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Crítica


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Sinopse

Rivaldo Torres e Teodoro Xavier são poetas e amigos de infância, que lançam um livro numa pastelaria no centro de São Paulo. Durante as horas que se passam, eles seguem convidando pessoas dos mais variados estilos para o evento, incluindo um suicida que Torres salvou, prostitutas e desocupados.

Crítica

Uma geração movida por sensações absolutas, como a amizade e a fé na utopia. A voz potente do cineasta Carlos Reichenbach anuncia para o público o que ele deve esperar do filme em vias de começar. Alma Corsária, assim como os outros trabalhos de Carlão – como era carinhosamente chamado – traz em sua essência tudo que faz o coração de seu diretor bater mais forte. Como mote para relembrar as primeiras experiências da adolescência e do início da vida adulta, o roteiro apresenta a história de dois poetas, Rivaldo Torres (Bertrand Duarte) e Teodoro Xavier (Jandir Ferrari), que se conhecem na escola e acabam seguindo sempre um ao lado do outro em diversas fases da vida.

A trama descontinuada, uma das marcas registradas de Reichenbach, é permeada por diálogos insólitos e dezenas de referências. Também pudera, já que antes de ser um contador de histórias por meio das imagens, o diretor era um cinéfilo voraz que fazia dos filmes uma espécie de bloco de anotações de seus delírios e paixões. O centro da história de Alma Corsária é a noite de lançamento do livro Sentimento Ocidental, escrito às quatro mãos por Rivaldo e Teodoro. Intercalando a festa, que acontece numa pastelaria e reúne os mais estranhos tipos, são apresentados momentos de diversas épocas da dupla protagonista. Não há uma preocupação em explicar tudo ao espectador, muito menos em ser apenas narrativo.

Reichenbach explora misturas, como um halterofilista que se apresenta ao som de Debussy. A forte presença de elementos do cinema de gênero era outra obsessão do cineasta, que ele fez questão de passar adiante para amigos e admiradores durante as sessões cineclubistas que organizava. Lançado antes do início do período que ficou conhecido como Retomada, Alma Corsária tem alguns problemas de áudio, comuns aos seus contemporâneos, quando a dublagem ainda era uma constante nas nossas telas. No entanto, a fotografia, assinada por Carlão, tem a fantasia típica de um apaixonado por cinema clássico mesclada com a crueza do concreto do centro de São Paulo.

Sem medo de explorar a violência e disposto a não suavizar a realidade regada a drogas e sexo de Rivaldo e Teodoro, eles que vêm de realidades sociais diferentes mas captam o mundo com a mesma sensibilidade, Alma Corsária venceu os principais prêmios do Festival de Brasília, um dos mais importantes do país. Para uma nova geração de realizadores, da qual grande parcela parece só querer beber na fonte do Cinema Novo, em especial a de Glauber Rocha, revisitar com olhos atentos este filme pode ser a abertura de um caminho novo, uma estrada à liberdade, aonde não se tem medo de falar de coisas que parecem comuns demais, como amizade, amor e desejo. Carlão nunca teve a intenção de ser genial, para o bem de seus filmes. Mesmo se não tivesse levado troféus Candango para casa, mesmo assim, mereceria um lugar entre os grandes por ter dado, infelizmente somente na ficção, um Oscar para Samuel Fuller. Quem precisa de Academia quando se tem criatividade?

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é jornalista e especialista em cinema formada pelo Centro Universitário Franciscano (UNIFRA). Com diversas publicações, participou da obra Uma história a cada filme (UFSM, vol. 4). Na academia, seu foco é o cinema oriental, com ênfase na obra do cineasta Akira Kurosawa, e o cinema independente americano, analisando as questões fílmicas e antropológicas que envolveram a parceria entre o diretor John Cassavetes e sua esposa, a atriz Gena Rowlands.
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