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Crítica


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Sinopse

Um escritor traumatizado começa a assassinar todas as mulheres que surgem em seu caminho. Deixa de cometer esses crimes quando encontra a jovem Marina, perseguida por uma seita satânica.

Crítica

Um dos maiores ícones da Pornochanchada, David Cardoso, além de protagonista, é produtor de Amadas e Violentadas, certamente um ponto fora da curva habitual de sua prolífica carreira. Neste filme dirigido por Jean Garrett, ele não interpreta alguém que leva para a cama um sem número de beldades, justamente o contrário. Seu personagem, Leandro, é um rico escritor de contos policiais marcado por um severo trauma. Os flashbacks ocasionais dão conta de nos mostrar a origem dos distúrbios desse protagonista que utiliza a própria experiência insólita como pedra fundamental do trabalho de sucesso. A aversão pelo desejo feminino tem origem no adultério da mãe, conduta que ocasionou uma tragédia familiar. Sendo assim, ao invés de acompanharmos um desfile constante de corpos desnudos na tela, como era comum no período, somos convidados a entrar na mente doentia de um homem que não consegue dissociar o ato sexual da necessidade de matar.

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A nudez é apenas um componente bastante periférico em Amadas e Violentadas, relegado enquanto força ao terceiro escalão de uma narrativa edificada sobre as bases do suspense policial. Garrett habilmente nos enreda na dinâmica que rege os procedimentos do protagonista, registrando os assassinatos, como quando ele dá fim à vida de uma fotógrafa, em cena banhada pela luz vermelha típica das salas de revelação. A elaboração do clima é imprescindível para que permaneçamos constantemente atentos, interessados por algo misterioso e difuso aos demais, já que nós, espectadores, somos testemunhas privilegiadas da insanidade que alimenta as páginas dos livros, então obras recheadas de históricas verídicas. As inconvenientes visitas do editor de Leandro servem como comentário adjacente, sem grandes ressonâncias, a respeito do velho embate ente arte e comércio, elemento recorrente nos filmes de Jean Garrett, mas que aqui surge apenas como uma fagulha.

David Cardoso apresenta um desempenho muito convincente, construindo seu personagem como refém da própria condição mental. Tudo ganha ainda mais nuance quando o bon-vivant é surpreendido pela aparição de uma menina angelical que fora raptada de um orfanato por uma seita satânica. A inocência se torna, ao mesmo tempo, fator de atração e de esperança a ele, já que a castidade e a pureza dela trafegam na contramão da lascívia de suas vítimas. Mas, sendo o sexo um catalisador tão potente, não demora e o medo toma conta novamente, mesmo em meio a uma rotina de dar cabo impiedosamente de toda e qualquer mulher que se atreve a expressar tesão. Amadas e Violentadas possui instantes deslocados que ameaçam o andamento na toada característica do thriller, sendo o mais evidente aquele que exibe o estranho resgate da ninfa das mãos dos adoradores do diabo vestidos com transparências vermelhas, numa cena à beira do risível, sem potencial para excitar ou provocar tensão.

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Boa parte das pessoas em Amadas e Violentadas corresponde a arquétipos dos gêneros aos quais o filme se filia, na maioria das vezes com propriedade. Exemplos disso, o policial insistente que busca uma promoção e a obstinada repórter guiada por seu faro jornalístico. Contudo, são potenciais subaproveitados. Essa abordagem superficial dos coadjuvantes joga nas costas de David Cardoso o peso de sustentar a trama, o que ele faz bem. De semblante marcado pela luta interna que consome Leandro, com gestos igualmente condicionados pela inquietude originária do conflito principal, o ator se torna o núcleo de um longa-metragem combalido pontualmente pelas inconsistências de determinadas representações, mas cujas ideias e soluções engenhosas, especialmente as visuais e as sonoras, sobressaem. O resultado é um exemplar acima da média para os parâmetros da época, marcado menos pelo sexo enquanto ato que por sua força simbólica, por seu papel essencial à estrutura da psique.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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