Crítica
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Sinopse
Na esperança de fazer algumas descobertas, estudantes de medicina começam a explorar o reino das experiências de quase morte. Cada um deles passa pela experiência de ter o coração parado e depois revivido. Eles passam a ter visões em flash, como pesadelos da infância, e a refletir sobre pecados que cometeram. Os experimentos se intensificam, e eles passam a ser afetados fisicamente por suas visões enquanto tentam achar uma cura para a morte.
Crítica
Remake de Linha Mortal (1990), Além da Morte é atravessado por uma moral religiosa, em princípio mal disfarçada e depois escancarada. O ambiente do longa-metragem dirigido por Niels Arden Oplev é um hospital universitário, onde cinco residentes acabam embarcando num experimento extremamente perigoso. Com o pretexto de documentar cientificamente os misteriosos episódios post-mortem, Courtney (Ellen Page) se submete a um procedimento de passamento induzido, para que seus colegas consigam realizar exames enquanto seu coração está inerte. Durante os 60 segundos de parada cardíaca, seu espírito vaga pelo campus, algo visto por meio de uma câmera subjetiva que tenta nos dar a exata noção das sensações com o desligamento do corpo e o acesso a um âmbito metafísico. Após a óbvia tensão da ressuscitação, ela acusa mudanças significativas, como a erupção incomum de conhecimentos adquiridos há muito tempo, o suficiente para os outros desejarem isso, custe o que custar, a fim de obter vantagens.
O cineasta perde tempo demasiado no embarque de cada um do grupo nessa arriscada jornada, não sem antes reforçar desajeitadamente as características de todos eles. Marlo (Nina Dobrev), a competitiva; Jamie (James Norton), o fútil galã; Sophia (Kiersey Clemons), a perturbada pela pressão materna; e Ray (Diego Luna), o hispânico responsável. Além da Morte acompanha de perto essas viagens individuais, reforçando, ao contrário do visto na hora de Courtney, que o “outro lado” também pode ser perigoso. Uma vez passada a desnecessariamente extensa fase de exposição, o longa oferece algumas pitadas de terror, com a deflagração de ocorrências ameaçadoras. Apelando a transições bruscas, Oplev logo começa a dar relevo à moral religiosa anteriormente mencionada, com a montagem do mecanismo sobrenatural, calcado nos pecados do passado que voltam para assombrar mortalmente aqueles que ousaram desfiar a instância da morte.
São diversas as fragilidades que tornam Além da Morte uma realização anódina e genérica. A começar pela maneira superficial como a trama é conduzida, oscilando entre a dimensão terrífica e a construção de elos artificiais entre os personagens. O trabalho do elenco não ajuda qualquer aspiração emocional. Ellen Page e Diego Luna, ambos na casa dos 30 anos, não convencem como estudantes, embora haja um esforço de produção para fazê-los parecer mais jovens. Nina Dobrev demonstra apatia impressionante, conseguindo apenas fazer de sua personagem, involuntariamente, ora antipática, ora praticamente irrelevante. Kiersey Clemons e James Norton não comprometem, mas tampouco conseguem ir além do que a limitação dos respectivos papeis oferece. Oplev, por sua vez, deixa clara a sua dificuldade para lidar com a interpenetração dos elementos do filme, derrapando ainda mais quando o horror se instaura com aparições fantasmagóricas.
Além da Morte é fundado na imprescindibilidade do perdão. A inclinação religiosa, óbvia já na primeira “viagem”, com a câmera trespassando o vitral de Jesus Cristo numa igreja, se adensa a partir do momento em que as pessoas entendem a necessidade de obter a absolvição para deixar os espectros aterrorizantes para trás. Sem contar o abandono ligeiro da característica de expansão da mente, a bem da verdade, motivadora do embarque dos colegas no método de Courtney para alargar consideravelmente a compreensão científica e humana, o desenvolvimento das consequências é trôpego, por praticamente abstrair nuances e complexidades sem, ao menos, investir desbragadamente nos cânones do gênero. Aqui, a sobrevivência depende da contrição, numa lógica cristã que nem se consolida, servindo somente de estofo irregular. Contando com atuações burocráticas e uma direção não menos responsável pela debilidade do todo, o filme naufraga inapelavelmente.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Marcelo Müller | 3 |
Roberto Cunha | 4 |
MÉDIA | 3.5 |
Tem que mudar o nome "Ellen Page" para "Eliott Page", o Eliott é um homem trans e Ellen é o dead name dele