Sinopse
Ad Vitam conta o que acontece a Franck quando ele e a esposa grávida são atacados em casa. Ela é sequestrada, e esse ex-agente de elite tem pouco tempo para recuperá-la em uma caçada perigosa. Nesse caminho de mistérios e inimigos mortais, terá de reviver casos ligados ao seu passado complicado na profissão. Com Guillaume Canet.
Crítica
Por maior que seja a semelhança física entre Guillaume Canet e Patrick Dempsey, o status do marido de Marion Cotillard junto à indústria francesa é muito maior do que o já experimentado pelo eterno Doutor McDreamy de Grey’s Anatomy (2005-2022) em Hollywood. Ele tá mais para um George Clooney, tamanha é sua influência e poder. Tanto é que, com Ad Vitam, seu primeiro longa pensado exclusivamente para a Netflix, apesar de estar tanto à frente como atrás das câmeras (é autor do argumento e um dos roteiristas), conseguiu passar a responsabilidade da direção para o pouco conhecido Rodolphe Lauga, um dos seus mais constantes parceiros. Com isso Canet não apenas pode se mostrar mais à vontade nas sequências de ação, como também se eximiu de levar a culpa por muitos dos deslizes percebidos durante a condução de uma trama tão genérica, quanto exagerada. Ou seja, seguiu no intento de colher os louros por qualquer eventual acerto, ao mesmo tempo em que se imaginava ter desviado dos prováveis tropeços. Dois intentos que, definitivamente, não saíram de acordo com o esperado.
Canet surge como Franck, um oficial de uma equipe de elite da polícia parisiense envolvido em uma trama de mentiras e traições. Ele demonstra impressionante habilidade física, ainda que seu personagem tenha, no mínimo, dez anos a menos do que o ator. Afinal, os dois principais amigos e colegas, Nico e Ben, são interpretados respectivamente, por Alexis Manenti (Os Miseráveis, 2019) e por Nassim Lyes (Sob as Águas do Sena, 2024), ambos artistas em torno de uma década mais jovens do que o protagonista (ainda que a enredo os mostre entrando na força ao mesmo tempo, passando por todos os treinamentos em conjunto e atuando desde o começo como uma turma unida). Já passado dos 50 anos, a idade ainda não é um peso para o vencedor do César pelo thriller Não Conte à Ninguém (2006) – que, aliás, ganhará em breve uma refilmagem em inglês comandada pelo próprio.
Se Canet, ao longo de sua carreira, se confirmou como um talento tipicamente francês, sua esposa, por outro lado, extrapolou fronteiras com mais facilidade, tendo recebido o Oscar de Melhor Atriz por Piaf: Um Hino ao Amor (2007). É de se imaginar a ânsia dele em se igualar a ela, visto o apreço que volta e meia demonstra pelo cinema norte-americano. Com Ad Vitam, essa simpatia, digamos, se torna evidente. Da estrutura narrativa ao desenho dos personagens, tudo é por demais similar aos diversos produtos do gênero lançados sem muito critério tanto pelos grandes estúdios dos Estados Unidos, como também por inúmeras produtoras de fundo de quintal que ambicionam um mercado mais amplo, de rápido retorno e pouco questionamento. Há tiroteios, muitas lutas, amigos que revelam na última hora interesses particulares, envolvimento de altos escalões do governo e situações que parecem se aproximar do limite, apenas para revelar uma reviravolta de última hora que garanta a segurança e o bem-estar dos heróis. Tudo de acordo com o gosto do freguês.
Quando são chamados a um hotel de luxo após tiros terem sido ouvidos em um dos quartos, logo na recepção uma troca de tiros com dois suspeitos acontece, deixando um dos integrantes do trio de amigos gravemente ferido, enquanto que outro se vê atingido em um ponto de difícil recuperação. Com a morte do primeiro e o segundo fora de combate, resta apenas Franck com a missão de provar que não só fez a coisa certa, validando os efeitos colaterais dos amigos, como também investigando aquilo que pode ser a ponta de um iceberg de corrupção internacional. Só que a situação está longe de ser simples. E não apenas no âmbito profissional. Há ainda uma questão mais íntima. Leo (Stéphane Caillard, de Atentado em Paris, 2016), sua esposa e também colega de trabalho (ou seja, conhece o meio onde estão inseridos), está grávida. Arriscar tudo ou simplesmente esquecer e aceitar o que lhe foi feito, sem ir atrás da verdade, em nome de uma proteção familiar? Em filmes como esse, a resposta é óbvia.
Nada é tão grave quanto parece ser em Ad Vitam. Até a expressão que dá título ao filme, que vem do latim e significa “para sempre”, não parece fazer muito sentido – ou mesmo possuir maior relevância, servindo somente para justificar a obstinação do protagonista em sua busca por justiça como se fosse uma herança paterna. Enquanto isso, Guillaume Canet vai cada vez mais se afastando do jovem promissor que se anunciava no começo de carreira em nome de uma aproximação com um cinema feito às pressas, sem identidade ou características próprias. Se a cena clichê da Torre Eiffel é substituída por uma perseguição pelos jardins do Castelo de Versailles, nem isso parece ser suficientemente marcante, pois os resultados sempre acabam se encaixando de acordo com as expectativas dos ‘mocinhos’, enquanto aos ‘vilões’ resta apenas o descarte e à danação, como se a motivação desses fosse o mal pelo mal, sem meandros ou particularidades. Enfim, trata-se de mais um dentre tantos, lançado aos borbotões em busca de uma fatia do público que tem se mostrado progressivamente desinteressada pelo original, buscando mais do mesmo. O que aqui, de fato, se entrega.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Robledo Milani | 3 |
Leonardo Ribeiro | 5 |
MÉDIA | 4 |
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