Crítica

Primeiro trabalho dirigido e roteirizado pela atriz Lake Bell, o título A Voz de Uma Geração traduz de forma um pouco exagerada no Brasil o original In A World. No entanto, esta é uma produção que explora o tema do auto-amadurecimento e, principalmente, questões sobre o gênero feminino.

Carol (a própria Bell) é uma treinadora vocal que às vezes faz uns bicos como locutora. O mercado, porém, é restrito, um verdadeiro “Clube do Bolinha” no qual quem tem espaço são somente os homens. É quando, inesperadamente, ela é convidada para uma concorrência com o objetivo de achar uma nova voz para a narração dos clássicos trailers de filmes épicos, que iniciam com a chamada “Em um mundo...”. A experiência de Carol na competição para ser essa “nova voz” não será nada fácil, pois no caminho encontra um dos maiores locutores de todos os tempos, que é ninguém menos que seu próprio pai (Fred Melaned), e, ainda, Gustav (Ken Marino), o qual todos consideram o herdeiro do “trono” das locuções.

Sem o apoio do pai, que a quer longe do meio dos locutores, Carol acaba decidida a desbravar esse mundo, o qual sempre acompanhou como uma observadora através dos trabalhos paternos. Em uma das cenas cômicas e chocantes, aquilo que poderia nos deixar supondo ser um tipo de segurança da parte do patriarca para com a filha, ao querer mantê-la longe desse tipo de trabalho, acaba se transforma em uma grandiosa crise de ciúmes por alguém o estar substituindo.

Uma produção pequena, independente, dinâmica e muito bem focada nos temas que tem para abordar, através dos ótimos diálogos e personagens. Não foi por nada que A Voz de Uma Geração venceu o prêmio de melhor roteiro no Festival de Sundance em 2013. Lake Bell explora de forma excepcional as desventuras de uma jovem que tenta construir seu espaço em uma indústria, por muitas vezes, machista.

Envolta dessa aura de comédia, Bell se mostra uma roteirista formidável ao colocar na tela temas tão importantes e atuais. A entrada da mulher como líder, e poderosa em quase todos os mercados de trabalho, é sempre uma grande batalha devido ao preconceito. Mais interessante e belíssimo da parte da cineasta e atriz foi trazer como participação especial a oscarizada Geena Davis, uma grande ativista pela expansão da participação feminina na sociedade e, especialmente, em Hollywood, reforçando sempre a necessidade de papéis fortes e estimulantes para atrizes e públicos. Levando em consideração tantos pontos, talvez o título dado no Brasil para o filme nem soe, assim, tão exagerado.

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