Crítica
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Sinopse
Diane é uma viúva com mais de setenta anos cuja vida é ditada pela necessidade dos outros. Passa seus dias levando comida para moradores de rua, visitando amigos no fim de suas vidas e tentando desesperadamente se conectar com o filho viciado em drogas. Conforme vai perdendo essas peças da sua existência, se vê obrigada a olhar para si e confrontar a própria identidade.
Crítica
Diane (Mary Kay Place) é apresentada ao espectador, em A Vida de Diane, como uma mulher altruísta, disposta a sacrificar a própria paz, se necessário, para preservar a de outrem. Isso pode ser visto no plano familiar, pela forma como se esforça para não deixar sozinha a prima Donna (Deirdre O'Connell), internada no hospital local por força de um câncer agressivo, e na tenacidade com a qual lida com o filho dependente químico. Tal característica também aparece no voluntariado na instituição que oferece comida aos desvalidos. Esquecida de salvaguardar-se, a protagonista é desenhada a partir daquilo que proporciona aos que dela precisam. Durante boa parte da trama, meramente reage às circunstâncias, suavizando o pesar da parenta que demonstra amar-lhe e regressando à casa de Brian (Jake Lacy) mesmo a contragosto deste, que a hostiliza. Ao largo, o cineasta Kent Jones tece uma singela trama de apoio, com os familiares e amigos caros à senhora.
Contraponto a interpretação sensível de Mary Kay Place, atriz que faz de sua personagem alguém cuja bondade é quase obliterada pelas feiuras do mundo, Jake Lacy força a mão na construção do jovem que demonstra aversão a ser ajudado. O ator não é prejudicado exatamente pelos estereótipos acessados no decurso do enredo, mas pela própria incapacidade de expor eventuais minúcias. Brian está em cena, a princípio, para ser apenas a pedra no sapato sobre a qual todos alertam a sua mãe, não indo muito além disso mesmo quando, adiante, passa por uma transformação radical e chega a se abrir espontaneamente acerca de fantasmas vultuosos do passado. A encenação de A Vida de Diane, empenhada em tornar orgânica a convivência da protagonista com os seus, intento contemplado por um elenco majoritariamente intenso, emperra nessa figura essencial que, constantemente, resvala numa caricatura sem tanta subjetividade. Tal ruído faz mal ao filme.
Em A Vida de Diane o acúmulo interno de estilhaços beira o insuportável, circunstância alimentada pelas batalhas evidentes que a protagonista trava contra a dor dos outros. Amparada por amigas e tias mais velhas que, no entanto, têm idades próximas às suas por serem as caçulas da numerosa geração anterior, Diane intimamente refuta amparo com frequência, encarando solitária a via crúcis. Somente quando um coadjuvante menciona a semelhança dela com uma conhecida que, igualmente, parecia se punir para compensar pecados do passado é que o filme começa a dar respostas, não sem antes incorrer em elipses abruptas que modificam o rumo da trama inadvertidamente. A culpa se avoluma com o transcorrer do tempo, algo fadado a explodir à frente. Ainda que Kent Jones evite gerar instantes melodramáticos, que a carga emocional permaneça condensada nos não ditos e nas impossibilidades, o ato de verbalizar aqui é vital. Há nisso um contrassenso.
Outro exemplo dessa submissão à exposição oral, sobretudo pelo desequilíbrio entre a rarefação e a explicitação, é a questão do vício substituto. Brian muda de objetos de compulsão, tirando a droga de cena e colocando a religiosidade. É, novamente, quando certo personagem fala que isso plenamente faz sentido, especialmente porque Kent Jones não investe numa observação suficientemente densa para que cheguemos a tal conclusão que, depois, soa praticamente óbvia. A Vida de Diane alterna de modo claudicante a sensibilidade com que trata temas delicados – ainda que não consiga desvencilhar-se de demonizar o sujeito viciado em drogas ilícitas, para isso observando o calvário materno de perto –, com a dependência de expedientes simplórios que desatam determinados nós. Há um clima de inevitabilidade no ar, de que as coisas nunca serão plenamente satisfatórias. Pena o diretor não apostar na radicalização desse desalento que paira.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Marcelo Müller | 6 |
Roberto Cunha | 7 |
Chico Fireman | 6 |
MÉDIA | 6.3 |
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