Crítica
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Sinopse
A história de 16 pessoas é capturada num plano-sequência durante o dia mais quente do ano em Porto Alegre.
Crítica
Gustavo Spolidoro é um pioneiro. É um cara boa praça, um ótimo profissional e também um artista inovador e criativo. E todas estas qualidades estão presentes no seu longa-metragem de estreia como realizador, o curioso Ainda Orangotangos, que tem como principal diferencial o fato de ser também o primeiro filme feito no Brasil em plano-sequência, ou seja, sem um único corte. São cerca de 80 minutos de ação ininterrupta, numa série de eventos que, encadeados, compõem um interessante painel sobre sociedade atual. Não que ele tenha esta pretensão. É mais como um efeito colateral. E mais um ponto a seu favor.
Talvez o maior mérito de Ainda Orangotangos seja justamente esta experimentação. Filmes em plano-sequência não chegam a ser nenhuma novidade – Alfred Hitchcock já havia experimentado isso, lá em 1948, no suspense Festim Diabólico (naquela época, como a tecnologia não permitia, o que se tem como resultado são séries de planos de aproximadamente 10 minutos, todos ligados um ao outro de modo quase imperceptível). Durante as últimas décadas várias tentativas de repetir este estilo foram feitas, outras mais bem sucedidas do que as outras. O próprio Spolidoro já havia se aventurado, nos curtas Velhinhas e Outros. E agora ele chega ao ápice, na execução de um projeto que combina técnica, competência e, por que não dizer, originalidade.
Ainda Orangotangos é a adaptação de seis contos do livro homônimo do escritor gaúcho Paulo Scott, e trata de diferentes situações limites vivenciadas por personagens aparentemente escolhidos ao léu. Primeiro acompanhamos um casal de imigrantes chineses chegando à cidade de metrô. Deixamos os dois e entramos no Mercado Público Municipal, para seguir com um passeio de ônibus, um Papai Noel bêbado, um casal de namoradas bem abusadas, um encontro sexual num apartamento qualquer, e até uma festa de noivado. Tudo sem muita explicação nem consequência, bem como é a vida. É como se estivéssemos na janela, no trânsito, só acompanhando o que acontece no lado de fora. Ou como se estivéssemos diante de orangotangos, ou qualquer outro primata, que até tenta racionalizar o que acontece, mas termina mesmo reagindo de acordo com seus instintos mais básicos.
Distante do que normalmente se costuma fazer no cinema gaúcho, Ainda Orangotangos mostra que a geração unida sob a produtora Clube Silêncio certamente ainda dará muito o que falar. Após muitos curtas premiados e elogiados, eles primeiro mostraram uma ideia mais precisa de suas ambições ao co-produzirem o longa Cão Sem Dono, de Beto Brant e Renato Ciasca, filmado inteiramente aqui em Porto Alegre. Da mesma forma, este trabalho de Gustavo Spolidoro é moderno sem ser efêmero, é pertinente sem cair da vala fácil do didatismo, consegue se comunicar sem recorrer à clichês óbvios ou recursos já consagrados. Infelizmente, no entanto, ele provavelmente será lembrado mais pela utilização do plano-sequência – algo que poderia até prescindir, caso não fosse a necessidade estilística do diretor – do que pelo seu conteúdo e objetivos. Mas este, talvez, seja o preço a ser pago pela ousadia.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Robledo Milani | 8 |
Marcelo Müller | 8 |
MÉDIA | 8 |
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