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A Última Vez Que Vi Macau
Crítica
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Sinopse
Guerra da Mata recebe um e-mail de uma amiga que não tinha notícias há muito tempo, avisando que ela havia partido para Macau. Ela contava ainda que mais uma vez tinha se envolvido com os homens errados, mas dessa vez as consequências foram mais graves: Um grande amigo seu havia sido assassinado durante um jogo aparentemente inofensivo. Depois disso, ela sentia que coisas estranhas e misteriosas estavam acontecendo e pressentia ser a próxima vítima. Uma ficção com alguns elementos de documentário que trata do confronto entre a atualidade e a memória de Macau da década de 70.
Crítica
Caso você não desperte o passado, alguém o fará por você. Essa é a sensação de João ao receber o email de Candy. Moradora de Macau, a velha amiga necessita de ajuda; ajuda que somente poderia vir das mãos do protagonista.
João vive em Lisboa, mas parte de sua infância pertence à ex-colônia portuguesa. O chamado da amiga o leva a rumar em direção ao oriente, pois os caminhos legítimos são insuspeitados. A percepção adulta, porém, é implacável. As lembranças faziam parte do menino que agora enxerga a realidade de cima, junto ao ressoar das experiências que a tudo impregnam. Não à toa Macau pareceu-lhe uma metrópole fria e distante. Por certo, pois já não havia nada de seu na cidade; nada além de Candy.
No decorrer do seu desenvolver, A última vez que vi Macau coloca em curso uma trama híbrida. Há elementos de ação – salvar a vida de Candy – de suspense – não saber ao certo o que a ameaça – e de documentário – algo rememorativo, algo de homenagem. A direção assinada em conjunto por João Rodrigues e João da Mata (este morou em Macau) consegue compor um gênero de características particulares, com um resultado positivo a ultrapassar o próprio conteúdo.
É bem possível que a primeira impressão aproxime o filme do estranhamento do ótimo Encontros e Desencontros (2003). As coincidências estão aí para serem encontradas: a cidade desconhecida, a potência sugestiva das luzes noturnas, o idioma impenetrável, etc. Aos poucos, porém, surge a personalidade que é tão marcante de a A última...: a presença da ausência. A ausência inicial será a do próprio protagonista. O sujeito que acompanhamos durante 85 minutos jamais mostrará a face. De uma só vez, seremos íntimos e estranhos, ou como aquele que se envergonha ao compartilhar um segredo, uma fraqueza. Íntimos e estranhos, também, como a própria cidade de Macau é para o João adulto. A câmera fria e distante atua de forma igualmente peculiar. O quadro registra menos o presente do que o presente enquanto memória. São frames e quadros que seriam secundários em um filme convencional, mas que aqui se tornam tributos ao lembrar, vago, impreciso, muitas vezes completamente corruptível e artificial. O espectador atento perceberá ecos da obra de Alain Resnais, especialmente Hiroshima meu amor (1959) e O ano passado em Marienbad (1961).
Em um dos primeiros momentos do protagonista em Macau, é preciso conseguir informação sobre onde fica determinada rua. As tentativas são todas em vão. João percebe, então que os quatro séculos de colonização portuguesa não significaram nada. Melhor: significaram muito, mas que significar muito não garante permanência. Compatriotas abriram ruas e deram nomes a colégios, lojas e praças. Contudo, mesmo o que é mais importante, o que parece estar seguro pelo concreto e pelas vigas se esvai com o tempo. O que resta não é um busto ou a memória – deturpadora infame – mas o significado daquilo que se quer manter.
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