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Crítica


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Sinopse

Alex Truelove é um aluno exemplar do último ano do Ensino Médio. Ele tem um grande futuro pela frente, mas antes de se formar quer alcançar o último marco da adolescência: perder a virgindade com a sua namorada, Claire. Tudo se complica quando conhece Elliot, um charmoso menino gay que sem querer põe Alex em uma jornada de autodescoberta.

Crítica

Sair do armário é uma experiência única para cada gay, lésbica, transexual, enfim, qualquer um que não se encaixe como heterossexual em sua natureza. Há (infelizmente) experiências traumáticas de quem não foi aceito em casa, inclusive expulso, ou até morto, mas também os que conseguiram lidar com a situação de forma feliz com o acolhimento da família. Porém, muito antes do coming out chegar, o que poucos sabem é o quão difícil é ter dúvidas a respeito sobre qual tipo de corpo, masculino, feminino, ou ambos, podem nos atrair. É um processo dolorido, recheado de dúvidas, incertezas e o velho preconceito inserido na mente de todos desde pequenos. E é muito mais sobre este aprendizado do que qualquer outra coisa que Alex Strangelove trata. A produção da Netflix pega carona em outra comédia romântica gay de sucesso recente, Com Amor, Simon (2018), para tratar da descoberta da sexualidade sob outro viés, tão interessante e eficaz quanto.

O cenário não poderia diferente: em meio ao ensino médio norte-americano, o nerd Alex Truelove (Daniel Doheny) é um rapaz virgem que tem como meta encontrar a garota certa para se apaixonar e transar pela primeira. Esta miragem se traduz na forma de Claire (Madeline Weinstein, de Beach Rats, 2017), uma menina nova na escola que, assim como o protagonista, é apaixonada pelo estudo de animais. A amizade iniciada em sala de aula se intensifica, os dois acabam namorando, mas a grande dúvida paira sobre Alex: qual o momento certo da primeira vez? Enquanto planejam tirarem o atraso em uma noite romântica num hotel, o rapaz acaba por conhecer um jovem gay recém-formado e também recém assumido: Elliot (Antonio Marziale, de Altered Carbon, 2018), com quem desenvolve uma certa cumplicidade que parece ir além da admiração.

O roteiro, escrito e dirigido por Craig Johnson (com produção de Ben Stiller), tem claro onde quer chegar e não engana o público: todos sabem como a história deve terminar. A graça é justamente no desenvolvimento contemporâneo de seus personagens, tão abertos quanto outros jovens que vivem o mundo atual. Alex tem três amigos que, se possuem seus preconceitos, nunca os revelam publicamente. Especialmente Dell (Daniel Zolghadri, de Fahrenheit 451, 2018), um misto de clichê ambulante de companheiro sem noção com, na verdade, a maior sensatez de todos do longa. O garoto é um espelho do público inteligente e antenado que conhece as transformações do mundo na adolescência, especialmente no que se refere à sexualidade. Sua falta de pudores – e de forma objetiva – em falar sobre as mais variadas letras da sigla LGBTQ+ (sim, ela não existe à toa, e sim para incluir todos) é um dos pontos altos do filme.

Também não é difícil transpor para a realidade o namoro de Alex e Claire com o de muitos casais da vida aqui fora em que um (se não até os dois) descobrem que, na verdade, gostam é de outra coisa. Por isso, por mais que em alguns momentos a mão do diretor pese sobre a culpa do protagonista em relação ao que sente pela garota (e, consequentemente, torçamos por ela devido a algumas atitudes realmente infantilóides do protagonista), o desenvolvimento é também compreensível para mostrar a mente confusa de alguém que se sente tão inseguro sobre a própria sexualidade. Há vários Alex na vida real, e muitos são adultos casados com mulheres há anos.

O longa ainda se mostra eficiente em dosar a comédia com o drama latente, sem nunca pender para um pastelão ou romantismo sofrido exacerbado. Tanto que até um quesito acaba preterido ao longo do caminho: o próprio personagem de Elliot.Ele simplesmente some quando o grande conflito aparece, podendo levar o público questionar até que ponto o sentimento de Alex por ele é de fato intenso ou apenas um subterfúgio para sua carência. Ao mesmo tempo, é inegável o carisma de seu intérprete, que conquista a todos com sua naturalidade. Aliás, pontos em geral para todo o elenco, especialmente a Marziaele e a Weinstein, que eleva Claire da simples garota traída para uma personagem repleta de camadas realistas.

Talvez o grande trunfo de Alex Strangelove seja exatamente este: tratar um tema real e muito complicado com leveza, podendo agradar não apenas aos espectadores homo como também os heterossexuais. O filme é uma carta aberta sobre quão difícil pode ser se assumir para o mundo, mas como é ainda mais gratificante se sentir orgulhoso de quem é, principalmente se contando com o apoio da família e dos amigos mais próximos. Aqui não há espaço para preconceitos. Também não é uma produção que vai marcar época e se tornar o grande referencial LGBTQ da segunda década do século XXI, mas mostra que o cinema pode ir além do que mostrar apenas o sofrimento de homossexuais. Há espaço para a felicidade da minoria, por mais árdua que ela seja em tempos retrógrados. Porém, é mais positivo ainda mostrar que nem tudo pode ir por água abaixo quando a porta do armário se escancara. É só se deixar levar. Seja pelo Alex da tela ou de todos que vivem aqui fora.

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é crítico de cinema, apresentador do Espaço Público Cinema exibido nas TVAL-RS e TVE e membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista e especialista em Cinema Expandido pela PUCRS.
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