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Sinopse

Amália é secretária de uma empresa familiar que enfrenta dificuldades financeiras. Ela é uma profissional um tanto quanto rigorosa e até mesmo chata. No entanto, a chegada de um novo zelador começa a interferir positivamente em seu temperamento. A partir daí, ela passa a fazer de tudo para chamar a atenção do homem: quebrar e depredar o ambiente de trabalho começam a fazer parte de sua rotina.

Crítica

Amália tem balas em sua mesa. Balinhas coloridas, verdes, amarelas e vermelhas. Doces que ela oferece aos empregados da empresa cada vez que um vai até sua sala tentando acesso ao chefe, homem que ela defende ferrenhamente. Mas Amália não concede o agrado sem segundas intenções. Afinal, antes disso, pega uma por uma das pequenas pastilhas e, sem que ninguém a veja, as chupa, rapidamente, e assim as devolve à bombonière de cristal. Assim, em uma passagem rápida e sem diálogos, o diretor e roteirista Andrés Burgos define a personalidade da protagonista de Amália: A Secretária. Esta, no entanto, é uma comédia de costumes que joga com o público, revelando forte apelo popular. E, como é de se esperar neste formato de cinema, a personagem não manterá esse perfil intacto do início ao fim. Estamos diante de uma jornada de transformação. Como tal, nem tudo que muda, de fato, melhora.

Amália (Marcela Benjumea) não é uma pessoa má. Apenas é rígida. E encontra, em pequenas maldades, uma válvula de escape para a mesmice da sua rotina. Grávida ainda adolescente de um homem que não a amava, criou sozinha uma filha que hoje foi estudar nos Estados Unidos. O pai já faleceu, e a mãe, após um período doente, deixou de falar – ao menos com ela. No trabalho, uma empresa passando por uma crise financeira, tem que lidar com o patrão depressivo – um revólver e uma garrafa de uísque em cima da mesa não são bons sinais – e com a demissão da equipe de manutenção. Após uma tomada queimada, se vê obrigada a chamar um serviço externo para o conserto. É quando conhece Lázaro (Enrique Carriazo), o rapaz dos serviços gerais a quem, quando lhe solicita uma bala, ela impede de pegar uma das mesmas dos demais. Para ele, há outras, que retira da gaveta e são reservadas somente para poucos merecedores.

Há dois filmes, no entanto, em Amália: A Secretária, que transcorrem em paralelo. Um é a comédia romântica que se desenvolve entre Amália e Lázaro. Os dois não são os tipos tradicionais desse tipo de filme – ela está sempre de cara amarrada, com um corte de cabelo ultrapassado e vestindo o mesmo terninho profissional sem graça, enquanto que ele é um homem grandalhão, calvo e um tanto desajeitado, que adora se meter em assuntos que não lhe competem – e, talvez por isso mesmo, o interesse pelo desenrolar desse improvável romance seja ainda maior. No entanto, num outro extremo acompanhamos os problemas do patrão, que foge dos números negativos e oferece um clima sombrio que não encontra harmonia com o outro lado do enredo. As duas partes não possuem sintonia entre si, e, às vezes, a passagem de um extremo a outro não se dá sem tropeços. É fácil torcer pelo lado humano, enquanto tudo que as questões empresariais geram é tédio e desinteresse.

Muitos dos méritos da história recaem nos talentos envolvidos. Tanto os dois protagonistas, quanto o realizador, já foram premiados com o Troféu Macondo – o ‘Oscar’ do cinema colombiano. Burgos ganhou pelo roteiro de Sofía y el Terco (2012), enquanto que os atores foram reconhecidos pelos trabalhos em Sin Mover los Labios (2015) e Siempreviva (2015) – Benjumea e Carriazo, respectivamente. Todos, no entanto, como já era de se esperar para artistas latino-americanos, possuem vasta experiência na televisão, e é quase inevitável perceber um aspecto um tanto novelesco em Amália: A Secretária. As resoluções tendem a ser simplistas, alguns elementos não chegam a ser explorados a contento, e o riso fácil da plateia dá a impressão de ser mais almejado do que a reflexão a respeito dos fatos que estão se desenrolando em cena. Opções, é claro, que pesam sobre a relevância deste trabalho.

Mesmo assim, é praticamente impossível não se ver envolvido com os feitos e desencontros dessa mulher que não chega a ser uma heroína, mas também está longe de poder ser considerada uma vilã. Dos passos duros que dá na aula de dança às tentativas frustradas de se comunicar com a mãe, ela é uma figura maior do que o filme que a apresenta. E esse é um valor que surge da soma dos detalhes que a rodeiam, mais do que os (poucos) grandes gestos que se vê obrigada a tomar. Do desconforto com as “pausas ativas” à crescente empatia que percebe nascer em si pelo faz-tudo ao seu lado, seu mundo não precisa ser revirado – bastam alguns ajustes, aqui e ali, que tudo já estará melhor. São as pequenas coisas, portanto, que interessam. Amália: A Secretária até pode proporcionar gargalhadas rasgadas nos mais entusiasmados. Mas serão os discretos sorrisos que fazem deste um filme a ser lembrado.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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