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Crítica

Adeus, Lênin! foi um surpreendente sucesso de bilheteria na Alemanha, tendo atraído mais de 6 milhões de pessoas aos cinemas – apenas para critério de comparação, Tropa de Elite 2 (2010), o filme brasileiro de maior público de todos os tempos no nosso país, vendeu pouco mais de 11 milhões de ingressos – para conferir essa história de emoção, nostalgia e amor. Mas o sentimento que aqui vemos em cena extrapola sua definição mais básica e se expressa nos mais diversos aspectos. Temos o amor de família, entre filho e mãe, filho e pai, marido e esposa, irmão e irmã, irmã e mãe, pai e filhos. Uma trama inusitada, que só poderia tomar lugar com tamanho efeito em um lugar como este, uma nação até então dividida, que une com habilidade política com protesto, esperança com progresso, amizade com ingenuidade. Uma bela fábula que fala com sinceridade de uma época que já se foi e da qual sempre traz saudades, por pior que tenha sido – afinal de contas, faz parte da história de cada um, seja ela qual tenha sido.

Início dos anos 1980. Alex (Daniel Brühl) e Ariane (Maria Simon) eram crianças quando o pai as abandonou, deixando-as sob os cuidados da mãe Christiane (a excelente Katrin Sass), na Alemanha Oriental, para ir morar no lado ocidental. Logo as crianças se acostumaram com a dedicação fervorosa que a mãe tinha à causa socialista, num empenho quase que compensatório pela falta de marido. A trama realmente começa, no entanto, anos depois quando, já adolescente, Alex precisa enfrentar o fato de sua mãe ter um enfarte ao vê-lo participar de uma passeata contra o governo. O peso da culpa, aliado ao desespero diante da eminente perda da figura materna, é a justificativa para suas atitudes inesperadas, mas completamente originais.

Christiane fica em coma durante 8 meses, tempo suficiente para o mundo literalmente virar de pernas para o ar. O Muro de Berlim foi derrubado durante esse período, o lado oriental deixou-se invadir pelo avanço capitalista, e tudo pelo qual ela sempre sonhou desapareceu em questão de dias. A questão, no entanto, é que quando acorda ela está ainda muito frágil, e o médico recomenda aos filhos que tenham muito cuidado, pois qualquer surpresa um pouco mais forte poderá atrapalhar de forma irreversível sua recuperação. Imagine, então, se viesse a descobrir a verdade dos fatos ao seu redor? Assim, os dois filhos começam a criar um mundo de fantasia, ainda de acordo com os moldes socialistas, para ir de encontro com as expectativas maternas. Ao mesmo tempo, tentam reestruturar a família, numa tentativa de reencontrar o pai desaparecido e os seus motivos que o levaram a tal destino.

De acordo com a descrição, a impressão que se pode ter sobre Adeus, Lênin! é a de um drama intenso, daqueles de lavar a alma. Felizmente, é o contrário que acontece. O mais curioso é que o diretor Wolfgang Becker teve a habilidade de conduzir esse complicado tema de modo leve e descontraído – sem, entretanto, jamais escorregar no pieguismo ou no desrespeito. Resultado? Uma divertida comédia de costumes, junto com uma importante mensagem de fé, união e esperança. Assim como outro sucesso estrangeiro lançado na mesma época – o canadense As Invasões Bárbaras (2003) – esta produção alemã também trata do amor familiar diante da morte eminente, e, da mesma forma, tem a inteligência de não resvalar em conclusões hollywoodianas enaltecedoras e vazias. Um trabalho honesto e corajoso, digno do interesse despertado e do reconhecimento obtido.

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