Sinopse
Tessa Young é uma jovem de 18 anos com vida simples: ótimas notas na escola, muitos amigos e um namorado doce. Todos os próximos passos de sua vida estão planejados, mas as coisas desandam quando conhece um rapaz rebelde e rude, dono de segredos sombrios que mudam sua vida.
Crítica
Menina se apaixona por menino. O rapaz parece perigoso. Na verdade, ele é só incompreendido. Todos são contra o romance dos dois. Mas eles, juntos, permanecerão unidos... ou não. Esse mesmo argumento já foi explorado inúmeras vezes no cinema. Recentemente, ganhou ares de superprodução, com direito a milhares de fãs e expectativas altíssimas, ao adicionar alguns temperos que fogem um pouco da curva, como vampirismo (saga Crepúsculo) ou sadomasoquismo (saga Cinquenta Tons de Cinza). E se lá parece ter funcionado – afinal, ambas produções arrecadaram milhões ao redor do mundo e ganharam diversas sequências – é de se perguntar o que deverá servir como impulso similar neste After, uma cópia barata de algo já desgastado. E se antes as experiências eram, no mínimo, frustrantes, aqui o que se percebe é ainda mais raso – e, por vezes, preocupante.
A trama do romance criado por Anna Todd – que, por sua vez, o escreveu como uma fanfic (uma fantasia ficcional imaginada por fãs de determinados artistas) do cantor Harry Stiles e da banda adolescente One Direction – é bastante simples e linear. Tessa (Josephine Langford, de 7 Desejos, 2017) chega na faculdade para o seu primeiro ano. Lá acaba colega de quarto de uma garota muito mais liberal, o que vai de encontro com o seu jeito certinha de garota do interior. A proximidade das duas a leva a conhecer Hardin (Hero Fiennes Tiffin, de Harry Potter e o Enigma do Príncipe, 2009), um garoto sombrio que nunca revela de imediato suas reais intenções. De início, surge uma implicância entre eles. Logo, isso se transforma em atração. E quando se dão conta, estão perdidamente apaixonados um pelo outro. Ou, ao menos, assim se sentem.
Ao deixar de lado as intervenções sobrenaturais de Crepúsculo ou a imensa fortuna do protagonista de Cinquenta Tons de Cinza, sobra pouco para a diretora Jenny Cage (estreante no formato) e a roteirista Susan McMartin (Mr. Church, 2016) terem com o que lidar em After. Tessa e Hardin se estranham no começo, mas não tarda para um estar nos braços do outro, sem que nenhum deles esboce a menor resistência quanto a isso. No começo do filme, a garota chega a afirmar: “minha vida pode ser dividida entre tudo o que eu tinha até conhecê-lo, e depois dele, pois agora há apenas o... depois”. E há sinceridade nesse dito. Pois sequer – seja a personagem ou as realizadoras – há a preocupação em explicar o que está acontecendo. Afinal, não é nada muito diferente daquilo que qualquer um que passou por essa idade – a adolescência – já não tenha experimentado: uma paixão juvenil. Que chega em plena combustão, mas que também se esvai com igual rapidez.
Para piorar a situação, tal fiapo de história foi depositado nos ombros de dois intérpretes praticamente incapazes de emular a mais simples das emoções. Ambos são desprovidos da habilidade de atuar num modo mais complexo. Tudo neles é bastante plano, sem profundidade ou complexidade. Langford se sai um pouco melhor, ainda que dela seja mais exigido. A menina tenta esboçar algum tipo de conflito, mas nada que gere muita empatia. A figura que tem em mãos é inconstante, instável e facilmente influenciável. “Você precisa confiar em mim, continuo sendo eu mesma”, ela diz para a mãe, assim que chega na universidade. Para, logo em seguida, fazer tudo ao contrário do que dela se esperaria, traindo justamente essa confiança depositada. Por outro lado, Hero Fiennes Tiffin é mais um caso que comprova que talento não é uma herança que possa ser compartilhada geneticamente. Sobrinho de Ralph Fiennes, o rapaz é, na melhor das hipóteses, inexpressivo. O constrangimento chega ao ponto de se tornar quase impossível compreender o fascínio que ele supostamente exerce sobre a nova conquista. O que um vê no outro, aliás, parece ser o maior mistério da produção.
Mas talvez o mais problemático de After é a sensação que o filme passa a qualquer observador mais atento de se tratar não mais do que um exercício de pedofilia. Os dois protagonistas estão no início da faculdade e, portanto, devem ter em torno dos 17 ou 18 anos. Os atores, por sua vez, possuem 21 (tanto Langford quanto Fiennes Tiffin). Ambos, no entanto, possuem rosto – e corpo – que não aparentam mais de 14. São figuras imberbes, quase infantis. E os personagens se comportam como tais. Para se ter uma ideia, quando finalmente ficam juntos, com uma cama enorme à disposição e ninguém para incomodá-los, fazem o que? Uma luta de travesseiros. Parece a realização de um sonho de criança, e não o início de um relacionamento adulto. Soma-se a isso uma reviravolta final mais clichê do que andar para frente – tão ‘inesperada’ que qualquer um poderá antevê-la à distância – e tem-se um retrato apurado da mediocridade que esse conjunto tem a oferecer. Descartável, irrelevante e, sob certo ponto de vista, perigoso.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Robledo Milani | 1 |
Roberto Cunha | 7 |
MÉDIA | 4 |
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