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Sinopse
Anne é uma cidadã francesa numa pequena cidade da Coreia do Sul a fim de visitar um amigo cineasta prestes a se tornar pai. Nas suas andanças, ela conhece um empolgado salva-vidas que tenta conquista-la.
Crítica
Considerado por alguns como uma mistura dos realizadores Eric Rohmer, Robert Bresson e Woody Allen, o diretor sul-coreano Hong Sang-soo vem há anos angariando prêmios em festivais ao redor do mundo com suas produções despretensiosas. E parece que agora o Brasil começa a descobrir o cineasta com a estreia de A Visitante Francesa, logo após a exibição do elogiado Hahaha (2010) nas salas do país.
Contando a história de uma estudante de cinema que esboça a narrativa de uma francesa recém chegada a um balneário sul-coreano, o diretor nos entrega as possibilidades da arte mutável que é o cinema. A história vai sendo reescrita, mantendo local e os personagens, mas trazendo novas nuances. Isabelle Huppert é Anne, a francesa do título, que em diferentes segmentos da trama interpreta diferentes “Annes”: uma diretora de cinema que visita um amigo casado, uma rica mulher que se encontra com o amante sul-coreano e uma divorciada em viagem pelo país. Essas três mulheres se vêem frente à cultura, costumes do país, os homens, as mulheres, a culinária, a religião e os sentimentos que tudo isso pode aflorar. Estão presentes também as marcas visuais de Hong Sang-soo, retomadas de suas outras realizações. São conversas e acontecimentos em torno de mesas ou em sacadas enquanto os personagens tomam café, almoçam ou jantam, e ainda a visão contemplativa do mar.
Apesar de em alguns momentos Hong se perder um pouco do controle da sua direção em questões mais técnicas, o filme não é desperdício algum. Mas seria um bom conselho ao diretor utilizar menos (ou nem utilizar) o efeito brusco de zoom nas cenas. Isso parece ter se tornado um tipo de muleta em seu cinema, um artifício sempre presente e que já se torna incômodo. Sim, é uma maneira peculiar em dar ênfase a alguns momentos e ações, porém desprende um pouco da atenção do espectador. Já nos é mostrado de início que a história é uma construção ficcional pela estudante de cinema, isto é... uma grande farsa. Mas isso não precisa ser reforçado a todo instante através desse movimento de câmera. A não ser que, hipoteticamente, justifiquemos essa escolha de Hong sem julgá-la como um mero capricho sem propósito.
Ainda assim, A Viajante Francesa é esse filme sutil que consegue explorar muito bem tanto a arte de fazer cinema como a beleza de sentimentos que seus personagens possuem. Isabelle Huppert entrega uma performance perfeita (como sempre) e mostra sua versatilidade em interpretar cada personagem com tantas peculiaridades que chega a ser difícil encontrar pontos em comum com as três “Annes”. O elenco sul-coreano também é ótimo. Destaque para a mulher enciumada do amigo que Anne visita e o salva-vidas eufórico e galante, que se apaixona por Anne a cada segmento.
Selecionado para a mostra competitiva do Festival de Cannes de 2012, é interessante como o filme do diretor sul-coreano vem a conversar com Holy Motors (2012), de Leos Carax. Ambas as produções possuem o objetivo de mostrar a arte do cinema e sua magia. Hong com sua Huppert e Carax com seu Denis Lavant, revelam as diversas faces da arte de fazer o cinema que tanto adoramos.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Renato Cabral | 8 |
Diego Benevides | 7 |
Chico Fireman | 6 |
Alysson Oliveira | 6 |
Ailton Monteiro | 8 |
MÉDIA | 7 |
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