Crítica
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Sinopse
Um homem descobre que sofre de uma grave doença. Ele entra em um dilema, porém, ao avaliar se deve se tratar ou esperar o desenvolvimento natural da patologia.
Crítica
O protagonista do mais recente filme de Edgard Navarro é Bené (Everaldo Pontes), cidadão que leva uma vida pacata e regrada no interior da Bahia. Ele se filia à tradição dos benzedeiros, prestando serviço à comunidade, se posicionando na tela como um ser telúrico e respeitado na região. O cineasta se demora nessa construção inicial, apresentando o homem em suas interações diárias, na prática de exercícios parecidos com os da ioga e no consumo de alimentos orgânicos, num conjunto disposto a delinear justamente a personalidade zen. Todavia, a presença de Letícia (Rita Carelli) coloca de cabeça para baixo o mundo centrado do sujeito. Mais tarde, ele a acompanha, de mudança, à capital. Abaixo a Gravidade, portanto, parte desse deslocamento geográfico-afetivo que visa apresentar a Bené um mundo caótico e na iminência da ruína. Salvo uma que outra situação forçada, as coisas transcorrem, a priori, num ritmo instigante de descoberta pela metrópole.
Sem transformar o interesse pela jovem no único conflito do filme, o realizador rapidamente promove uma cisão entre Bené e Letícia, ainda que tente manter sobressalentes seus efeitos colaterais. Esse movimento ocorre com certo descuido, a partir da cena em que observamos a mulher fazendo sexo com outro homem. Abaixo a Gravidade passa, então, a misturar as esferas literal e metafórica, nem sempre de maneira fértil, já que determinados atravessamentos e componentes soam demasiadamente aleatórios, mesmo dentro de uma estrutura narrativa que tem o caos como componente imprescindível. O personagem de Everaldo Pontes perde representatividade diante de coadjuvantes fortes, como o mendigo interpretado por Ramon Vane, que põe em xeque as convicções do forasteiro, vociferando contra seu estilo de vida alternativo, colocando-o frente à certeza da morte. Os indícios de delírio tomam conta do filme de formas estranhas e não expressivas.
Bertrand Duarte vive o sujeito mais deslocado de Abaixo a Gravidade, não por deméritos do ator, mas por sua dinâmica na trama. Ele tromba com o protagonista em vezes insuficientemente substanciais para justificar seu destaque. Ao contrário de boa parte das demais pessoas em cena, ele é um ricaço, dado a lamúrias no divã do psicanalista, que experimenta largas epifanias após exames clínicos. Aliás, o que verdadeiramente liga ele e Bené é o fato de ambos serem diagnosticados com doenças graves. Afora isso, os paralelos são frágeis, mesmo se colocarmos em questão a diferença dos estratos sociais. As cenas de Bertrand são quase teatralizadas, obviamente para expressar mais fortemente o absurdo, mas mesmo seu deslocamento não se mostra claramente importante. Navarro recorre ao cinema para estabelecer comentários, ora complementares, ora absolutamente frágeis, sentindo, ainda, a necessidade de explicitar tais referências.
A iminência da chegada à Terra de um cometa, e sua influência misteriosa nos afetos, remonta diretamente à Melancolia (2011). O mendigo construindo asas a partir de sucata remete a Voar é com os Pássaros (1970). Não fossem as menções óbvias, ambos os filmes têm seus cartazes exibidos em algum momento da perambulação de Bené por Salvador. O helicóptero carregando a estátua de Rodin e a nudez coberta de pétalas de rosas, referências, respectivamente, a A Doce Vida (1960) e a Beleza Americana (1999), surgem em contextos bem mais expressivos, pois subvertem seus códigos basilares. Abaixo a Gravidade possui uma vocação ao crescente aprofundamento numa lógica pouco cartesiana e inclinada ao delirante. O protagonista se perde em meio ao acúmulo desajeitado de simbolismos e da tentativa de mostrar, no fim das contas, o amor como antídoto à desordem vigente no mundo, aqui instaurada nas vielas escuras da urbe baiana, cheia de marginalizados e anárquicos.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Marcelo Müller | 5 |
Daniel Oliveira | 3 |
MÉDIA | 4 |
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