Crítica
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Sinopse
Crítica
Na primeira tomada de A Última Chance temos o protagonista, Fábio (Marco Pigossi), sendo libertado da prisão após cumprir pena em virtude de seu envolvimento com a bandidagem da Villa Kennedy, no subúrbio do Rio de Janeiro. Nem bem ele bota os pés para fora do cárcere, e já existem demandas para seu retorno à marginalidade, embora haja vontade de regeneração. Estamos, inequivocamente, num terreno conhecido de celebração da força de vontade, do elogio à volta por cima e à capacidade de transformação. Contudo, a mão pesada do veterano cineasta Paulo Thiago, entre outras coisas, trata de dirimir a potência e até a abrangência desse relato baseado em fatos. A direção de arte, responsável por uma caracterização pífia do local de reunião dos bandidos da comunidade, por exemplo, e o alinhave frouxo dos episódios que marcaram a vida do cinebiografado, são apenas alguns dos problemas evidentes do longa-metragem. Mas, nenhum dos demais elementos é tão falho quanto o roteiro e a encenação.
Determinadas cenas chegam a beirar o risível em sua tentativa de denotar gravidade ou importância. A descoberta fortuita de Fábio da academia de Muay Thai, durante a tentativa de assalto a uma agência lotérica, é simplesmente artificial, infelizmente marcando um tom recorrente em A Última Chance. Falta espessura dramática ao registro das passagens mais relevantes da vida do sujeito que rapidamente se converte num lutador promissor. O realizador não parece particularmente interessado em mostrar o caminho árduo que leva um iniciante a chegar a vencer um cinturão importante. Paulo Thiago se vale dos saltos temporais para abreviar os percursos, deixando buracos significativos numa caminhada reduzida emocionalmente. São diversos os problemas enfrentados por Fábio, desde a resistência do pai de sua amada, interpretada por Juliana Lohmann, aos encantos da criminalidade, com suas promessas de ganhos polpudos e rápidos, algo que pesa ao esportista sem apoio financeiro.
A trilha sonora de A Última Chance é um capítulo à parte. Especialmente as músicas escolhidas para embalar as lutas são absolutamente anticlimáticas, pois retiram o peso e a vibração dos embates capitais no ringue. Aliás, a coreografia das lutas é trôpega, sem energia suficiente. Marco Pigossi bem que tenta dar vida a um personagem multifacetado, reincidente no crime sempre que a situação financeira aperta, a despeito de seus esforços e vontades. Todavia, o filme se ressente da ausência de uma condução mais focada, sem tantas dispersões e incongruências. A desconfiança do sogro, instância acessada diversas vezes, se dissipa na telona como num passe de mágica. O acúmulo de dinheiro permitido pela entrada num esquema ilícito de receptação de carros tampouco motiva a estranheza da família, especialmente a da esposa. Personagens vão ficando pelo caminho, padecendo de inanição, caso da avó e da mãe de Fábio. Na confusão estabelecida, o drama esportivo acaba soterrado.
Há uma romantização praticamente ingênua em A Última Chance. O registro da visita íntima, com um traveling deflagrando outros casais em pleno coito, é um bom sintoma desse traço sobressalente da produção. A participação de Erom Cordeiro, como o melhor amigo de Fábio, é quase meramente ilustrativa, já que ao seu personagem é restrita a missão de ser uma espécie de voz da consciência, sem qualquer subjetividade. Soma-se aos momentos engessados a sequência em que o protagonista leva um tiro da polícia, conseguindo, mesmo assim, escapar do efetivo com um ferimento quase mortal, e sendo capturado, convenientemente, após uma discussão com a namorada decepcionada. Paulo Thiago esvazia a trajetória de redenção de Fábio exatamente por apostar em lugares-comuns, como na cena excessivamente melodramática do ex-campeão dormindo alcoolizado e drogado sobre sacos de lixo. Perseguindo desajeitadamente as óbvias lições, o cineasta cria algo bastante falho.
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