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Crítica


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Sinopse

Um jovem a bordo de um submarino nuclear da França é reconhecido como "ouvido de ouro". Esse apelido é devido ao seu raro dom de conseguir identificar qualquer tipo de som e, justamente por isso, carrega muita responsabilidade sobre suas funções. No entanto, acaba cometendo um erro gravíssimo e perde a confiança dos demais companheiros, além de colocar a vida de todos em risco.

Crítica

O protagonista de Alerta Lobo é um especialista em acústica de guerra. Sua função, quando em missões militares, é identificar possíveis entraves submarinos, como se pode ver na primeira sequência do filme dirigido por Antonin Baudry. Aliás, é sintomático o tempo conferido à apresentação das habilidades excepcionais de Chanteraide (François Civil), que dizem respeito não apenas à acuidade auditiva, mas a um profundo conhecimento do funcionamento e da morfologia de equipamentos bélicos. Ele é obsessivo, conhece milimetricamente os ruídos das pás, das rotatórias, dos torpedos, enfim, das engrenagens de combate. Portanto, é de vital importância no mar, sobretudo em grandes profundidades, onde a visibilidade é praticamente nula. A dedicação desse homem também passa pelo desenho do empenho em desvendar um enigma que pode ser vital à confabulação geopolítica. Todavia, a narrativa não se detém nas diplomacias.

Alerta Lobo é esquemático, vítima da compartimentação excessiva, ainda que consiga entreter o suficiente, fundamentalmente por meio da boa exploração da exiguidade dos espaços. Pode-se dizer que o conjunto se divide em três partes delimitadas. Na inicial, uma espécie de prólogo, há o estabelecimento dos parâmetros táticos e dos concernentes ao protagonista, bem como aos seus colegas de embarcação. Principalmente Grandchamp (Reda Kateb) e D’Orsi (Omar Sy) são desenhados como sujeitos de fibra, dispostos a qualquer coisa para completar as tarefas a eles atribuídas. Na secundária, a busca de Chanteraide por respostas, as quebras de protocolo visando expor a verdade – tal finalidade, então, estaria acima das regras marciais –, e o envolvimento meramente burocrático com Diane (Paula Beer), traço praticamente descartável que está ali apenas para situar o homem num âmbito que não o profissional, isso além de apontar de leve à intimidade.

Na terciária das frações, o embate inusitado entre colegas, em virtude da cortina de fumaça lançada por um grupo que opera nas sombras. Uma vez que relega a esfera estratégia a um bando de códigos e procedimentos laborais, negligenciando o jogo internacional que envolve nações como a Rússia e os Estados Unidos, Alerta Lobo perde potência dramática ao expor o ardiloso plano da potência extremista. Toda a lenga-lenga em torno de quem torpedeou, dos motivos que levam determinado país a agir intempestivamente, serve tão e somente para mostrar a necessidade desses homens de fibra de agir, sob pressão, repentina e assertivamente. Mesmo diante de dilemas morais, de cisões entre o dever e a lealdade, o cineasta Antonin Baudry não amplifica os dramas humanos, passando por suas instâncias brevemente, privilegiando as claustrofobias literal e metafórica, ambas inerentes à situação apresentada na telona com um bom senso de urgência.

Chanteraide perde força nessa fração derradeira, sendo restrito a atuar pontualmente diante de uma crise de proporções insólitas. Nesse sentido, sua singularidade é diluída, assim como a dos demais personagens, por conta das decisões tomadas cada vez em menor tempo. Alerta Lobo é bem conduzido, a trama se desvela com clareza, num ritmo adequado à voltagem emocional que as circunstâncias suscitam no mais das vezes, mas é flagrante a pouca profundidade dramática (a ironia posta de um filme ambientado num submarino que “nada no raso”) em função da manutenção da ação. Gradativamente os ingredientes do cerimonial militar, os passos dos soldados e dos oficiais, inclusive num episódio de conflito, sufocam motivações e atuações, quando muito deixando espaço a contingenciais demonstrações de heroísmo e hombridade. François Civil delineia com habilidade o protagonista até o ponto permitido pela direção que se perde frente às várias possibilidades.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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