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Sinopse

Depois de anos de muito sucesso, um famoso programa de rádio chega à sua última transmissão. Nos bastidores, equipe e elenco vivem emoções intensas diante de um fim iminente e inevitável.

Crítica

No dia 06 de julho de 1974, foi ao ar pela primeira vez o programa radiofônico A Prarie Home Companion, executado ao vivo no teatro do Colégio St. Paul, em Minnesota, para uma audiência de apenas 12 pessoas. Se esse começo não foi nada auspicioso, logo a vontade de conferir artistas, cantores, performers e locutores desempenhando em conjunto e ao mesmo tempo foi se manifestando entre o público, que aos poucos foi crescendo o suficiente para que o programa continuasse no ar. E se esse desempenho surpreendeu a muitos, provavelmente o mesmo não ocorreu com Garrison Keillor, idealizador do projeto. Tanto que, trinta anos depois, ele se reuniu com o aclamado Robert Altman para, juntos, realizarem a adaptação cinematográfica do show, apropriadamente batizada no Brasil como A Última Noite.

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Quer dizer, o título local se revelou acertado, quase numa questão profética, para o diretor, pois este foi também seu longa derradeiro – exibido pela primeira vez em fevereiro de 2006, durante o Festival de Berlim, chegou aos cinemas comerciais dos Estados Unidos em 9 de junho do mesmo ano. Por aqui, a estreia aconteceu somente em 3 de novembro, sendo que Altman viria a falecer, aos 81 anos, no dia 20 do mesmo mês. Um adeus triste, melancólico, que felizmente não encontrou repercussão na ficção. Muitos dos seus filmes continuam hoje em dia mais atuais do que nunca, ao mesmo tempo que A Prarie Home Companion segue na ativa, apresentando-se regularmente já há mais de quatro décadas!

Assim como na maioria dos seus trabalhos anteriores, Altman aqui aproveita-se de uma situação para desenhar um cenário de relações e sentimentos, preocupando-se mais com os personagens e as interações entre eles do que em narrar uma história de modo convencional, com início, meio e fim. Tanto que, quando nos deparamos com essa companhia de rádio pela primeira vez, já estamos em seu último dia – ou noite. Há anos apresentando-se no mesmo local e com fãs fiéis, o local foi recentemente adquirido por uma grande corporação, que prevê maiores possibilidades de lucro colocando o prédio abaixo e transformando-o em um estacionamento, ou algo similar. Assim, neste momento final, o grupo se reúne para a performance de suas vidas, abandonando não apenas sua arte e talentos, mas também um modo de ser.

Altman é cuidadoso com os retratos que estabelece. Yolanda (Meryl Streep, muito à vontade) e Rhonda Johnson (Lily Tomlin, no mesmo tom que lhe é característico) são as irmãs cantoras que sempre esperaram por uma melhor oportunidade. A primeira é melhor desenvolvida, apostando na filha (Lindsay Lohan, que curiosamente não destoa do resto do elenco) como continuidade do seu trabalho, ao mesmo tempo em que ressente as más decisões do passado (como o envolvimento fugidio com o apresentador, por exemplo). Este, vivido pelo próprio Garrison (em sua estreia e, até hoje, única atuação no cinema), repete em cena o mesmo papel que muitas vezes desempenhou no palco – e nas ondas sonoras. Seguro de que é não mais do que um entertainer, se recusa a admitir o fim de tudo. “É apenas mais um show, é apenas mais uma noite”, diz a todos que exigem dele algum tipo de reação, um discurso ou mesmo uma lágrima.

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Há ainda a dupla caipira (Woody Harrelson e John C. Reilly), o velho cantor country (L. Q. Jones), a produtora estressada (Maya Rudolph), a vendedora de sanduíches (Marylouise Burke), o agente atrapalhado (Kevin Kline), o emissário das más notícias (Tommy Lee Jones) e a Mulher Perigosa (Virginia Madsen, talvez a melhor em cena, por oferecer com precisão o carinho e a impiedade que seu misterioso personagem carrega). É um conjunto do passado, ser estranho de eras passadas que luta para sobreviver em apostas ilusórias e destinos meramente imaginados. Robert Altman tem apreço por todos, e os envolve com atenção e delicadeza. No entanto, a voz que irá ressoar mesmo após as luzes se apagarem será a de Garrison, lembrando a todos que esta foi apenas mais uma noite, mesmo que diferente de todas as outras.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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