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Sinopse

Ainda adolescentes, o libanês Tarik e seu irmão mais novo, Karim, vêm tentar a vida no Brasil. No navio, fazem amizade com outros meninos árabes e sírios. Mais de meio século depois, Tarik perde a mulher e decide cumprir algumas promessas. Parte, na companhia da filha Samia, em busca dos ex-amigos que fizeram com ele a travessia, 51 anos antes. Cada parada revelará uma verdade fabulosa de mais de 1001 noites.

Crítica

O Brasil é o país do futuro. Esta afirmação, que serviria em momentos distintos como slogan e zombaria, deve ter sido inicialmente proferida por um imigrante. O futuro não está em parte alguma. Ele é apenas o conteúdo de uma promessa. E foi com um punhado de palavras que os irmãos libaneses Tarik e Karim deixaram a terra natal ainda meninos, em 1950. O rumo era o Brasil – se não a terra prometida, a terra possível. A Última Estação é o primeiro filme em que o produtor Marcio Curi assina a direção. Anteriormente, codirigiu com Yanko Del Pino A TV que virou estrela de cinema (1993) e foi produtor de uma série de trabalhos, em especial no premiado Filhas do Vento (2004). A estreia em um projeto solo apresenta qualidades pontuais e significativas em meio a um filme que pede para ter suas arrestas aparadas.

A bordo do navio que descortinará o novo mundo, os irmãos tornam-se amigos de outras crianças na mesma situação. A infância passa. Os caminhos afastam pessoas queridas e aproximam desconhecidos. Após a perda da mulher, em 2001, Tarik (em boa interpretação de Mounir Maasris) percebe que está na ora de reencontrar parte do que fora. Há uma série de promessas a cumprir. Para isso, porém, precisa atravessar o país na companhia da filha Samia (Klarah Lobato) e revisitar velhos conhecidos. O tema sensível sustenta, em boa medida, os problemas de percurso do longa.

A jornada de Tarik e Samia é um passo complementar a filmes como Tempos de Paz (2009) ou Gaijin: Caminhhos da Liberdade (1980). A narrativa de A Última Estação não se foca em apresentar as dificuldades iniciais dos imigrantes. O núcleo dramático está voltado à perspectiva singular destes homens desterrados, que muito tempo depois de deixarem o seu país ainda o mantém vivo. Vivo e ausente, pois quis o destino que lhes fosse imposta a necessidade de estar, ao mesmo tempo, em casa e longe do lar. O paradoxo confunde-se com a vida e, como tudo, mostra-se irreversível. Neste aspecto, Curi foge positivamente do traçado esperado. Ainda que a dimensão pessoal esteja presente na obra, o compromisso de Tarik não se resume a encontrar-se consigo próprio, mas representa a comunhão de um homem com a sua cultura; a vida, que se um aleatório jogar de dados, vista também como um compromisso com as palavras e com as pessoas.

O plano humano do filme, de valor inquestionável, é elevado por dois destaques técnicos: a direção de arte, de Moacyr Gramacho, e a fotografia competente de Krishna Schmidt. O trabalho de Gramacho permanece irretocável do começo ao fim do longa. O primeiro e boa parte do segundo atos, por sua vez, são um cenário para a amostra da qualidade de Schmidt. A escolha dos planos e o movimento da câmera demonstram um trabalho esmerado, com momentos acima da média. Surpreende que a partir do segundo ato, por decisão do diretor de fotografia ou do diretor, haja uma visível mudança na gramática das cenas. Os planos tendem a ser mais abertos e se alongar, diminuindo a evolução do filme. O uso de câmera subjetiva tampouco se mostra útil, a não ser na boa sequência de Tarik em busca de Samia, durante os festejos públicos. Embora não comprometa de forma grave, a montagem de Dirceu Lustosa é regular, excede no recurso de fade-out e não resolve bem determinadas transições. O roteiro de Di Moretti (Latitude Zero, 2001) prima pela fluência dos diálogos com eventuais elementos humorísticos.

O problema de Moretti, e do filme de Curi, no geral, é alongar-se. Boa parte dos flashbacks é desnecessária e, enquanto recurso didático, devem ser usado apenas em casos extremos. Há uma série de cenas que desconcentra a narrativa sem utilidade ilustrativa ou sem auxiliar na criação de um segundo núcleo dramático. O terceiro ato, por exemplo, está farto delas, como as cenas passadas no Líbano. Temos a impressão que Curi temeu pela não compreensão do espectador. Procurou, então, acentuar situações, sentimentos e os desdobramentos da narrativa. Temeu em demasia. Resultou, no entanto, em um eixo final repetitivo e cansativo, o qual impediu o filme de sair leve e dinâmico.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação dos Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul, e da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Tem formação em Filosofia e em Letras, estudou cinema na Escola Técnica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Acumulou experiências ao trabalhar como produtor, roteirista e assistente de direção de curtas-metragens.
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