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Crítica


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Sinopse

Depois de traficar drogas para pagar as dúvidas de seu irmão, Alex vai tentar abraçar uma oportunidade de mudar de vida quando seu primo comenta que está pensando em abrir um restaurante em Tel-aviv.

Crítica

Alex (Pio Marmaï) é um fugitivo, das relações familiares conturbadas, da rotina de traficante que lhe mantém financeiramente, dos relacionamentos amorosos que não deram certo, enfim, do que não lhe deixa viver em paz. Esse franco-judeu se candidata ao “Aliyah”, processo de retorno do povo de Israel à Terra Santa, enquanto muitos ainda escapam de lá, sobretudo por conta dos conflitos. A viagem, de conotação menos espiritual que o termo judaico pressupõe, pode lhe oferecer uma distância protetora da gente e das coisas de seu passado. Preso num círculo vicioso, Alex se agarra à possibilidade de abrir um restaurante com o primo em Tel Aviv como único caminho possível para virar outra pessoa, começar do zero, largando para trás a criminalidade e as conexões afetivas que se tornaram um fardo, pois necrosadas e de melhora improvável.

Aliyah delineia devagar esse acidentado itinerário emocional de Alex. Na festa de família, em meio a tios e primos, ele sente uma angústia que só terá significância real para nós, espectadores, quando tomarmos contato com as ligações parentais ainda mais próximas dele. Seu irmão mais velho, Isaac (Cédric Kahn), é um parasita que depende da bondade alheia para honrar as constantes dívidas contraídas com credores violentos. Já o pai, que aparece apenas numa (forte) cena, é completamente alienado em relação ao destino dos filhos, um sujeito cuja frieza é lamentada pelo olhar carente do rapaz que espera, em vão, o pedido para permanecer. O diretor Elie Wajeman desenha a geografia sentimental do protagonista como se montasse um quebra-cabeça, nos fornecendo informações que enriquecem e dão novos contornos a passagens anteriores, ou seja, o retroativo ganha substância ao passo que a história avança.

Concomitante a esse movimento de preparação à mudança para Israel, Alex se envolve com Jeanne (Adèle Haenel), uma jovem não judia. Ela não representa, porém, um desvio aos planos do homem determinado a soterrar-se num novo futuro possível. A paixão surge para Alex sem qualquer promessa de dias melhores, até porque ele entende que só os terá de verdade quando reinventar-se, invariavelmente longe dos familiares e dele mesmo. A imagem de Aliyah reflete o estado de espirito do protagonista, pois muitas vezes inquieta e tensa, sem contar o pendor aos tons acinzentados. Essa jornada bastante pessoal e exasperada, de certa forma, simboliza a inadequação dos descendentes do povo de Israel, a sensação latente e desorientadora de não pertencimento, herança afetiva do êxodo antepassado.

Os encontros de Alex e Isaac são, no mais das vezes, dolorosos. Em poucas passagens os vemos rindo, falando de outra coisa senão problemas. Ainda assim, o caçula não consegue negar os pedidos do primogênito, mesmo que isso represente adiar planos ou voltar ao tráfico para sustentar a inconsequência alheia. O percurso de Alex em busca de uma nova concepção de ser é repleto de obstáculos, algo ressaltado pela encenação que traduz em imagens e sons a camada de secura que recobre os sentimentos vigentes. Aliyah oferece, entre olhares enviesados, palavras mal interpretadas ou, ao contrário, duramente diretas, um panorama complexo, no qual Alex representa não apenas ele próprio, mas os que não têm para onde voltar (literal e metaforicamente) e que, por isso, estão em constante e aflitivo movimento.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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