Crítica


5

Leitores


1 voto 8

Onde Assistir

Sinopse

O filme se debruça sobre a decisão do idolatrado jogador Alex de voltar a vestir a camisa do Coritiba depois de destacadas passagens por times nacionais e internacionais. O fato causou grande comoção na comunidade futebolística.

Crítica

Considerado um dos principais camisas 10 do Brasil dos últimos vinte anos, Alex surpreendeu boa parte dos torcedores ao optar por uma reconexão com suas raízes no retorno à cena local. Deixando para trás a condição de ícone na Turquia, recusou propostas milionárias de agremiações mais abastadas para fechar seu último contrato profissional com o Coritiba, clube onde começou uma carreira tão marcante quanto exemplar nas quatro linhas. Alex Câmera 10 propõe-se a documentar essa volta do filho pródigo à capital paranaense. O cineasta Cauê Serur Pereira entremeia o relato de tal movimento de regresso com os depoimentos de ex-colegas que reverenciam o protagonista, lendo-o como excepcional no esporte. Infelizmente, a despeito das boas sacadas, de certo deleite aos amantes do futebol, o filme rapidamente se mostra refém de um esquema um tanto endurecido, no qual blocos sem grandes variações vão se sucedendo na ovação a esse ex-atleta.

Alex Câmera 10 traz testemunhos de craques como Djalminha, Zico, Evair e outros tantos esportistas que manifestam o prazer de ter feito parte da jornada de Alex, menino saído da periferia de Curitiba para se consagrar nos campos do mundo. O tom laudatório entrecorta integralmente o longa-metragem, assim deflagrando a intenção de homenagear um personagem também querido pelas torcidas do Palmeiras e do Cruzeiro em virtude da potência de sua canhota habilidosa. O realizador sequer aposta em causos estrelados ou coadjuvados por Alex, estes que poderiam ser explorados nas várias entrevistas. Uma pena, portanto, que não aproveite a singularidade das pessoas observadas pela câmera, acabando por homogeneizar participações, fazendo delas meras exposições de uma admiração incontestável. O próprio Alex surge esporadicamente na telona, mas pouco acrescenta ao caminho desenhado com doses expressivas de reiteração.

A derradeira passagem do jogador pelo Coritiba é delineada em Alex Câmera 10 a partir do relato monocórdico dos feitos nas principais partidas do período retratado. A voz do narrador, semelhante em tom a de um cronista esportivo, aponta gols decisivos e contusões que afastaram o capitão de partidas importantes, num percurso que, assim como os demais oferecidos paralelamente, prontamente cai numa espiral contraproducente de repetições. Falta, por exemplo, à montagem acentuar a dramaticidade de determinadas passagens sintomáticas. O documentário não reproduz a emoção dos jogos, contentando-se com pontuações em que, não raro, som e imagem acabam redundantes, passando longe de estabelecer uma noção rica de complementariedade. A trilha sonora surge como outro componente burocrático que apenas emoldura o visual, sem adicionar a ele uma camada consistente de significado. É um filme bem informativo e protocolar.

Embora tenha acesso privilegiado a episódios emblemáticos do caminhar rumo ao crepúsculo de uma carreira exitosa – vide a presença nos vestiários antes da última partida de Alex como profissional – Cauê Serur Pereira pretere o que poderia conferir personalidade ao filme em função de um tributo convencional ao ídolo dos chamados Coxa-Branca. Desperdiçando o potencial de personalidades do futebol e não conseguindo estabelecer um itinerário instigante (senão aos familiarizados com as peripécias futebolísticas desse meia-esquerda de rara habilidade e visão de jogo), o cineasta fica restrito a uma sucessão de dados, bem como a simples constatações desprendidas de ocasiões potencialmente emocionantes, mas que aqui não exacerbam o seu caráter estritamente informativo. O documentário é quase refratário ao proveito dos leigos quanto à contribuição de Alex ao futebol tupiniquim, pois cinematograficamente limitado aos merecidos festejos.

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.
avatar
Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.
avatar

Últimos artigos deMarcelo Müller (Ver Tudo)

Grade crítica

CríticoNota
Marcelo Müller
5
Thomas Boeira
5
MÉDIA
5

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *