Crítica
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Sinopse
De volta à sua cidade natal a fim de visitar a mãe que teve um AVC, Aun San Suu Ky acaba numa batalha enorme.
Crítica
O Brasil é um dos últimos países do mundo a ter a oportunidade de conferir Além da Liberdade nos cinemas – o último, de fato, será a Argentina, que o lançará duas semanas após a estreia brasileira e depois de mais de 30 países já o terem visto desde sua primeira exibição oficial, no Festival de Toronto, em 12 de setembro de 2011. Essa espera de quase um ano não tirou a força do projeto – pelo contrário, tornou-o ainda mais relevante. Pois a história que aqui temos é a vida de Aung San Suu Kyi (interpretada magistralmente por Michelle Yeoh, de O Tigre e o Dragão, 2000, e Memórias de uma Gueixa, 2005), ativista pela democratização da Birmânia (ou Mianmar). Ela recebeu o Nobel da Paz em 1991, quando se encontrava em prisão domiciliar em Rangum, capital do país, e somente agora, após passar mais de 20 anos presa, é que irá receber o prêmio.
Suu Kyi está de volta às manchetes, e toda referência à ela é justa e merecida. Além da Liberdade dá conta da imensa tarefa de contar a história de uma menina que, ainda criança, perdeu o pai, herói da independência da Birmânia, assassinado por golpistas que almejavam o poder. Anos depois, já adulta, ela se casou com um inglês e foi morar em Londres, onde teve dois filhos. Mas foi obrigada a retornar à terra natal para cuidar da mãe enferma. Neste processo acaba se envolvendo com a política local, principalmente com os rebeldes cansados da violência de um regime desmedido e déspota, que tolerava mortes em plena luz do dia e rebatia qualquer movimento contrário ao seu discurso. Suu Kyi foi sempre contra a luta armada e sempre pregou o diálogo e a tolerância. Por isso eliminá-la era uma tarefa cada dia mais difícil, visto que o medo da criação de um novo mito assustava os generais no comando.
É estranho perceber que Além da Liberdade é um filme dirigido pelo francês Luc Besson, conhecido por aventuras visualmente estilizadas como Imensidão Azul (1988) e O Quinto Elemento (1997). Mas a trama de uma heroína que luta pela salvação de seu povo encontra eco em outro dos seus longas, o épico Joana d’Arc (1999). A semelhança, no entanto, termina aí. Enquanto que a grandiosidade dos feitos da santa francesa guerreira dominavam a tela, aqui tem-se um tom completamente diferente, que privilegia a discrição e os detalhes. Tudo é muito simples e convencional, apresentando-se num formato bastante tradicional e sem nenhum virtuosismo. Isso abre espaço para os atores, e tanto Yeoh quanto David Thewlis (Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban, 2004), que aparece como o marido compreensivo e dedicado, apresentam performances irretocáveis, bem na medida da importância dos personagens que defendem.
Se o conteúdo tem muito mais relevância do que a forma, a se lamentar apenas o fato de que muito pouca gente conferiu Além da Liberdade, mantendo uma trajetória tão singular e comovente ainda distante do conhecimento da maioria. A bilheteria internacional do projeto foi praticamente inexpressiva, e mesmo a crítica o recebeu de forma fria e distanciada. O único reconhecimento mais expressivo foi a indicação da protagonista como Melhor Atriz no Satellite Awards (uma associação menor dentro do circuito hollywoodiano), em que foi derrotada por Viola Davis (Histórias Cruzadas, 2011). Mas agora, distante da temporada de prêmios e à luz dos feitos cada vez mais destacados da biografada, talvez possa ser analisado com mais carinho e interesse, encontrando, finalmente, um público que o justifique.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Robledo Milani | 7 |
Alex Gonçalves | 6 |
Francisco Carbone | 3 |
MÉDIA | 5.3 |
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