Crítica
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Crítica
“É só mais uma quinta-feira”, diz o personagem, e não só ele, em relação ao que acabou de acontecer. Provavelmente será esse, também, o sentimento do espectador diante de Agente Oculto, longa dirigido pelos irmãos Joe e Anthony Russo. É só mais um dia qualquer, um dentre tantos, mais uma opção no fast food de entretenimento que tem se tornado as plataformas de streaming mais mainstream, focadas tanto em quantidade e menos na qualidade daquilo que estão ofertando aos seus consumidores. Afinal, esta é uma produção não distribuída, ou mesmo adquirida, pela Netflix: se trata de um produto original, encomendado e concebido dentro dos padrões de uma empresa que visa atender a uma demanda de mercado, à maioria, ao paladar médio, e, portanto, a um conceito de mediocridade. Eis um filme fruto de uma série de necessidades apontadas pelos afiados algoritmos, tão precisos em identificar o que a audiência busca, ainda que incapazes de oferecer qualquer tipo de personalidade ou predicado marcante ao produto final. Os nomes são estrelados, as sequências de ação vão se acumulando, e cada elemento parece estar disposto no lugar certo. Mas o que liga tudo isso? Qual o sentido destes movimentos? Esta é a pergunta que não quer calar.
Há quem aprecie o entretenimento que baste por si só, vazio e desprovido de significados, mas eficaz em provocar reações imediatas e atenuar reflexões profundas. A estes, é possível que encontrem em Agente Oculto um apelo visitado tantas vezes antes, mas ainda capaz de reproduzir os efeitos esperados. Veja bem, não se trata de surpresa ou novidade, mas, sim, da confirmação do que se procura: zonas de conforto, portanto. Cada passo é milimetricamente calculado, os protagonistas sabem quais são suas funções nessa equação e tratam de desempenhar seus papeis de acordo com o que lhes foi proposto. Tanto Ryan Gosling quanto Chris Evans, em diferentes níveis, se mostram competentes, e uma vez sendo bem pagos e cientes do que deles é esperado, tratam de se divertir durante o processo, o que de fato fazem sem nenhuma dissimulação. O primeiro, que nunca foi o típico herói de ação, aparece mais bombado do que nunca, por mais que na maioria das vezes se mostre propenso aos escapes cômicos, muitas vezes emulando o tipo que tão bem personificou em Dois Caras Legais (2016). Há camadas interessantes em Six, o assassino-tornado-espião-tornado-pária-tornado-ameaça, mas ninguém aqui está interessado nisso: o que importa é a agilidade demonstrada em cada confronto e a capacidade de escapar das situações mais improváveis, sempre com o cabelo impecável.
Chris Evans, por sua vez, reforça a intenção de se afastar do bom-mocismo experimentado como Capitão América, navegando por um tipo específico de vilão, algo do qual se aproximou apenas brevemente em produções tão díspares quanto Entre Facas e Segredos (2019) ou, mais especificamente, em Scott Pilgrim Contra o Mundo (2010). O bigode cafajeste, as calças brancas, a postura delgada, tudo vira motivo para piada – ou para a identificação de um tipo construído de dentro para fora, plano em seus objetivos, mas ainda assim capaz de propor um entendimento a respeito do perigo que representa. Um está no encalço do outro, e talvez isso fosse o bastante, caso diretrizes externas pudessem ter sido ignoradas. Afinal, é por causa desse tipo de atenção que, literalmente, a trama é interrompida para um gigantesco flashback que serve apenas para atender a uma faixa etária: os adolescentes. Com a inserção de uma garota sem relevância alguma diante do mapa geral dos acontecimentos, os demais passam a se mover em relação a ela, como uma moeda de troca: um a sequestra, o outro altera seus planos para salvá-la. No meio dessa bagunça, Ana de Armas deve se perguntar qual o motivo de a terem chamado – afinal, os 15 minutos da participação dela em 007: Sem Tempo Para Morrer (2021) valem mais do que todo o esforço empreendido por aqui. Ainda que – felizmente – não seja a mocinha em perigo, também não chega a fazer diferença nos embates entre os galos de briga disputando pra ver quem tem o p** maior. Desperdício.
Mas ela não é a única em cena sem ter o que fazer. É de se lamentar ver alguém como Wagner Moura, que até mesmo em Hollywood já participou de projetos mais interessantes, se sujeitando a uma maquiagem constrangedora apenas para ser descartado no instante seguinte, assim como outros coadjuvantes de luxo, como Billy Bob Thornton e Alfre Woodard servem apenas para oferecer um pouco de crédito a um conjunto tão aleatório. Porém, nada é pior do que o neo-galã Regé-Jean Page, outro que acredita bastar um par de óculos para lhe conferir um ar intelectual, movimento que se mostra vazio após tantos chiliques e ataques nervosos que em nada condizem com o posto que seu personagem deveria ocupar. Ele é um bom exemplo, por outro lado, para deixar claro como pouca coisa faz sentido nesse roteiro baseado nos livros de Mark Greaney. Se para recuperar um pen drive que contém detalhes de operações escusas do diretor do programa secreto, por qual razão colocar a cidade de Praga abaixo, entre explosões e tiroteios, parece ser o ato mais sensato a ser feito? E enquanto arrasam uma fortaleza aos moldes de Versailles em meio a tiros perdidos e granadas improvisadas, se faz mesmo necessário que um dos envolvidos declare: “você está me fazendo destruir esse prédio histórico”? As imagens não eram suficientes? Diálogos reiterativos e desnecessários, a oferta da casa é abundante.
Após conquistarem meio mundo com os dois últimos capítulos da saga Vingadores – Guerra Infinita (2018) e Ultimato (2019) – Anthony e Joe Russo tiveram um tropeço e tanto com o drama Cherry: Inocência Perdida (2021), e Agente Oculto nada faz para melhorar a situações dos irmãos. Ainda que ofereça sequências de ação de fato impressionantes – a melhor ainda é a fuga do avião, cujo desfecho se dá com o protagonista roubando o paraquedas de um homem em queda – muitas delas caem logo na redundância, para não dizer do clímax filmado à noite e de visibilidade prejudicada: um feito que tem se tornado comum no gênero, desrespeitando o público e o quanto se apostou pela expectativa gerada. No mais, é tudo por demais genérico, tanto que o mais apropriado é se lembrar de Gosling no palco do Oscar, quando se revelou que Moonlight: Sob a Luz do Luar (2016) havia ganho de La La Land: Cantando Estações (2016) como melhor filme do ano: o ator até tentou disfarçar com uma mão no rosto, mas a todos ficou visível sua vontade de cair no riso diante tamanha confusão. Cinco anos se passaram, e mais uma vez ele se encontra frente ao mesmo cenário, fazendo todo o esforço do mundo para imprimir seriedade quando tudo que tem pela frente é absurdo e despropositado.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Robledo Milani | 4 |
Ticiano Osorio | 3 |
Francisco Carbone | 8 |
Leonardo Ribeiro | 5 |
Daniel Oliveira | 5 |
MÉDIA | 5 |
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