Crítica
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Sinopse
Rosa vive num apartamento escuro, constantemente fechado, no qual cultiva memórias e objetos obsoletos. Seu vizinho Marcelo, por sua vez, é um estudante sem grana. Esses dois universos distintos se misturam.
Crítica
A trama de A Velha dos Fundos não foi elaborada pensando no público que hoje em dia frequenta em massa as salas de cinema: jovens e adolescentes. Apesar de contar com um personagem dessa faixa etária como um dos protagonistas. Essa história, sobre uma senhora solitária que decide dar abrigo a um estudante universitário sem recursos, provoca muito mais ressonância no espectador adulto, que já passou pelo que o rapaz está vivendo e teme se encontrar, num futuro não muito distante, no lugar onde esta mulher vive. O foco aqui é o mesmo apontado por outra produção argentina recente – e que atinge resultados mais efetivos – Medianeras: Buenos Aires na Era do Amor Virtual (2011): a solidão de quem vive nas grandes cidades e não é feliz em suas tentativas de estabelecer vínculos com seus colegas, vizinhos ou meros conhecidos. São cidades cada vez mais populosas povoadas por pessoas cada vez mais distantes umas das outras. E se a tentativa que aqui presenciamos possui suas falhas, ao menos contém o registro de uma análise a respeito.
O cinema cada vez mais é um lugar para extravasar emoções momentâneas e menos para dar espaço ao raciocínio e à reflexão. A audiência moderna está tão acostumada a receber tudo tão mastigado e formatado que quando surge uma proposta minimamente diferenciada ela é imediatamente recebida com rechaço e negação. Pois é exatamente o que acontece com A Velha dos Fundos, um filme repleto de silêncios, espaços e vazios. Muito pouco acontece em seus mais de 100 minutos de duração. E mesmo o que se passa pouco significa. Sua verdade está escondida, e temos vislumbres dela em olhares, gestos inquietos e decisões arrependidas. Vai se formando aos poucos, e é preciso paciência e dedicação para percebê-la por completo.
Marcelo (Martín Piroyansky) veio do interior para estudar Medicina em Buenos Aires. Filho de camponeses que trabalham numa fazenda devastada pela seca, o garoto logo fica sem ajuda da família e, deste modo, sem ter como se sustentar na capital. Ele quer ser alguém, melhorar de vida, mas há pouco a ser feito. No dia em que fecha o apartamento que aluga e decide retornar ao campo, fica preso no elevador com a vizinha, uma senhora idosa que mora sozinha. Ao saber do drama que ele enfrenta, não hesita e o convidar para morar com ela. Mas com uma condição: está cansada de estar sozinha, e quer alguém para conversar no final do dia. E ela irá cobrar esse acerto.
Um dos principais méritos de A Velha dos Fundos é a escolha da ótima Adriana Aizemberg para o papel-título. Estrela de obras de destaque do diretor Daniel Burman (como O Abraço Partido, 2004, e As Leis da Família, 2006), ela confirma aqui também uma frutífera parceria com o cineasta Pablo Meza, após o elogiado Buenos Aires 100 km (2004). Grande dama da interpretação argentina, Aizemberg compõe uma personagem repleta de nuanças, que desperta tanto pesar pela sua condição como entendimento sobre como ela chegou até o ponto em que se encontra. Partilhamos de sua dor, ao mesmo tempo em que compreendemos como chegou a ser a pessoa que é quando a encontramos. E é nisso que esse pequeno filme, co-produção entre a Argentina e o Brasil, se destaca: muito mais pelo não dito do que pelo que fica explicitado na tela.
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