Crítica
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Sinopse
Crítica
O Gigante Léo abre Altas Expectativas no palco, num show de stand-up, fazendo graça de seu nanismo. Essa disposição de zombar de si mesmo, de transformar adversidades em riso, perpassa integralmente o filme dos diretores Pedro Antônio e Álvaro Campos. O tom é predominantemente leve, como convém às comédias românticas. O protagonista, Décio (Léo), treinador de cavalos do Jockey Clube Brasileiro, tem seu cotidiano perturbado pela presença da introspectiva Lena (Camila Márdila), nova proprietária de um café no local. Não há exatamente um investimento por parte dos realizadores na maturação mais efetiva desse interesse antes dele se tornar explícito. A prevalência do olhar direcionado ao cotidiano do protagonista acaba dirimindo um pouco o aspecto romântico, já no início, algo também potencializado pela pouca expressividade de Márdila, requisito de seu personagem, por certo.
A rota traçada pelo roteiro até que não compromete o resultado, mas a fragilidade das costuras narrativas determina sobremaneira a frouxidão da trama. Todavia, balanceando esse percurso solavancado, temos o grande carisma dos personagens, dos principais aos coadjuvantes. Aliás, estes são imprescindíveis. Lia (Maria Eduarda Carvalho), por exemplo, é um feixe de luz que atravessa a melancolia de Décio, com sua expansividade e positividade flagrantes. Já Tassius (Felipe Abib) é o vizinho sem noção, responsável por não somente direcionar o pequeno ao palco dos shows de comédia, como também por conduzir-lhe quando a tristeza parece soberana. Altas Expectativas depende, principalmente, do desempenho dessas figuras de suporte, como Flávio (Milhem Cortaz), que funciona muito bem como rival, o antagonista que sai na frente pelo coração de Lena, ou seja, contra quem torcemos, é claro.
Mesmo combalido por problemas de ritmo, Altas Expectativas possui o mérito de despertar nossa aberta simpatia pelas pessoas em cena. A leveza da abordagem diz respeito à maneira como os realizadores buscam tratar essa trajetória comum de um coração conquistado, logo despedaçado pelas circunstâncias, mas que, como antevemos sem dificuldade, encontrará algum alento no final. O entrecho do longa se baseia livremente na vivência real de Gigante Léo, embora ocorra num ambiente completamente diferente, neste caso, o Jockey. Portanto, dramatizando algo relativamente próximo de sua experiência, o ator transmite sensivelmente a delicadeza dos gestos de conquista e das dúvidas quanto à opinião da amada. Nesse sentido, é bastante crível seu receio de declarar-se, de expor sentimentos. Essa organicidade, contudo, não se percebe em outras instâncias do filme, pois os desenvolvimentos não são fluidos o suficiente.
Entrecortar a história com registros de uma apresentação de Léo, num palco obviamente diferente do montado por Tassius embaixo do apartamento de Décio, ajuda a promover uma bem-vinda simbiose entre o intérprete e seu protagonista. A paixão deste pela menina ensimesmada soa verossímil. Infelizmente, o mesmo não pode ser dito da recíproca, que parece forçada. Camila Márdila permanece engessada numa personagem concebida para abrir-se apenas ocasionalmente, tanto ao pretendente rico quanto ao treinador que a faz rir constantemente com bilhetinhos. É dada a ela pouca oportunidade para ir além do modelo de donzela a ser salva, neste caso, do desânimo. Pedro Antônio e Álvaro Campos não conseguem fazer Lena sobrepujar sua função meramente semântica, reduzindo-a a outro trampolim para Léo brilhar, o que minimiza a força do romance, ou seja, do elemento central do filme.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Marcelo Müller | 5 |
Robledo Milani | 5 |
Roberto Cunha | 5 |
MÉDIA | 5 |
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