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Crítica


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Sinopse

Três homens de uma mesma família de diferentes gerações têm em comum o trabalho em uma prisão rural na Geórgia: Hank Grotoski, seu pai, Buck, que se aposentou há pouco, e Sonny, seu filho, que acaba de iniciar na profissão. A equipe liderada por Hank prepara a execução de Lawrence Musgrove, que ao morrer, deixa a esposa, Letícia, e o filho, Tyrrel. Tudo isso mexe com os nervos do jovem Sonny, fazendo-o cometer uma loucura. Para Hank, o destino reserva o encontro com a viúva, que o fará repensar sua vida: o relacionamento com o filho, a devastadora paixão que agora lhe consome e o trabalho no corredor da morte.

Crítica

Hank (Billy Bob Thornton) é homem solitário e petrificado por trajeto provavelmente feito de muitas expectativas dentro de criação para lá de conservadora. Assistente penitenciário especializado em preparar condenados à morte, tenta legar ao filho a força que seu próprio pai sempre dele cobrou, afinal de contas, homens não podem chorar, fraquejar, vacilar, isso nas leis do pré-histórico tempo no qual até o racismo era visto como algo normal. Interessante como numa das primeiras cenas de A Última Ceia, mesmo sem concordar com o ideário segregador do pai, Hank dá pequeno espetáculo assustando crianças negras, de arma em punho. O patriarca vê tudo da janela, orgulhoso do rebento à sua aparente imagem e semelhança.

O episódio no qual Sonny (Heath Ledger), filho de Hank, titubeia levando certo homem à cadeira elétrica provoca torvelinho de sentimentos que explode em briga e acaba em morte, mais precisamente suicídio. Cena brutal, seca e bem coerente com o registro adotado por Marc Forster em A Última Ceia. Aliás, a aridez utilizada para delinear personagens e suas motivações de certa forma amplifica uma sensação de abandono primal, como se realmente estivéssemos sós no mundo. E isso é reforçado quando esquadrinhamos Letícia, papel de Halle Berry (ela venceu o Oscar com esse trabalho), massacrada constantemente por tragédias, primeiro a do marido eletrocutado, depois a do filho atropelado.

Findos os episódios cruéis, restará a Hank e Letícia juntar forças para o recomeço. E essa nova chance é originada na mais bela cena do filme, quando a mulher pedirá com desespero que o homem lhe conceda alguns momentos de prazer, resultando num sexo excitante, libertador e catártico. Forster conduz a sequência com muita inteligência, fazendo uso de cortes secos, alternando planos abertos/médios e usando montagem truncada para justamente impactar com o simbolismo do ato que levará os participantes ao gozo. Ali, encerrados no corpo do outro, ele desperta da inércia e ela encontra conforto.

Nada é futilmente belo em A Última Ceia. O filme dispõe-se a mostrar lados obscuros aflorados para depois, bem à moda da boa arte, apontar caminhos possíveis sem aferrar-se aos mesmos como tábua de salvação ou idealizá-los para além da necessidade. Os sujeitos podem até buscar redenção (afinal são humanos), mas parecem resignados frente à impossibilidade de encontrar emplastro definitivo a feridas que nunca cicatrizarão, quando muito irão doer um pouco menos. Marc Forster conta, além do próprio talento, com dois atores em estado de graça, Billy Bob Thornton e Halle Berry, cujos tipos são representantes de Américas aparentemente distintas, mas logo cientes do que os aproxima enquanto gente.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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