sofrida vítima não só consegue se libertar como também denuncia o que lhe aconteceu a todos, provocando um grande julgamento público contra os maus tratos e o abuso de autoridade policial que ela e outras mulheres em situações semelhantes vinham sofrendo, terminando em uma grande reforma política e social na cidade.

Clint Eastwood afirma ter aceito dirigir A Troca assim que acabou de ler o roteiro, no mesmo dia em que este lhe fora enviado. Apesar de lembrar outros trabalhos do astro enquanto realizador, mais notoriamente Sobre Meninos e Lobos (que também tratava de uma criança desaparecida), este novo filme aposta mais na carga dramática dos acontecimentos que vão se sucedendo na vida desta mãe desamparada, que mesmo sendo aparentemente tão frágil conseguiu gerar consequências fortes e necessárias. Jolie, que disputou este papel com atrizes oscarizadas como Hilary Swank (duas vezes premiada, uma delas por Menina de Ouro, também de Eastwood) e Reese Witherspoon (vencedora por Johnny e June), demonstra delicadeza, determinação e um completo domínio de suas emoções, atuando na medida certa entre a injustiçada e a mulher independente acostumada a lutar por seus direitos.

Mas A Troca não é perfeito. Há percalços no caminho, e o principal deles é o roteiro. Escrito por J. Michael Straczynski, conhecido roterista de histórias de quadrinhos de personagens como Homem-Aranha e autor de séries de televisão como Babylon 5, ele faz sua estreia no drama histórico com habilidade nos temas e no jogo de situações, porém sem saber equilibrar com muita destreza os pontos altos da história. Assim, o que vemos é uma série de reviravoltas, clímaxes que se sucedem sem necessidade. E ao invés de uma produção enxuta e objetiva temos uma denúncia quase panfletária em aproximadamente duas horas e meia de projeção, provocando bocejos até nos mais entusiasmados. Muitas vezes ‘menos significa mais’, e este certamente é um destes casos. Faltou a Eastwood e a Straczynsky esta percepção. Infelizmente.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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