Crítica
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Crítica
O que Caio e Mari querem da vida? Se em 2006 eles não tinham certeza alguma e em 2013 apenas suspeitavam quais caminhos deveriam seguir, em 2017 suas vidas parecem ainda mais carentes de definições e seguranças. O que sabem ao certo? O quanto gostam um do outro. Mas não é um carinho simples, convencional, do tipo ‘menino-ama-menina-e-se-casam-e-tem-filhos-e-vivem-felizes-para-sempre’. Não, longe disso. Suas histórias, enfim, são Alguma Coisa Assim, longa dos diretores Esmir Filho e Mariana Bastos que resgata os mesmos personagens do curta homônimo lançado por eles há mais de uma década, adicionado de passagens de um outro curta, Sete Anos Depois (2014), também estrelado pela dupla. Já foi apontado como um Boyhood (2014) brasileiro, mas se há alguma semelhança, esta se dá com a trilogia Jesse & Celine, até pelo formato do enredo. Afinal, o que importa, mais do que o desabrochar destes personagens, é o desenrolar dos sentimentos que os unem – e que também os separam.
Se por acaso o espectador não assistiu – ou não se recorda – dos curtas anteriores, não é preciso se preocupar: ambos são vistos quase que na íntegra durante os poucos mais de 80 minutos de Alguma Coisa Assim. E o que mostravam? Esses dois amigos, ainda adolescentes, saindo pela primeira vez na noite paulista e, durante essa aventura, descobrindo-se a si mesmos – ele fica com um rapaz, e ela vê nascer um ciúme que desconhecia. Cinco anos depois, ele decide se casar com o namorado, e a chama para ser sua madrinha – um convite que aceita, mas não com relutância. Em debate, visões distintas de mundo. “Casamento não é convencional demais? Por quê vocês, gays, querem se sujeitar a isso?”, questiona ela, deixando transparecer uma insatisfação com o rumo entre eles, amigos que poderiam ter sido mais – ou menos – do que apenas isso.
O tempo passou novamente, e agora se reencontram em Berlim. Ela está morando lá, trabalhando como designer em uma corretora de imóveis – os apartamentos são restaurados para a venda, e é ela a responsável por decorá-los. Enquanto vai trabalhando, faz de cada um desses lugares o seu endereço. E é por isso que decide receber o amigo quando ele precisa ir até a capital alemã apresentar o fruto de uma pesquisa científica que vem desenvolvendo. Ambos estão novamente juntos, e, dessa vez, sob o mesmo teto. Mari segue sozinha, Caio está recém separado. Nada mais os separa. A não ser, é claro, eles mesmos.
É difícil definir a relação que os dois estabelecem – mais do que uma mera amizade, menos do que algo tradicionalmente romântico. Sem batismo, fica indefinido, e a insegurança os torna instáveis, sofridos, carentes. A proximidade fortalece vontades antigas, e passos não pensados são tomados, guiando-os por caminhos até então possíveis – até mesmo discutidos – mas nunca encarados como concretos. É o amadurecimento que os assusta, e se tornar adulto significa tomar decisões de gente grande. O sofrimento, o abandono, o desapego e a alegria de serem quem são – não apenas enquanto indivíduos, mas, ainda mais, quando juntos – fazem parte desse bolo. Alguma Coisa Assim é exatamente isso: um pouco de cada, e muito de tudo.
Caroline Abras se tornou um dos grandes talentos jovens do cinema nacional nesta última década – e filmes como Se Nada Mais Der Certo (2008), Sangue Azul (2014) e Gabriel e a Montanha (2017) deixaram isso claro. André Antunes, por outro lado, abandonou a atuação e se formou em Psicologia. Os dois retornam aos personagens que marcaram suas trajetórias – de um jeito ou de outro – como se nunca os tivessem abandonados. A naturalidade de ambos em dar vida – cores, sorrisos e lágrimas – à Mari e Caio representam o mérito maior do filme de Esmir e Mariana, cujo trabalho parece ter sido reunir os intérpretes que tanto conhecem para seguir emprestando seus rostos a estas figuras tão ímpares e, ao mesmo tempo, tão facilmente reconhecidas. Alguma Coisa Assim pode não ser luminoso como os momentos já vistos destes dois, mas tem uma profundidade que lhe cai de forma apropriada. Não sem dor, mas é disso, afinal, que se forma o crescimento.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Robledo Milani | 7 |
Marcelo Müller | 7 |
Francisco Carbone | 8 |
Leonardo Ribeiro | 5 |
MÉDIA | 6.8 |
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