Crítica
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Sinopse
Amantes e agentes da CIA, Henry e Celia tiveram uma tumultuada missão em Viena há seis anos. Eles colocaram tudo a perder quando tentavam resgatar centenas de reféns e agora precisam conviver com as consequências.
Crítica
O título em português pode soar estranho num primeiro momento, ainda mais se houver uma tentativa de relacioná-lo com o original All The Old Knives, uma expressão idiomática que não faz muito sentido em uma tradução direta, mas pode ser entendida como “incomodar ou provocar velhos conhecidos”. Pois bem, assim que a trama se estabelece e os minutos iniciais vão ficando para trás, o nacional Um Jantar Entre Espiões se mostra válido, uma vez que, de fato, grande parte da (falta de) ação se passa, mesmo, entre dois agentes em uma mesa de um restaurante. Esse acerto também aponta para uma ambientação sofisticada, refletida tanto na elegante fotografia de Charlotte Bruus Christensen (premiada em Cannes pelo dinamarquês A Caça, 2012) como pelo texto do roteirista Olen Steinhauer, aqui adaptando para o cinema o próprio romance lançado antes nas livrarias. Ao privilegiar diálogos elaborados e frases repletas de duplos sentidos, o filme investe na construção de personagens que envolvem pelo carisma e mais pelo que escondem do que aquilo que se permitem revelar, mesmo que, no final das contas, pouco façam em cena – e, quando diante de reviravoltas previsíveis, se mostram menos interessados nesses desfechos mirabolantes do que se poderia esperar de uma produção do gênero.
Muitas dessas impressões provém das escolhas do diretor Janus Metz, que havia demonstrado esse tipo de segurança no aparentemente esportivo Borg vs McEnroe (2017), um olhar sobre a rivalidade entre os atletas Björn Borg e John McEnroe que se passa mais nos bastidores de cada encontro do que nas quadras de tênis. Novamente, o cineasta não tem pressa em desenhar um quadro repleto de possibilidades, apenas para que, aos poucos, vá eliminando uma após a outra. Se por um lado esse desenvolvimento gradual, capaz de respeitar o crescimento dos tipos envolvidos e as relações que os atraem e os afastam, se mostra um acerto ao capturar a atenção da audiência, cada vez mais presa a esses desdobramentos e inquieta a respeito de onde tais escolhas podem levar, da mesma forma frustra por uma resolução óbvia, por mais que se esforce em se mostrar impressionante. Por isso mesmo, é importante estar ciente de que, aqui, o interesse está mais no caminho do que em seu destino.
De início, a abertura introduz a audiência a um evento climático: o sequestro de um avião repleto de passageiros que terminará em um desfecho trágico. Este, porém, é só um ponto de partida, pois a trama em si se dará oito anos depois, quando um dos investigadores envolvidos com a equipe responsável por ter lidado com esse caso específico é chamado por seu antigo superior, que o passa uma nova missão. Apesar do desastre nas negociações, o episódio foi considerado como uma casualidade e que não havia nada a ser feito que pudesse impedi-la. Agora, tanto tempo depois, um dos terroristas foi, enfim, capturado, e com ele uma revelação vem à tona: tal empreitada só foi possível pois havia recebido ajuda de dentro da agência. Ou seja, houve alguém que atuou de forma infiltrada, fingindo-se diante de colegas quando, na verdade, suas intenções eram outras. Wallinger (Laurence Fishburne, com pouco o que fazer em mãos) é quem convoca seu melhor homem, Henry Pelham (Chris Pine, confortável no tipo heroico que lhe é comum), para conduzir esse processo. E esse possui dois suspeitos em mente.
Por mais que as cenas em flashback mostrem uma sala de controle repleta de oficiais e pesquisadores, apenas dois se destacam: Jonathan Pryce, recentemente indicado ao Oscar por Dois Papas (2019), e Thandiwe Newton, premiada com o Emmy por sua participação na série Westworld (2016-2022). Apontar os dedos essa dupla parece ser o mais simples a ser feito, e é exatamente essa a função de Pine: primeiro investigar um, depois o outro – encontros esses exibidos de forma simultânea. Aqui, porém, as contradições começam a ser enumeradas. Afinal, qual seria o objetivo de Pelham interrogar – ainda que da forma mais dissimulada possível – a ex-amante Celia Harrison (Newton, eficiente em esconder emoções, mas também em usá-las, quando necessário, a seu favor), se não movido por uma real desconfiança por parte dos atos dela? Pois antes esteve com Bill Compton (Pryce, que se esforça em emprestar verossimilhança a uma figura na qual o filme não está interessado), e mesmo bancando o durão nessa conversa, o fato é que seguiu adiante. E se descartado foi, qual a razão em apresentar provas acusatórias, uma vez que é sabido que as mesmas serão descartadas em seguida?
Um Jantar Entre Espiões, assim, se mostra válido, em última análise, pela dinâmica estabelecida entre Chris Pine e Thandiwe Newton. O galã está acostumado a esse tipo, e não sem razão. Ela, por sua vez, frequentou esse universo em experiências frustrantes (Missão: Impossível 2, 2000, O Segredo de Charlie, 2002), mas se antes era não mais do que uma presença – e uma distração – dessa vez se mostra parte fundamental do mistério, e é isso que faz a diferença. Agradável de se acompanhar e intrigante à medida em que os protagonistas são eficientes nas provocações, mas também nas reticências que a todo instante deixam pairar entre eles, o todo só não vai além graças a um desfecho óbvio – quando todas as possibilidades se esgotam, quem mais restaria se não aquele fazendo as perguntas? – e a uma ambientação que promete se incendiar a qualquer momento, mas que nunca chega, enfim, a pegar fogo.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Robledo Milani | 6 |
Leonardo Ribeiro | 6 |
Francisco Carbone | 4 |
MÉDIA | 5.3 |
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