Crítica
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Sinopse
Crítica
É fácil descobrir o porquê dos esforços dos Estúdios Disney para abafar Adeus Christopher Robin, longa realizado pelo braço independente da Fox (quando essa era, ainda, dona do próprio nariz). Afinal, ainda que conte com dois nomes em ascensão à frente do elenco – Domhnall Gleeson e Margot Robbie – essa produção inglesa teve passagem discreta pelos cinemas – arrecadou pouco mais de US$ 7 milhões nas bilheterias de todo o mundo, sendo metade desse valor no Reino Unido. Em muitos países, como Brasil e França, o lançamento foi direto em home vídeo e streaming. Mas por quê escondê-lo, afinal? Basta um olhar sobre sua história para verificar a pouca vontade dos seus realizadores em disfarçar o olhar sombrio que lançam sobre o criador do carismático Ursinho Pooh e seus amigos – ainda que a versão aqui levada às telas seja bem mais amena do que aquela que se sabe ter sido na vida real.
Alan Milne (Gleeson) era um herói traumatizado da Primeira Guerra Mundial que, ao voltar para casa, ainda que vivo, simplesmente não conseguia aplacar os próprios fantasmas. Estamos no início dos anos 1920, período de muita dor e sofrimento ao redor do mundo – principalmente na Europa, devastada pelo rastro de destruição que o conflito deixou para trás. Sem conseguir se adaptar à vida em Londres, decide partir com a mulher e o filho pequeno para o campo, onde tudo é, supostamente, mais calmo e reconfortante. Porém, o que o atormenta está mais dentro de si do que lá fora, e isso acaba refletindo em um forte bloqueio criativo – o que, para um escritor, é um fardo imenso para ser carregado. Sem o apoio da mulher (Robbie) – que, impaciente por vê-lo naquele estado, decide abandoná-lo à própria sorte – e com uma criança por perto que mal conhece – a criação do pequeno Christopher Robin Milne, ou, como preferia ser chamado, Billy Moon, ficava quase que inteiramente à cargo da babá (Kelly Macdonald, a melhor do elenco) – ele precisou descobrir onde menos esperava uma nova inspiração.
“Foi você que pediu que eu escrevesse um livro para você”, diz o pai, tentando se justificar. “Um livro para mim, e não sobre mim”, devolve o filho, sem hesitar. Este é o drama vivido pela família Milne. Alan acaba encontrando nas brincadeiras infantis do garoto um universo particular, pronto para ser desvendado. Christopher Robin estava sempre cercado pelo urso de pelúcia Edward (que seria rebatizado como Winnie The Pooh) e seus amigos: Leitão, Tigrão, Cangu e Roo, Eeyore (Bisonho, como se conhecia no Brasil, ou Ió, como é chamado por aqui atualmente) e muitos outros. O lançamento do primeiro livro logo aponta para um sucesso, a ponto do fenômeno se tornar mundial. Todo mundo quer conhecer, se aproximar ou mesmo ter um pedaço do Ursinho Pooh. Com a fama, a mãe – e esposa – volta para casa, o dinheiro entra aos borbotões, e todos parecem felizes. Menos o filho, o pequeno Billy Moon, que perdeu aquilo que era só seu – e se viu sem nada.
O diretor Simon Curtis – do envolvente Sete Dias com Marilyn (2011) e do curioso A Dama Dourada (2015) – mais uma vez parte de uma história real para imaginar as possibilidades a respeito. Adeus Christopher Robin é uma ficção, e como tal deve ser tratada. Alan e Daphne eram dois jovens despreparados, que tiveram uma criança com a intenção de uni-los, sem nunca sequer pensar naquele indivíduo que havia sido gerado. Domhnall cria uma figura austera, mas deixa revelar, em breves frestas, os dilemas enfrentados pelo homem, em uma composição que ajuda a criar empatia com o espectador. Margot, por outro lado, resigna-se a permanecer na superfície, entregando um tipo detestável que, ainda que tenha um amor inegável pelo marido e filho, acaba soterrada pelos modos antipáticos e pelo olhar ambicioso que exerce sobre os demais. E se Macdonald é o coração dessa história, a alma está no pequeno Will Tilston, que interpreta Christopher Robin na infância: impossível não se compadecer com o abandono, frustrações e tristezas desse menino, talvez a primeira das celebridades infantis a ser explorada pelos próprios pais.
Existe um acerto de contas pendente, principalmente entre pai e filho, e Curtis e o roteirista Frank Cottrell Boyce (indicado ao Bafta por Hilary e Jackie, 1998) forçam a mão em busca de um final feliz. Sabe-se, no entanto, que Christopher Robin nunca chegou a fazer as pazes com os pais – ficou sem falar com o progenitor até a morte dele, ainda nos anos 1950, e poucas vezes encontrou a mãe depois, recusando-se a tomar posse da milionária herança a que tinha direito. Mesmo assim, tamanho distanciamento entre criador e criatura(s) não pode ser ignorado, e Adeus Christopher Robin, se não chega a apagar tais traços, ao menos deixa-os um tanto esfumaçados. Como fábula, é bonita e envolvente – muito também devido à fotografia deslumbrante de Ben Smithard (O Exótico Hotel Marigold 2, 2015), primorosa na recriação da magia do Bosque dos Cem Acres. Porém, enquanto relato fiel, a distância do que se poderia esperar é imensa. Tanto para o real, que possui um lado muito mais trágico, quanto para o fantasioso, como os atuais proprietários dos direitos destes personagens – Disney e cia, portanto – poderiam ter desejado.
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assisti esse filme e não tem como não sentir pena dessa criança que tinha pais tão frios. e pensar que existem realmente pais assim.