Crítica
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Sinopse
Três policiais civis são incumbidos de se infiltrar no Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro, para garantir a captura de um bandido que está no topo do narcotráfico local. No entanto, eles logo são sitiados e veem o cerco se fechando.
Crítica
Oito anos depois de Alemão (2014), muitas coisas mudaram no cinema brasileiro, bem como no panorama do crime organizado do Rio de Janeiro – principal assunto do filme dirigido por José Eduardo Belmonte. Sua continuação, Alemão 2, começa justamente apresentando essa alteração de cenário por meio de uma mistura entre cenas reais e ficcionais. Se no começo da década passada o maior problema das comunidades conhecidas como favelas era o domínio pelo tráfico de drogas, após esse período o painel se tornou um pouco mais complexo. Os narcotraficantes continuam mandando em áreas estratégicas, mas agora a Cidade Maravilhosa tem uma praga que cresceu desenfreadamente: as milícias. Aliás, é curioso que o longa original sequer citasse esse problema que já tinha sido o tema de um longa feito quatro anos antes, Tropa de Elite 2: O Inimigo Agora é Outro (2010). Fechados os parênteses, espera-se pela introdução dessa sequência de um sucesso de público que ela encare os milicianos como alvos dentro de uma política de segurança pública absolutamente falha. Belmonte sinaliza a realidade do sucateamento das Unidades de Polícia Pacificadora (as UPPs), traz um que outro dado a respeito da precarização do trabalho policial, mas não aprofunda as investigações. Seu filme carrega as mesmíssimas fragilidades do antecessor, a começar pelo fator humano.
Em Alemão, José Eduardo Belmonte e seu time de roteiristas pegavam emprestada a estrutura narrativa do clássico faroeste Onde Começa o Inferno (1959) – por sua vez, homenageado por John Carpenter em Assalto à 13ª DP (1976) – para fazer um filme em que a tensão deveria ser cozinhada pelo compasso de espera. Cinco policiais que tinham seus disfarces revelados durante a operação de ocupação do Complexo do Alemão ficavam sitiados numa pizzaria, esperando o momento de escapar ou a entrada do inimigo, a qualquer momento, para o confronto de vida e morte. E o que fez a estratégia não funcionar tão bem na produção brasileira foi a falta de cuidado com o material humano (singularidades, traços emocionais e de personalidade) num processo de inflamação pela ausência de tempo e espaço para melhor reagir. Em Alemão 2 parece que tudo será tão diferente, uma vez que: temos mais cenas fora da comunidade; os policiais são vistos em situações mais diversificadas; há novos elementos quanto à conjuntura geral. No entanto, o resultado é praticamente o mesmo. Primeiro, porque a lógica das milícias (anunciadas no prólogo) é desenvolvida sem tanta ênfase nas particularidades do funcionamento dessa estrutura criminosa. Ainda somos submetidos a traficantes como vilões. Segundo, porque os atributos dos personagens não se transformam em aspectos determinantes.
Orientados por uma superior com pinta de policial idealista, Machado (Vladimir Brichta), Freitas (Leandra Leal) e Ciro (Gabriel Leone) sobem a favela para capturar o foragido Soldado (Digão Ribeiro). Acabam sitiados várias vezes em lugares distintos. A lógica é a mesma do filme de 2014: homens (e agora uma mulher) da lei encurralados pela bandidagem em vantagem numérica e bélica. O fato de Freitas ser uma novata apenas serve às piadinhas do colega do jeitão de bad boy. Em nenhum instante essa condição define os seus comportamentos ou algo que ela apresente no meio do fogo cruzado. De certo modo, Leandra Leal desempenha função semelhante a de Caio Blat no primeiro longa-metragem. Já a agressividade de Ciro apenas existe para ele ser o elo imprevisível da tríade que deveria funcionar como um relógio. Por fim, Machado tem todas as ferramentas para usar as roupas e os trejeitos do herói ferido, aquele que deve superar os traumas do passado se quiser sobreviver e ajudar os colegas a chegarem a salvo em casa. Esses modelos são apresentados, mas não desenvolvidos. Isso principalmente porque os traços inerentes a cada um desses paradigmas (herói fraturado, novata e agressivo) estão a serviço dos dados mais superficiais da trama. Preste atenção em como as crises de ansiedade de Machado nunca colocam, de fato, em risco a missão desses três.
Mas, Alemão 2 tem outras fraquezas. A subtrama do policial de UPP (outro idealista) envolvendo Mariana (Mariana Nunes), única remanescente de Alemão, poderia ser excluída do filme sem qualquer prejuízo à rasa discussão sobre bandidagem equipada versus polícia precária. Novamente, Mariana é restrita ao papel da “namorada de”. No filme de 2014, sua existência era definida por um romance antigo com o chefe do Complexo. Neste, seu estatuto é o mesmo, com a única diferença do envolvimento ser com um empenhado homem da lei. José Eduardo Belmonte parece colocar em patamares distintos a ação, a discussão social e a observação humana. O roteiro assinado por Thiago Brito, Marton Olympio e Pedro Perazzo, entre outros, não interliga essas camadas ao ponto de elas se tornarem partes indissociáveis de um todo. Sendo assim, a sutil compartimentação é em boa parcela responsável pela temperatura morna do filme. Essa consequência pode ser também creditada à falta de engenhosidade na fervura da verdade por baixo dos panos da intriga policial acontecendo no Complexo do Alemão. E também à utilização protocolar do tempo escasso e dos espaços limitados durante as tentativas de criar tensão e imprimir intensidade. O filme não sustenta um discurso denso e veemente nem quando Belmonte alude à realidade das ações policiais que resultam na morte de inocentes. Tudo acaba parecendo simplesmente efeito colateral, sem qualquer reflexão, pelo menos, de a quais senhores cada um desses peões serve. E como filme de ação, deixa a desejar pela ausência de adrenalina em cena.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Marcelo Müller | 5 |
Robledo Milani | 6 |
Francisco Carbone | 7 |
Bruno Carmelo | 6 |
Alysson Oliveira | 6 |
Lucas Salgado | 6 |
MÉDIA | 6 |
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