Crítica
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Crítica
Não é que a mais badalada dupla jovem da música brasileira chegou ao cinema? E, por incrível que pareça, numa bela – e digna – estreia? Afinal, o primeiro filme protagonizado pelos filhos do cantor sertanejo Xororó, Acquaria, é uma fábula de ficção científica produzida com esmero e cuidado. Aqueles que acompanhavam há tempo os passos dos irmãos talvez não tenham se surpreendido, pois o que se vê é a mesma competência verificada em cada passo de suas carreiras artísticas, seja nos álbuns musicais, videoclipes, e dramaturgia, como o seriado Sandy & Jr. (1999-2001) ou na novela Estrela-Guia (2001). Mas essa, com certeza, foi uma das investidas mais audaciosas de suas trajetórias, bem sucedida em grande parte, apesar de alguns evidentes pesares.
Sandy e Júnior – que, aliás, estão bem em cena, não comprometendo em seus personagens – poderiam ter feito do cinema mais um palco para atrair e agradar fãs, como fazem outros produtos estritamente comerciais semelhantes – ainda mais em uma época dominada por títulos baseados em programas de televisão, como os estrelados pela Xuxa e pela turma do Casseta & Planeta. Porém, resolveram ir por um outro caminho, e por isso mesmo mais arriscado. Se há algo problemático em Acquaria, é o roteiro, que demora para engrenar. Mais da metade da projeção é perdida com exemplos do dia-a-dia deles nessa vila desértica, com acontecimentos que não possuem relevância para a trama em questão. Os fatos se sucedem aleatoriamente, e ao público resta apenas admirar os impressionantes efeitos especiais (mais de 80% das cenas possuem algum tipo de interferência digital).
A escolha de Sandy e Junior foi partir de uma história original – ainda que sejam evidentes os ecos em muitos blockbusters hollywoodianos, como Waterworld: O Segredo das Águas (1995) ou a saga Mad Max. Assim, não interpretam a si próprios, mas a dois nômades, num futuro distante, que habitam uma região árida, num mundo onde a água é um elemento tão raro quanto valioso. Ao lado deles estão o sábio Gaspar (Emilio Orciollo Netto, escolhido pessoalmente pela Sandy para ser seu interesse romântico) e o levado Guili (Igor Rudolf, um dos achados da produção). O que os quatro querem é descobrir como sobreviver numa realidade tão adversa, ao mesmo tempo em que sonham com a mítica cidade de Acquaria, uma lenda que serve como estímulo para seguirem em frente.
Com uma estudada fotografia – crédito do respeitado Lauro Escorel – e uma montagem inspirada em histórias em quadrinhos e em antigos filmes do gênero, como a saga Star Wars, Acquaria ganha pontos também no uso de sua música, ao compor uma trilha sonora envolvente em que o uso de cada canção é justificado, sem interferências gratuitas. Nenhuma cantoria (que, aliás, são poucas) chega a ser uma distração – pelo contrário, colaboram no andar da trama. Um presente para os fãs e um sinal de respeito para os demais na audiência.
No seu terço final, entretanto, uma série de acontecimentos passam a se suceder de forma um tanto apressada. É quando somos colocados diante das verdadeiras intenções do drama vivido pela estranha família retratada. Não que seja tão elucidativo a ponto de perdoar sua demora, mas a conclusão é satisfatória e faz valer o investimento. Acuaria é uma das maiores produções já realizadas no Brasil, e, mesmo sem deixar de ter objetivos comerciais, não é vazio e desprovido de inteligência. A mão de Flávia Moraes – que antes disso trabalhou por anos na publicidade e na televisão – por trás de tudo explica em parte os bons resultados. E, se ficou devendo em termos de profundidade, ao menos foi um exercício interessante para todos os envolvidos, em ambos os lados da tela.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Robledo Milani | 6 |
Edu Fernandes | 4 |
MÉDIA | 5 |
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