Crítica
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Sinopse
Helena, uma jovem e bem-sucedida mulher de 30 anos, dá de cara com uma nova paixão, Alex. Mas, se a princípio as coisas parecem perfeitas, com o passar do tempo ela se verá estagnada em mais uma relação rotineira. O problema é quando Helena deseja que Alex se torne um pouco mais parecido com ela e algo inesperado acontece: quando olha para ele, vê a figura de uma bela mulher. Seu desejo foi atendido, porém não da forma que imaginava.
Crítica
A mudança de ambiente pode ser um poderoso afrodisíaco. Alternar cenários, descobrir novos destinos e interagir com pessoas diferentes é estimulante para aqueles de mente aberta e sem ressalvas no trato com os outros. Esse, infelizmente, não é o melhor modo de descrever Helena (Paolla Oliveira), a protagonista de Alguém Como Eu. Ela é uma mulher independente, dona do seu próprio nariz, mas eternamente insatisfeita. Sua vida parece, enfim, ter entrado nos eixos quando conhece Alex (Ricardo Pereira), um homem bonito, galante e educado, que também se deixa levar pelos encantos dela. Porém, a rotina comum a qualquer relacionamento logo surge, e ao invés de se esforçarem para descobrir como se adaptar àquela nova realidade, tudo que ela faz é desejar aos céus que ele fosse, digamos, mais parecido como ela. Quando é exatamente isso que acontece, os problemas estão só começando. E se alguém achar tal premissa interessante, talvez isso diga mais a respeito deste espectador do que da suposta eficácia de um filme tão banal quanto este.
Co-produção entre Brasil e Portugal, Alguém Como Eu tem apenas o início da sua trama passada no Rio de Janeiro. Logo após estabelecer que a publicitária Helena leva uma vida de fantasia e que, mesmo assim, consegue reclamar de tudo e todos, ela decide virar sua história de cabeça para baixo: aceita uma proposta de trabalho em Lisboa e para lá se muda, praticamente sem olhar para trás. Assim que chega na capital lusitana, uma daquelas coincidências bobas que só acontecem no cinema a coloca no caminho de Alex, um advogado que também não aguenta o próprio trabalho. A atração que surge entre eles é quase que à primeira vista – literalmente, pois, no mesmo dia em que se conhecem, ele já estará fingindo ser namorado dela num jantar entre amigos. E eles teriam tudo para serem felizes para sempre, não fosse a personalidade inquieta da protagonista.
O cineasta português Leonel Vieira parece ter acreditado piamente que teria aqui o seu Se Eu Fosse Você (2006). Pois, chateada com o rumo da relação, Helena passa a questionar cada vez mais os motivos de Alex não ser mais parecido com ela. A situação se inverte quando esse pedido é magicamente atendido, e a partir desse momento cada vez que olha para ele, ao invés de vê-lo, se depara com uma mulher. A lógica dos realizadores – e, entre eles, estão as roteiristas Adriana Falcão (de sucessos como O Auto da Compadecida, 2000, e A Mulher Invisível, 2009) e Tatiana Maciel (Desculpe o Transtorno, 2016) – pelo jeito, é que todas as mulheres são iguais, afinal, basta colocar qualquer uma na frente dela para que essa passe a considerá-la “igual a mim”. Não seria melhor uma trucagem de câmera, com a própria Paolla interpretando as duas personagens? Ou ainda, que tal colocar Ricardo agindo de um modo mais feminino, reproduzindo gestos e atitudes da Helena? Qualquer caminho seria melhor do que este que aqui tentam apresentar.
Com isso, Ricardo Pereira praticamente some do filme, e no seu lugar quem assume é Sara Prata (Morangos com Açúcar: O Filme, 2012), cujo personagem é literalmente descrito como “Alex Mulher”. E se ele é um ator ao menos carismático, de sorriso conquistador e olhar profundo, ela acaba reduzida a apenas uma figura, cheia de curvas e atitudes atrevidas. E o pior: que em nada se parece com Helena! E é aí que temos o ponto mais curioso: Helena é uma personagem tão antipática e mimada, daquelas que reclama de barriga cheia, que é praticamente impossível se identificar com ela. A trucagem do “estou vendo uma mulher no lugar do meu namorado” nunca chega a ser explorada em sua totalidade, reduzindo-se mais a um recurso digno de esquetes de programas cômicos rasteiros de televisão e menos a um filme que ao menos anuncia ter intenção de discutir os relacionamentos amorosos modernos.
Paolla Oliveira é uma atriz de respeitada carreira na televisão, mas que ainda está devendo um papel que mereça o mínimo de atenção na tela grande – trabalhos anteriores, como Entre Lençóis (2008) ou Real: O Plano por trás da História (2017), definitivamente não lhe ajudaram. Ricardo Pereira já fez coisas melhores (como os premiados Mistérios de Lisboa, 2010, ou Cartas da Guerra, 2016), mas sua pose de galã muitas vezes acaba se sobressaindo ao seu talento como ator. Já o diretor Leonel Vieira, premiado no Festival de Gramado por À Sombra dos Abutres (1998) e no Globo de Ouro Portugal por A Selva (2002), deixa clara sua vontade de buscar uma linguagem mais popular, renunciando qualquer vestígio de autoria. E o resumo de tanta mediocridade é este Alguém como Eu, um filme que poderia ser muita coisa, mas termina no meio de qualquer caminho possível.
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