Crítica
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Sinopse
Em Alien: Romulus, ao explorar as entranhas de uma estação espacial abandonada, um grupo de jovens colonizadores se depara com uma forma de vida aterrorizante.
Crítica
Situado cronologicamente entre Alien: O Oitavo Passageiro (1979) e Aliens: O Resgate (1986), Alien: Romulus parte da observação de um contexto social bastante promissor do ponto de vista dramático. Numa colônia espacial humana terraformada e extrativista, Rain (Cailee Spaeny) é a proletária que acredita estar muito perto do seu ideal de liberdade, pois completou as horas trabalhadas obrigatórias para se mudar a um lugar melhor. No entanto, as regras são escritas e modificadas pelos poderosos. Então, ela é submetida a, pelo menos, mais cinco anos como lavradora, isso se quiser continuar sonhando com o futuro menos sombrio. Sua companhia é o sintético Andy (David Jonsson, excepcional no papel, sobretudo quando dele se exige dubiedade moral), a quem considera como um verdadeiro irmão. Justamente no momento em que a sua esperança levou um enorme balde de água fria, ela recebe a proposta de alguns amigos também desesperados: usar as habilidades do irmão inorgânico para invadir uma estação espacial à deriva na atmosfera desse planeta do qual todos deseja escapar, entrar nas câmaras criogênicas e rumar ao tal mundo ensolarado. Como o roteiro assinado por Fede Alvarez e Rodo Sayagues nos mostrou antes de tudo isso (numa espécie de prólogo) que astronautas resgataram um fóssil de xenomorfo, é questão de tempo para descobrirmos que a tripulação da estação foi arrasada pelo extraterreste sedento que se tornou um dos grandes vilões da história do cinema de horror.
Cailee Spaeny herda a posição originalmente dada a Sigourney Weaver, a da mulher que a partir de um ponto será a principal esperança humana contra um organismo praticamente perfeito e hostil. Fosse a personagem principal de uma ficção científica genérica, talvez a cobrança pelo desempenho dessa atriz norte-americana nascida no estado do Tennessee provavelmente seria menos implacável. Porém, inevitavelmente pesa sobre ela o fato de continuar um legado que está entre os mais importantes do sci-fi hollywoodiano. Claro, afinal de contas Sigourney Weaver não é somente a intérprete da mocinha que sobrevive à ameaça feroz do xenomorfo, mas um poderoso símbolo feminino dentro do cinema de ação desde os anos 1970. Sua personagem criou raízes na cultura pop e certamente inspirou o surgimento de várias outras heroínas capazes de arregaçar as mangas e personificar a possibilidade de vitória contra monstros praticamente indestrutíveis. Assim, a carga que recai sobre os ombros de Cailee é enorme e ela nem sempre dá conta de o carregar. Embora tenha um desempenho bastante digno em Alien: Romulus, ela está distante de prosseguir esse legado icônico. Parte disso nem tem a ver com o trabalho de composição da atriz (um tanto frio), mas com a frágil construção dessa personagem pelo roteiro. Os atributos iniciais da personalidade de Rain são praticamente esquecidos ao longo da trama.
Alien: Romulus tem tudo aquilo que os fãs da saga Alien esperam: xenomorfos em abundância, humanos fugindo desesperados em corredores escuros e labirínticos, hospedeiros explodindo e sangue jorrando das vítimas enquanto o algoz alienígena parece cada vez mais disposto a matar. O diretor Fede Alvarez faz direitinho a lição de casa, volta e meia acenando aos espectadores aficionados com referências e alusões a outros filmes da franquia. Nesse sentido, se destaca o ressurgimento de um dos personagens principais de Alien: O Oitavo Passageiro com a ajuda dos efeitos digitais. A tecnologia coloca em cena o simulacro virtual de um intérprete infelizmente já falecido. Aliás, esse retorno cumpre uma função muito clara no enredo: oferecer à narrativa uma fantasmagoria que, ao mesmo tempo, segue contemplando os saudosistas e permite os diálogos expositivos esmiuçando planos e outros estratagemas que poderiam ser melhor apresentados. Esse didatismo a serviço do esclarecimento de tudo é também notado nas constatações pessoais externadas para guiar personagens e o espectador. Não são raros os momentos em que alguém verbaliza em voz alta o que estamos vendo acontecer, tudo para evitar a dispersão da plateia. Fora isso, os instantes de tensão e horror são apropriados, mas nunca ultrapassam a barreira do “repetindo o que vimos antes (e melhor)” nos outros filmes da saga. Reverência ou conformismo?
Nessa toada de citar outros momentos-chave da franquia, há até a breve exploração do vínculo materno entre a humana e o fruto monstruoso de uma mistura de DNA – o que havia aparecido de modo bem mais grotesco e dramático em Alien 3 (1992). Voltando à personagem de Cailee Spaeny, nenhuma de suas ações posteriores ao surgimento da besta-fera espacial é psicológica ou emocionalmente associada à sua opressão na colônia espacial explorada pela empresa malvada. Por isso a palidez de Rain como protagonista de Alien: Romulus não deve ser atribuída somente ao desempenho da atriz. O roteiro restringe Rain a ser a sobrevivente ética, a operária beneficiada pelo sacrifício dos amigos. Fede Alvarez opta por pulverizar a ameaça, não se concentrando num xenomorfo, multiplicando os alienígenas a fim de infestar o espaço. Decisão questionável, pois ao fracionar o perigo em vários corpos hostis o realizador dispersa essa força agressora. Sempre aludindo obedientemente a Alien: O Oitavo Passageiro, o cineasta apresenta um suspense/horror sem a pretensão grandiloquente de Prometheus (2012). Com isso em mente o uruguaio poderia enfatizar os aspectos essenciais da batalha, valorizando a origem da persistência de Rain, tripulante credenciada a vencer o mau por ser uma sobrevivente. Porém, o cineasta prefere se focar nas alusões ao filme original com um senso de reverência limitante, com espaços até para certas menções visuais ao clássico 2001: Uma Odisseia no Espaço (1968).
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