A Última Loja de Consertos
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Kris Bowers, Ben Proudfoot
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The Last Repair Shop
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2023
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EUA
Crítica
Leitores
Sinopse
Homens e mulheres heroicos estão decididos a não deixar nenhum aluno privado da alegria da música, especialmente aqueles que têm um cotidiano atravessado pela miséria.
Crítica
Neste curta-metragem indicado ao Oscar 2024, a tal loja de consertos, o sujeito do título, é um ambiente onde convergem diversas histórias inspiradoras. Para contexto, estamos falando de um local em Los Angeles, nos Estados Unidos, que providencia o reparo gratuito de instrumentos musicais anteriormente disponibilizados a alunos de escolas públicas. Portanto, os homens e a mulher que trabalham nesse local (aberto desde 1959) prestam um serviço muito importante a essa comunidade estadunidense. Dana Atkinson, Paty Moreno, Duane Michaels e Steve Bagmanyan são os servidores transformados em protagonistas, não tanto por conta da atividade em si, mas pelas histórias de vida que, uma vez somadas, criam a noção de que a música pode ser salvadora. Em A Última Loja de Consertos, Dana fala da jornada para se assumir homossexual e como a arte foi fundamental à sua autoaceitação; Paty é a imigrante mexicana que sustenta sozinha a família há anos com essa ocupação; Duane afirma que passou de “esquisito” a bem-sucedido na música; e Steve Bagmanyan é o refugiado que venceu em virtude da devoção à arte.
A Última Loja de Consertos alterna os vários depoimentos emocionados dos protagonistas com testemunhos (às vezes também lacrimosos) de crianças que igualmente encontraram um terreno seguro na música – elas são beneficiadas pelo trabalho apaixonado e apaixonante de Dana Atkinson, Paty Moreno, Duane Michaels e Steve Bagmanyan. Os diretores Kris Bowers e Ben Proudfoot procuram valorizar essas histórias de vida, mas acabam incorrendo num discurso superficial de autoajuda pela maneira como articulam as falas em prol da sensação esperançosa. Dentro de um esquema muito fechado de “adultos falando da superação das adversidades e crianças reafirmando o poder da música com as próprias experiências”, não há espaço, por exemplo, para o desenvolvimento de algumas trajetórias curiosas, como a do músico Duane Michaels. Ele chegou a abrir show de Elvis Presley antes de se tornar um prestador de serviço valioso para a comunidade de Los Angeles. Não há nuances no modo como as experiências pessoais são desenhadas individualmente, pois elas estão a serviço de uma ideia geral bem clara.
E qual ideia geral seria essa? A de que a música e, por conseguinte, a arte podem operar verdadeiros milagres na vida das pessoas, auxiliando inclusive nos momentos de maior angústia individual. Ela é o bálsamo que alivia as dores existenciais, o curativo que preserva as feridas do mundo até elas sararem, o meio pelo qual é possível almejar alguma ascensão econômica e social, entre outras coisas que ficam entendidas e subentendidas nas entrelinhas das falas de todos. Não há nenhum problema com uma celebração tão rasgada como essa, senão a queda na armadilha que sequestra as emoções em A Última Loja de Consertos: a do sentimentalismo raso. Emoldurando os relatos com uma trilha sonora propensa ao choro, os realizadores cruzam a sempre perigosa linha entre provocar gradualmente a comoção do espectador e insistir numa ideia até que ela supostamente tenha força suficiente para gerar o engajamento emocional. Então, Kris Bowers e Ben Proudfoot não vão muito além de construir o cenário propício para que tenhamos a experiência edificante, daquelas que certamente podem embargar a voz de alguns.
No entanto, como se trata de uma tarefa da crítica a tentativa (às vezes vã) de compreender como o discurso é elaborado, é preciso perceber que Kris Bowers e Ben Proudfoot barganham de modo sentimentalista a partir das histórias que apresentam como exemplos de vida. Nesse sentido, a tal loja de consertos e sua importância ao ecossistema escolar menos abastado de Los Angeles acaba se tornando uma nota de rodapé, algo muito mais tratado como desculpa para estabelecer pontes entre os depoentes adultos e os infantis do que necessariamente enquanto um símbolo da relevância das oportunidades. As trajetórias de Dana Atkinson, Paty Moreno, Duane Michaels e Steve Bagmanyan são absolutamente inspiradoras, afinal de contas estamos falando de pessoas em algum momento marginalizadas que encontraram na arte a salvação. Porém, o problema aqui não é o conteúdo, mas a forma, a maneira como a dupla de cineastas registra essas pessoas, como se elas pudessem ser restritas àquilo que restou de uma equação em que a música subtrai sofrimento da realidade. Certamente, os quatro são mais do que isso.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Marcelo Müller | 5 |
Chico Fireman | 5 |
Celso Sabadin | 7 |
MÉDIA | 5.7 |
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