Crítica
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Sinopse
Na véspera de ser executado por um crime não cometido, um russo recorda toda sua vida, desde criança, passando pelo alistamento forçado para defender o país de uma invasão, chegando a quando se transformou em herói. No entanto, sua situação sofre uma guinada, pois ele casa com uma mulher que deseja matar Napoleão.
Crítica
Em franca evolução desde Tudo o Que Você Sempre Quis Saber Sobre Sexo, Mas Tinha Medo de Perguntar (1972), Woody Allen chegou ao ápice do seu texto cômico nonsense em A Última Noite de Boris Grushenko, seu último trabalho desta vertente. Estrelado novamente pelo próprio diretor ao lado de Diane Keaton, o longa-metragem lançado em 1975 tem um texto afiadíssimo, lembrando bastante o estilo literário do cineasta, que publicou em 1971 o livro de contos Cuca Fundida e em 1975, Sem Plumas. Ou seja, os personagens sempre têm uma referência literária na ponta da língua e os diálogos são cheios de expressões filosóficas – muitas vezes rebuscadas ao extremo de propósito, causando riso pelo nível de masturbação mental dos protagonistas.
Com roteiro de Woody Allen, A Última Noite de Boris Grushenko é o primeiro filme de época do cineasta. Ambientada na Rússia durante as guerras napoleônicas, a história tem como protagonista o medroso Boris (Allen), um homem apaixonado pela bela Sonja (Keaton) que, por sua vez, só tem olhos para Ivan (Henry Czarniak), irmão de Boris. Ivan, no entanto, não nutre sentimentos por Sonja, fazendo com que a moça se veja obrigada a casar com um vendedor de arenque. Quando a guerra é deflagrada, os russos estão sedentos pela luta – menos Grushenko, que é um pacifista inveterado. Obrigado a ir a combate, Boris terá de se empenhar para sobreviver em um conflito perigoso – com o agravante de pensar em Sonja constantemente. O título original de A Última Noite de Boris Grushenko, Love and Death, é muito mais apropriado para esta produção. Afinal de contas, Amor e Morte são os temas centrais deste longa-metragem. Ainda muito voltado para a temática sexual, Woody Allen cria personagens que são movidos pelo desejo. Portanto, se Sonja pula para a cama de qualquer homem que passa a sua frente e se Boris acaba envolvido em um duelo por ter se engraçado com a sensual condessa Alexandrovna (Olga Georges-Picot), isso só prova o quanto o sexo é colocado acima de tudo pelos protagonistas.
Em sua terceira parceria à frente das câmeras, Woody Allen e Diane Keaton têm uma perfeita química. Allen novamente dá ótimas piadas e gags para sua parceira de elenco, não temendo em momento algum que sua co-protagonista o ofusque. A narrativa inclusive chega a se desviar de Grushenko por alguns instantes, nos mostrando o que se passa com Sonja e seu casamento. O destino acaba aproximando os dois novamente e este encontro tem potencial para mudar completamente os rumos da guerra, já que o casal acaba orquestrando um plano para assassinar Napoleão, vivido de forma divertida por James Tolkan. Essa mistura entre ficção e história é apenas uma desculpa elaborada para Woody Allen fazer o espectador rir. Seja com o texto, seja com cenas de puro humor visual ou físico, A Última Noite de Boris Grushenko chega a esse seu objetivo, mesmo que exija um pouco mais do público, comparado a trabalhos como Um Assaltante bem Trapalhão (1969) e Dorminhoco (1973). Além de injetar no texto diversas referências à filosofia, Woody Allen faz uma verdadeira homenagem a autores russos como Dostoyevski e Tolstoi, citando personagens e suas obras, com direito até a frases retiradas da literatura russa. Quem conhece e entende estas referências pode se divertir. Do contrário, podem passar batidas.
Se em uma das esquetes de Tudo o Que Você Sempre Quis Saber Sobre Sexo, Mas Tinha Medo de Perguntar, Woody Allen pagava tributo ao cinema italiano, trazendo à baila referências a Antonioni, Monicelli e Fellini, em A Última Noite de Boris Grushenko, o cineasta presta homenagem a outro de seus heróis: Ingmar Bergman. Allen não se atém apenas a trazer referência textual de alguns filmes do cineasta sueco, mas inclui até imitações de alguns planos bem interessantes – como os perfis sobrepostos de Persona: Quando Duas Mulheres Pecam (1966) e a presença da morte em pessoa como em O Sétimo Selo (1957). Além disso, temos ainda citações a Sergei Einsentein – que não poderiam faltar já que o filme se passa na Rússia – e a gênios do cinema mudo como Charlie Chaplin e os irmãos Marx. A Última Noite de Boris Grushenko conta ainda com uma trilha sonora escolhida a dedo por Woody Allen, que dá um tom ainda mais bem humorado – e um tanto onírico – para as trapalhadas do personagem título. Melhor filme da primeira fase do cineasta, o longa-metragem parecia ser difícil de ser suplantado. Até que apareceu uma tal de Annie Hall tirando tudo do lugar.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Rodrigo de Oliveira | 8 |
Robledo Milani | 6 |
Chico Fireman | 7 |
Ailton Monteiro | 6 |
Francisco Carbone | 8 |
Cecilia Barroso | 8 |
MÉDIA | 7.2 |
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