Crítica
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Sinopse
Na aldeia esquecida por Deus de Desperata, no sul da Itália, o prefeito Filippo Pisanelli tem plena certeza de que está na profissão errada. Para aliviar sua depressão, usa seu amor pela poesia para dar aulas acaloradas a presos, sendo esta a única coisa que o faz manter-se no posto. Porém, um encontro dele e de outros companheiros com a arte mudará suas vidas completamente.
Crítica
Misturar máfia e comédia não é nada inédito no cinema (quem não lembra de Máfia no Divã, 1999?), mas, no cinema italiano, o buraco é mais embaixo.Não são poucos os filmes daquele país que se aventuram a um clima mais leve quando decide falar de crimes de grupos e famílias que dominam alguma região, ainda que nem todos se destaquem por saber dosar a equação de drama e risadas por trás da história. Ainda que com ressalvas, A Vida em Família, de Eduardo Winspeare, consegue este feito, principalmente por tocar na relevância do assunto como crítica social.
Na primeira cena é possível entender onde o diretor quer chegar ao retratar uma ação quase que banal, mesmo que inusitada e trágica: um assalto em um posto de gasolina na cidadezinha de Disperata termina mal. Um dos ladrões, Pati (Claudio Giangreco) mata um cão e é levado para a prisão. Do lado de fora do presídio, seu irmão, Angiolino (Antonio Carluccio), ensina o sobrinho, Biagetto (Davide Riso), a arte do crime. Tudo converge para o prefeito Filippo Pisanelli (Gustavo Caputo), que dá aulas de literatura aos prisioneiros para se esquivar da pressão de administrar a região e da desconfiança dos moradores.
Internacionalmente o filme também ganhou outro título, algo que em tradução livre seria A Arca de Disperata, uma alusão à ideia do prefeito que gostaria de proteger os animais com uma espécie, bom, de arca mesmo. E talvez seja justamente esse um dos pontos fracos do filme, que lança esta referência bíblica de forma literal, mas nunca a desenvolve por completo, servindo mais como uma metáfora à salvação do próprio ser humano. Talvez por isto a ligação telefônica do Papa no meio da trama seja tão importante para o desenvolvimento dos personagens em busca de segundas chances. A sempre presente culpa católica, tão ferrenhamente arraigada nos italianos, transborda a partir de então.
Sem humor rasgado (com apenas uma ou outra sequência bonachona), Winspeare encontra equilíbrio na comédia e no drama ao humanizar seus personagens – este, aliás, os grandes trunfos do filme. Sem a redenção de cada um deles, o roteiro se tornaria sem alma ou escapista, mas há uma profundidade sobre a existência do ser humano que vai além da simples crítica à banalização do crime na Itália ou sobre a incompetência das autoridades que deveriam controlá-lo. É bonito ver Pati, traumatizado por matar um animal, se apegar à poesia para escrever sobre nada menos que o cão morto. Da mesma forma, é notável o quão bem intencionado é o prefeito, ainda que realmente não saiba lidar com algo tão pesado como a administração pública. Ele parece ser um encantador de almas torturadas quando fala sobre livros e autores para os presos.
É nas belas imagens que fotografam o sul da Itália que Winspeare também encontra outra forma de aludir à condição humana. Uma região rica em belezas naturais, bucólicas, que transformam o trio de protagonistas em sua essência, como se o autor dissesse "ei, é preciso que o homem lembre de suas origens para evoluir". Uma mensagem que ora é eficiente, em outras, excessivamente expositiva. Porém, nada que tire o prazer de um feel good movieà italiana, como é o caso deste A Vida em Família. Um filme que olha com coração para os mais desafortunados da crise econômica que assola o país. Algo que deveria acontecer com mais frequência.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Matheus Bonez | 6 |
Robledo Milani | 6 |
MÉDIA | 6 |
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