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Crítica

A beleza é um conceito cada vez mais relativo no mundo contemporâneo. O que alguns podem considerar belo e atraente, para outros o mesmo elemento pode despertar reações contrárias e repulsivas. É mais ou menos por essa linha que se desenvolve a(s) trama(s) de Algum Lugar Belo, trabalho de estreia do publicitário Albert Kodagolian, aqui também responsável pela produção, roteiro, direção de fotografia e, coroando esse esforço, aparecendo ainda no papel de um dos protagonistas. Em cena, temos duas histórias paralelas, e é por aí que começam os problemas do filme: por mais que algumas interpretações possam conectá-las, será um esforço vazio, pois a impressão que temos é que nem o próprio cineasta de primeira viagem reconhece os motivos por trás de sua obra.

Os contextos explorados em Algum Lugar Belo são, imagina-se, próximos ao do realizador. Afinal, uma vez que se trata de uma experiência pioneira em sua carreira, nada mais apropriado do que investigar aquilo que já se conhece. No entanto, é possível reconhecer a falta daquele impulso criativo que o leve além do corriqueiro e trivial. De um lado, temos o próprio assumindo-se como uma versão ficcional de si mesmo: um publicitário envolvido com a realização do seu primeiro longa-metragem. Estamos em Los Angeles, o universo é o das estrelas de Hollywood, e tudo é bastante clichê: festas, drogas, bebidas, empresários explosivos, casas plasticamente lindas, porém desprovidas de uma alma que as aqueça. Os excessos estão por todos os lados e se revelam inúteis quando ele, ao voltar para casa após um período afastado por causa das filmagens, descobre que a esposa perfeita, uma modelo inglesa de sotaque irresistível, o abandonou, deixando aos seus cuidados a filha ainda bebê. A comunicação entre o casal, a partir desse instante, se dará através de recados deixados no celular, que servem apenas para indicar uma relação imersa na crise há um bom tempo.

No lado oposto, temos um outro par com problemas no relacionamento. Um fotógrafo norte-americano vai até o interior da Argentina para coletar as imagens necessárias para um novo trabalho. Consigo leva a namorada latina – que acaba fazendo às vezes de intérprete – e com eles estará um guia, responsável por conduzi-los aos endereços previamente pesquisados. Nada indica conflitos por aqui, a não ser um comportamento inconsequente da garota, que aos poucos vai se afastando. A necessidade de se encontrar no mundo é premente a qualquer ser humano com um mínimo de raciocínio lógico, mas deveria ser essa mesma racionalização a encarregada de impedir que absurdos tomem conta de nossas vidas. No entanto, isso não possui espaço entre os personagens de Algum Lugar Belo.

Albert Kodagolian cria dois cenários curiosos, porém ele próprio parece perder o interesse por eles assim que os estabelece. Como o cineasta dentro do filme, que afirma não saber mais o que fazer com sua obra por não reconhecer mais em si as mesmas motivações iniciais que o levaram a dar início ao projeto, a metalinguagem parece apropriada, revelando-se uma realidade necessária para entender a frustração que Algum Lugar Belo inevitavelmente provoca. Com tipos vazios conduzindo histórias irrelevantes, o máximo que conseguimos é bocejar diante tamanho descaso. E se nem aquele que deveria oferecer vida a sua criação parece se importar, porque a audiência deveria agir de forma diferente?

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.
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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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