Crítica
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Sinopse
O dia estava tranquilo até um grupo de pára-quedistas aterrissar no campo de futebol de um colégio. Era o início de uma invasão da Coreia do Norte ao território americano, o que gera pânico nos habitantes da cidade. Decididos a defender o local, oito jovens se escondem nas montanhas e, adotando o nome de sua equipe de futebol, The Wolverine, planejam como revidar à invasão das forças militares inimigas.
Crítica
É inconcebível que em pleno século XXI ainda haja filmes com uma temática tão retrógrada quanto este remake de Amanhecer Violento, produção de 1984 sobre um grupo de adolescentes que tem como missão reconquistar os EUA após o país ter sido invadido pelos russos durante, é claro, uma manhã. Se na década de 1980 a única desculpa plausível para o original ter feito sucesso era a paranoia em torno da Guerra Fria, soa totalmente fora da realidade nos dias de hoje a produção de um longa em que os americanos são os legítimos mocinhos capitalistas contra os malvados comunistas norte-coreanos (sim, troque “russos” por eles aqui). Além de desrespeitoso com o país inimigo retratado (por mais que sua política seja controversa), é uma afronta para com o espectador e sua inteligência, como se ele não tivesse o mínimo de discernimento crítico, seja histórico, político ou qualquer coisa do gênero.
A história dos EUA já tem sido desconstruída há décadas, mostrando que o país não é só feito do “sonho americano”, mas também de erros históricos de 40 anos atrás (Guerra do Vietnã), atuais (como a invasão do Iraque em busca de armas inexistentes) e uma eterna discussão sobre a violência, especialmente entre os jovens (em que casos como o massacre de Columbine não nos deixam mentir). Então, apontando apenas estes exemplos, fica mais difícil ainda engolir que uma produção norte-americana não olhe para o próprio traseiro ao colocar na tela ideias como uma invasão megalomaníaca da Coréia do Norte, visto que os próprios ianques são capazes de coisas muito mais aterradoras em sua política contra outros países, além do principal, que é utilizar adolescentes como armas de guerrilha pelo simples fato de lutar pela terra da liberdade.
Os parágrafos anteriores podem sugerir algum pensamento antiamericano ou qualquer coisa do gênero, mas longe disso. O que coloco em discussão aqui é a irresponsabilidade de se aproveitar de uma tensão atual entre rivais (EUA e Coréia do Norte) para mostrar como é bom colocar as mãos em uma arma. Todos sabem que é exatamente o contrário. E basta dar uma olhada cuidadosa para o próprio cinema norte-americano para saber que eles (os EUA) mesmo reconhecem isto (cito aqui como exemplo o ótimo Guerra ao Terror, de 2009). Apesar da obra de Kathryn Bigelow citada aqui ser situada na Guerra do Iraque – outra pauta plausível de intensa discussão sobre a política ianque – o foco é nos seus personagens, em como eles lidam com o aspecto psicológico de seus soldados (afinal, os Wolverines deste Amanhecer Violento são exatamente isto). Mesmo produções sobre guerras mais floreadas, assim digamos (como O Resgate do Soldado Ryan, 1998), dão conta, ainda que minimamente, de separar as coisas e não tratam de um assunto tão importante de forma banal como esta produção.
Óbvio que as explosões, os tiroteios, os bombardeios e afins funcionam como cenas de ação. Seu diretor, Dan Bradley, apesar de estreante na função principal, já foi assistente em filmes como O Legado Bourne (2012) e 007: Quantum of Solace (2009), entre outros exemplares do gênero. O problema é que, nem assim, a produção funciona como escapismo. Talvez no sentido literal de escapar sim, já que foge totalmente da realidade. Porém, isso não é algo que possa ser realçado como aspecto positivo, já que se apresenta apenas como algo emburrecedor e nada mais.
Desde já, Amanhecer Violento é um sério candidato a pior filme do ano lançado no Brasil em 2013. Sua indicação ao Framboesa de Ouro deste ano a Pior Remake, por sinal, foi mais do que merecida. Deveria ter sido motivo de “premiação”, inclusive. Pena de Chris Hemsworth, Josh Hutcherson e Jeffrey Dean Morgan, que rodaram este trabalho há quatro anos – especialmente os dois primeiros, que nem eram conhecidos na época e deviam estar com o aluguel em atraso. É o legítimo filme-bomba que se deve fugir o mais longe que puder. Desperdício de tempo e dinheiro.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Matheus Bonez | 1 |
Thomas Boeira | 3 |
Francisco Carbone | 1 |
MÉDIA | 1.7 |
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