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Sinopse
Laura e Kate são irmãs que moram em Paris e que possuem o dom (ou a maldição?) de falar com fantasmas e demais seres de outros planos. As duas acabam despertando o interesse do visionário produtor francês André Korben.
Crítica
Por mais hollywoodiana que Natalie Portman pareça ser, ela é, de fato, uma atriz do mundo. Nascida em Jerusalém, Israel, a estrela vencedora do Oscar – muito merecidamente, aliás – por Cisne Negro (2010) primeiro chamou a atenção de todos ao aparecer ao lado de Jean Reno no francês O Profissional (1994), e desde então já marcou presença em títulos tão díspares entre si quanto o israelense Free Zone (2005), de Amos Gitai, o espanhol Sombras de Goya (2006), de Milos Forman, e os coletivos Paris, Te Amo (2006) e Nova York, Eu Te Amo (2008), além de blockbusters como Star Wars: Episódio I – A Ameaça Fantasma (1999) e Thor (2011). Seguindo essa lógica, quando decidiu estrear como diretora voltou à sua terra natal para realizar o drama De Amor e Trevas (2015), todo falado em hebraico. Por isso mesmo, não causa surpresa ela promover outra volta às origens – agora, ao cinema francês – ao aparecer como protagonista de Além da Ilusão, seu primeiro trabalho após a oscarizável cinebiografia Jackie (2016). E o resultado, se não chega a ser um dos seus momentos mais memoráveis, ao menos é intrigante o suficiente para se diferenciar da grande maioria de produções genéricas feitas nos Estados Unidos.
Ainda que Natalie Portman seja o nome de maior destaque da produção, Além da Ilusão é um filme típico da realizadora Rebecca Zlotowski. Quem conhece seus trabalhos anteriores – Belle Épine (2010) e Grand Central (2013), ambos estrelados por Léa Seydoux, e Apesar da Noite (2015), atualmente em cartaz no Brasil e do qual ela participa apenas como roteirista – perceberá que seu foco está não apenas nos desenlaces amorosos vividos por seus personagens, mas, antes de tudo, nas consequências dessas relações e no estudo dos elementos que os motivam tanto a se aproximaram quanto, na mesma medida, naquilo que termina por afastá-los. São figuras aparentemente perdidas, desconectadas do espaço que as cercam e daqueles ao seu redor que com elas tentam estabelecer qualquer tipo de troca, seja emocional, profissional ou meramente social. Ambiciosas, vislumbram um futuro talvez impossível, sem se darem conta de que antes há muito a ser enfrentado no aqui e agora.
No começo de Além da Ilusão, as irmãs Laura (Portman) e Kate Barlow (Lily-Rose Depp, filha de Johnny Depp e Vanessa Paradis, em um dos seus primeiros papéis de destaque) passam a noite na janela do trem que as conduz até Paris. Elas indagam o que podem esperar do amanhã – mais segurança, conforto, tranquilidade? Ou seriam novas emoções, excitações e surpresas? As duas estão tão centradas em seu próprio mundo que o grande desafio a ser vencido aqui é como transformar essa simbiose em duas personalidades distintas. Laura e Kate ganham a vida se apresentando em bares e cabarés com um número sobrenatural em que conseguem se comunicar com os mortos. A que possui o dom espírita verdadeiro é a caçula, mas quem toma as decisões pelas duas é a mais velha. Quando caem nas graças de um produtor de cinema (Emmanuel Salinger, de Marguerite & Julien: Um Amor Proibido, 2015) que deseja explorar a habilidade delas de um modo mais visual, aumentando as possibilidades de reconhecimento e fama para elas, junto com a boa nova vem também o início de uma inevitável separação. Primeiro de modo subliminar, para logo em seguida se dar como nunca antes ocorrera.
É nesse ponto em que Natalie Portman se sobressai aos seus colegas de elenco mais imediatos. Sua Laura Barlow é uma mulher à beira da mudança, e abraça o que lhe é oferecido sem pensar duas vezes, ainda que os inevitáveis sentimentos de substituição ou emancipação venham combinados em uma mistura de alívio e preocupação. Muito disso, é claro, por causa do destino de Kate, que talvez não saiba como seguir uma vez deixada para trás. Portman é uma atriz tão completa que sua superioridade só se torna mais evidente ao lado de uma principiante como Lily-Rose, e em nada contribui o aspecto modorrento dessa conduzir sua interpretação. Salinger é outra figura que também soa equivocada, e a possível atração que ele deveria exercer nas duas é mais uma exigência do roteiro do que algo que transcorra de forma natural. Por outro lado, as interações de Portman com Louis Garrel – em participação especial – e Damien Chapelle (Garotas, 2014) acabam se desenvolvendo de modo muito mais fluido, principalmente por se darem em um ambiente no qual já esperamos encontrá-la: enquanto a irmã fica restrita às suas possibilidades psíquicas, Laura decide abraçar o que faz melhor – o universo do entretenimento – deixando, no entanto, os palcos e partindo, justamente, para as telas de cinema.
Sem se resignar diante de soluções fáceis que poderiam funcionar junto a um público menos exigente, Rebecca Zlotowski parece intencionalmente deixar de lado os caminhos trilhados por cada um dos seus protagonistas – Laura, Kate e André – para mostrar que, separados, talvez sejam mais fortes do que uma vez juntos. Um fato que, infelizmente, não se dará de forma equilibrada entre os três. As interações entre eles, que vão da suspeita à admiração, do desejo de posse à necessidade de liberdade, se evaporam assim como as estrelas de um céu distante, já eliminadas do cosmos, mas, ainda assim, brilhantes para aqueles que as observam à distância. Assim, Além da Ilusão cumpre sua missão de aproximar fantasia com realidade, sem deixar muito claro a qual lado está se referindo em cada uma destas etapas da discussão: seria a arte tão invasiva e intangível quanto o espectro de algo que já se foi – ou que talvez nunca tenha sido – mas que segue pulsando ao alcance dos mais sensíveis? As questões se espalham por toda a trajetória destes que aqui buscam apenas um lugar ao sol, ainda que esse seja tão soturno quanto a luz da lua.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Robledo Milani | 6 |
Ailton Monteiro | 6 |
Alysson Oliveira | 5 |
MÉDIA | 5.7 |
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