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Crítica


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Sinopse

Penny não ama mais seu companheiro Phil. Todavia, uma tragédia vai impulsioná-los na direção do reencontro.

Crítica

Agora ou Nunca (que teria sido melhor traduzido como Tudo ou Nada, o título original) é uma interessante produção britânica dirigida por Mike Leigh, cineasta já indicado sete vezes ao Oscar. Porém, ao contrário do que costuma fazer em seus trabalhos mais conhecidos, o realizador deixa de lado dessa vez um otimismo e uma vivacidade latente para encarar o cotidiano de três famílias do subúrbio de Londres, pessoas desiludidas e incompletas, que levam suas vida desprovidas de maiores emoções. E essa insatisfação está refletida tanto nos hábitos rotineiros quanto em suas feições, desprovidas de sorrisos, assim como seus aspectos físicos descuidados, envelhecidos prematuramente, obesos e vulgarmente vestidos. É um painel duro, mas ao mesmo tempo afetuoso, de uma parcela significante da população do país.

Essa classe social historicamente desfavorecida e desprezada ganha rosto e imagem quando o diretor direciona sua lente nestes três núcleos familiares. Um, o principal, é a estrutura “clássica”: pai, mãe, filho e filha. Só que ele, motorista de táxi, é submisso e preguiçoso, ela trabalha como caixa de um supermercado e é a responsável pelo dinheiro da casa, o garoto não faz nada e reclama de tudo, enquanto que a moça não abre a boca, a não ser para comer. Em suma, são todos infelizes. Assim como seus vizinhos, o casal de bêbados com a filha assanhada, ou a mãe solteira que tenta criar sua filha com carinho, sem perceber que ela está se encaminhando para um destino muito similar ao seu. Essa mulher, no entanto, é a única que tenta seguir em frente, mesmo diante de todas as adversidades, acreditando que sua situação poderá melhorar com o tempo, sem nunca desistir de procurar pelo lado bom das coisas.

Será justamente esse modo de agir, inserida a partir de um contexto tão desfavorável, que se revelará o pecado que será a origem de fortes castigos que lhe serão impostos, numa espécie de teste de sua crença. Mas nada comparável ao que acontece com o primeiro casal, vítima de um terrível choque – um problema de saúde com um de seus filhos – que forçará a todos encarar tristezas e decepções em busca de soluções definitivas para suas vidas. Contribuem para aproximar o espectador, ao invés de afastá-lo diante de tantas desgraças, o bom conjunto do elenco, com destaque para as performances arrebatadoras de Timothy Spall e de Lesley Manville, que compõem com forte efeito um casal feito um para o outro, com o melhor e o pior que isso possa significar.

Agora ou Nunca é um filme, acima de tudo, muito humano. Suas histórias são amargas e difíceis de lidar, mas mesmo assim percebe-se um carinho paternal no modo como são conduzidas à tela. E será através desse processo inevitável de identificação que as pontes entre ficção e realidade serão construídas durante a obra, que começa de modo calmo – e até apático – para conquistar aos poucos sua audiência, com cuidado e muita firmeza. Impossível não se condoer com o que é visto, estabelecendo uma identificação quase familiar com os personagens – o que, em última instância, não está muito longe de ser verdade.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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