Crítica
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Sinopse
Em Abigail, depois de sequestrar a filha de um poderoso chefão do submundo, os bandidos precisam apenas vigiar a garota de 12 anos à noite. No entanto, à medida que a madrugada avança, eles percebem do pior modo possível que não estão trancados com uma menina comum.
Crítica
Esqueça o título, que não tem significado algum – ao menos não um relevante. O maior spoiler que pode ser dado em relação a essa história é o seu ‘nome de trabalho’, ou seja, aquele pelo qual a produção ficou conhecida ainda durante as filmagens: A Filha de Drácula. Portanto, se o objetivo era buscar algum tipo de fidelidade, o mais apropriado seria batizá-lo de Marya (como atendia Gloria Holden no clássico de 1936) ou mesmo Nadja (como Elina Löwesohn se apresentava na refilmagem de 1994). Ou seja, Abigail é apenas um fraca mudança de estratégia que visa distrair daquilo que está evidente, um problema também verificado no próprio tecido narrativa da trama. Afinal, por qual razão tentam tanto esconder a verdadeira natureza da menina que está no centro dos acontecimentos – leva-se quase uma hora até que ela, enfim, manifeste seus poderes – se foi justamente essa a característica explorada no trailer e em demais peças de divulgação? Uma esquizofrenia verificada não só no princípio, mas também no seu desfecho, pois por mais que aponte num sentido, lá pelas tantas parece não se contentar com o alcançado, ambicionando algo que não possui condições de realizar. O resultado é medíocre, a despeito de possuir os elementos para se ir além do meramente convencional.
Mais do que apenas outro conto de vampiros, os diretores Matt Bettinelli-Olpin e Tyler Gillett se mostram propensos a enaltecer os seus feitos e revirar um baú por eles mesmos elaborado. Ainda antes de terem se aventurado pelo curioso Pânico (2022) e pelo redundante Pânico VI (2023), os dois entregaram um título que à época gerou algum tipo de repercussão: Casamento Sangrento (2019) – indicado ao Fangoria Chainsaw e premiado no Fright Meter, duas premiações importantes ao gênero. Pois bem, é desta obra que retiram a estrutura agora percorrida em Abigail: um já conhecido gato-e-rato, só que invertido – ao invés de uma garota tentando se defender de diversos agressores, o que acontece é o contrário, com várias presas prestes a serem sacrificadas por um monstro que nem desconfiavam estar entre eles. No começo, entretém e desperta atenção. Porém, rapidamente se mostra desgastado. E ao invés de proporem uma renovação a uma fórmula consagrada, partem em outra direção, exigindo ainda mais da boa vontade do espectador.
De início, o que se tem é um enredo básico de sequestro e resgate. Dois times de bandidos unem forças para invadir uma mansão e de lá sair não com joias, malas cheias de dinheiro ou outros tesouros: o que buscam é a filha do milionário, a jovem Abigail (Alisha Weir, protagonista de Matilda: O Musical, 2022). Bem-sucedidos neste intento, partem em disparada com a garota amordaçada e rumam a uma mansão decadente, nos arredores da cidade. São recebidos por Lambert (Giancarlo Esposito, que poderia estar ocupando seu tempo com algo mais interessante), que os avisa: precisam passar a noite no local, cuidando da menina, pois em até 24 horas o valor pedido pela liberdade dela deverá ser pago. Ou seja, agora só resta esperar. E na companhia de alguém que somente depois descobrirão a verdadeira identidade. Justamente no momento em que percebem também estarem presos, sem terem como – ou para onde – fugir. O perigo, portanto, não está lá fora. Está, sim, bem mais perto do que imaginam.
Outro problema percebido a partir dessa estrutura é a escolha do elenco. Dos seis ‘aprisionados’, ponto de vista escolhido pela narrativa – ou seja, Abigail nunca chega a estar no comando, apenas reagindo ao que lhe afeta e servindo como uma ameaça que raras vezes se concretiza – apenas dois são astros reconhecidos: Dan Stevens e Melissa Barrera. Como se trata de um slasher, no qual estas vítimas passarão a ser abatidas uma após a outra, não se faz necessário muito esforço para adivinhar quais serão os sobreviventes que chegarão até o final. Até pela dinâmica que rapidamente se estabelece entre eles: Stevens é o cara durão e malvado, distante do galã que ele por anos defendeu (como na série Downton Abbey, 2010-2012, ou no sucesso A Bela e a Fera, 2017). Já Barrera se encaixa num perfil mais maternal, a heroína ensanguentada que enfrentará qualquer adversidade para salvar seu pescoço e o de quem nela confiar, mesmo que essa seja a fera da qual os demais tentam se proteger (o que uma promessa de mindinho não é capaz, não é mesmo?). Ao contrário dele, que ao menos mirou em algum tipo diverso daquele ao qual estava acostumado a recair, ela entrega o mesmo visto nos seus trabalhos anteriores com os cineastas. É quase um terceiro capítulo para Sam Carpenter, sua personagem nos dois últimos filmes da saga Pânico.
Se o começo é não mais do que o esperado e o final se confirma previsível (nem mesmo participações especiais, como a de Matthew Goode, conseguem melhorar a situação), o melhor de Abigail é o seu durante, ainda mais quando deixam de lado estes tolos esforços de criar um suspense em relação ao óbvio e se apresentam como um sádico jogo de nervos, no qual o maior dos perigos vem da mais ingênua das aparências, invertendo uma lógica tradicional e alertando à audiência para outras possíveis rebeliões narrativas que possam se manifestar a seguir. O problema é que essas ficam apenas na promessa, e logo do conjunto recai em um esquema saturado de reviravoltas e explosões, do qual nada – ou muito pouco – se salva. Poderia ser selvagem, e por isso mesmo, marcante. Mas é apenas divertido enquanto dura, e esquecível assim que termina.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Robledo Milani | 5 |
Francisco Carbone | 7 |
Alysson Oliveira | 4 |
Lucas Salgado | 6 |
MÉDIA | 4.3 |
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