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Sinopse

Aladdin liberta o gênio da lâmpada e tem seus desejos atendidos. Porém, ele logo descobre que o Grão Vizir tem outros planos para a lâmpada - e para a princesa Jasmim.

Crítica

Se A Pequena Sereia (1989) marcou o renascimento dos estúdios Disney e A Bela e a Fera (1991) representou o reconhecimento do público e da crítica, indicado ao principal prêmio da Academia, Aladdin foi peça fundamental para a consolidação daquele novo momento. Maior sucesso de bilheteria lançado em 1992, somando mais de US$ 200 milhões só nos Estados Unidos e assegurando à Disney o recorde de vendas em home vídeo em 1993 (marca batida dois anos depois por outro longa do estúdio, O Rei Leão, 1994), trata-se de uma aventura cômica deliciosa, um musical divertidíssimo com personagens cativantes e trama bastante dinâmica. Dirigido pela dupla do citado A Pequena Sereia, John Musker e Ron Clements, o longa-metragem conta com o apuro musical da dupla Howard Ashman e Alan Menken, em sua última parceria.

Ashman foi uma das brilhantes mentes por trás do sucesso de A Bela e a Fera, mas infelizmente não pode observar o sucesso do filme, morrendo poucos meses antes de sua estreia. Para Aladdin, Menken e seu parceiro de trabalho haviam escrito 11 canções. Com as mudanças que aconteceram no decorrer da produção, que transformaram o protagonista de um menino de 13 anos para um rapaz de 18, muito do trabalho produzido pela dupla teve de ser deixado de lado. No fim das contas, as duas canções do Gênio (Friend Like Me e Prince Ali) e a música de abertura (Arabian Nights) tem a mão de Ashman e Menken. As demais, incluindo a oscarizada A Whole New World, foram compostas por Menken ao lado de Tim Rice.

Na trama, o vizir do palácio de Agrabah, Jafar (com a voz original de Jonathan Freeman), planeja colocar as mãos na lâmpada mágica que se encontra na Caverna das Maravilhas, local que só pode ser adentrado por alguém puro de coração, um diamante bruto. Esta pessoa é Aladdin (Scott Weinger), um ladrãozinho de rua que precisa roubar para sobreviver. Vivendo confusões com seu fiel macaquinho Abu, o rapaz sonha com um futuro melhor, vivendo no palácio como um sultão. Mal ele sabe que a vida no luxo também tem seu preço. A princesa Jasmine (Linda Larkin) que o diga. Sendo obrigada a encontrar um pretendente príncipe até o seu aniversário, a moça não aguenta as pressões do Sultão (Douglas Seale) e foge do palácio. Em uma confusão no mercado da cidade, os dois se conhecem e logo surge uma fagulha de romance. No entanto, a mando do vizir, Aladdin é preso. Jasmine tenta ajudá-lo, mas é inútil. Disfarçado, Jafar consegue convencer o rapaz a buscar a lâmpada na caverna. Mas diferente dos planos do vilão, é Aladdin quem fica com o artefato em seu poder. Quando o Gênio (Robin Williams) é libertado, o ladrão de bom coração percebe as possibilidades que um amigo com superpoderes pode lhe trazer. Virar um príncipe para conquistar a bela Jasmine é um bom começo. Assim nasce Ali Ababwa, um pretendente que tem tudo para balançar o coração da princesa de Agrabah.

Apesar de ter contado no passado com nomes famosos em seu elenco de vozes, Aladdin marca a primeira vez que um astro do calibre de Robin Williams foi convidado para participar de uma animação Disney. E o papel do Gênio foi escrito com o ator em mente, com a possibilidade de usar todo o talento de improvisação do comediante. Assim foi feito. Os diálogos do personagem foram criados na hora por Williams, que era avisado pelos diretores do que se tratava a cena e de pontos chave que precisavam ser endereçados pelo Gênio. Assim nasceu um dos personagens mais divertidos da história dos estúdios do Mickey. Apesar de ter “poderes cósmicos e fenomenais”, o seu real superpoder é o senso de humor anárquico. Pegando referências do mundo real, citando Robert De Niro, Jack Nicholson, Groucho Marx, Ed Sullivan, e incluindo personagens Disney em suas piadas (Pinóquio e Sebastião), o mágico coadjuvante de Aladdin rouba a cena assim que surge. Além de ser o ajudante engraçadinho, o Gênio ganha camadas interessantes ao apresentar seu drama, o fato de ser um prisioneiro em uma lâmpada mágica. Este infortúnio acaba aproximando (e lá pelas tantas afastando) Aladdin do seu amigo azul.

Por falar no herói da história, o rapaz também possui seus problemas. Apaixonado por Jasmine, mas temendo que a princesa não aceitasse um rapaz pobre como namorado, Aladdin se esconde atrás da figura de Ali Ababwa, tentando conquistá-la através de mentiras. Para ganhar o coração da garota, ele precisa aceitar quem é, antes de ela ter de fazer o mesmo. Logo, Aladdin perceberá que a ausência da verdade pode colocar tudo a perder – machucando não só sua amada, mas todos que moram em Agrabah. Marca dos estúdios Disney, a lição de moral aqui – assim como acontece em boa parte das produções da década de 1990 – é escondida em uma embalagem colorida e divertida, ensinando algo para a criançada sem pesar a mão.

Depois do acerto da heroína em A Bela e a Fera, Jasmine é outra figura que mostra o surgimento do girl power nos filmes Disney. A princesa de Agrabah não é uma donzela em perigo apenas. Ela foge do palácio, se mete em confusões com o futuro namorado, tenta salvá-lo das mãos de Jafar e é esperta o suficiente para observar as mentiras de Aladdin como o príncipe. Ainda que algumas cenas possam demonstrar a impotência da menina frente ao poderio masculino (sultão e vizir, por exemplo, tentam selar o destino da garota), perto das princesas Disney de décadas passadas, Jasmine é uma figura forte e quem não se deixa abater.

Jafar pode ser o grande vilão da história e sua ameaça é constante na trama, mas Iago (Gilbet Gottfried), o papagaio vermelho, acaba roubado a cena com seu jeito neurótico e nervoso de ser. O sucesso do personagem foi tamanho que nas continuações e no seriado da tevê, os roteiristas deram um jeito de colocá-lo ao lado de Aladdin e seus amigos.

Algo que chama a atenção no longa-metragem são as cores fortes utilizadas. Ron Clements e John Musker carregam no vermelho, no azul e no amarelo, criando uma paleta de cores que nos diz, sem qualquer outro tipo de informação, se o que estamos vendo é algo bom, malvado ou neutro. Por isso, Jafar veste aquela longa túnica vermelha, Jasmine está sempre de azul e os populares de Agrabah (e as cenas que envolvem o mercado e as ruas) sempre carregam no amarelo. O estilo do desenho foge um pouco do que costumávamos ver em animações Disney, com algo mais caindo para caricatura do que para a representação humana correta.

Um dos poucos problemas narrativos de Aladdin – e que incomoda quase nada – é o narrador do início da trama, que nunca retorna e que é absolutamente descartável. A ideia original era revelar ao final que o mercador que conta a história é, na realidade, o Gênio disfarçado. Por isso, a voz de ambos é emprestada por Robin Williams. O conceito foi abandonado no decorrer da produção, mas o narrador foi mantido, sem qualquer motivo para existir. Um daqueles problemas que acontecem quando o roteiro tem muitas mãos e é mexido durante a produção. Em Aladdin, mais de 15 pessoas são apontadas como responsáveis pela história. Nos créditos, apenas os diretores são creditados ao lado da dupla Terry Rossio e Ted Elliot (que, anos mais tarde, dariam vida a franquia multimilionária Piratas do Caribe).

Com canções inesquecíveis, Aladdin foi indicado a três prêmios da Academia, levando dois deles para casa – Melhor Trilha Sonora e Melhor Canção Original, para A Whole New WorldA Friend Like Me concorria na mesma categoria. É um daqueles clássicos que, como tantos outros do estúdio Disney, não envelhecem jamais. Quem o assistiu quando criança tem tudo para continuar amando o filme e os personagens depois de adulto.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista, produz e apresenta o programa de cinema Moviola, transmitido pela Rádio Unisinos FM 103.3. É também editor do blog Paradoxo.
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