Crítica
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Sinopse
A rotina singular de uma pequena cidade costeira da Itália nos anos 1930, uma localidade cheia de extravagâncias.
Crítica
Qual é a obra-prima de Federico Fellini? Fãs mais ortodoxos do mestre italiano devem apontar 8½ (1963) ou A Estrada da Vida (1954) como favoritos, talvez A Doce Vida (1960), mas, considerando sua filmografia singular e ao mesmo tempo tão plural, eleger sua obra máxima é uma tarefa inglória. Ainda assim, se há um filme que sumariza todas as qualidades e excentricidades do cinema felliniano, numa potência que evidencia as características definidoras de sua arte, ele não é nenhum dos títulos supracitados. Tal filme tem o nome de Amarcord.
Espécie de neologismo romanesco para a expressão “eu me lembro”, Amarcord foi assim batizado por conter passagens autobiográficas de Fellini, como tantos outros de seus trabalhos – ora baseados em sua vida, ora em seus sonhos. Os pequenos contos que preenchem o filme acompanham nostalgicamente o cotidiano de uma pequena vila italiana durante o governo de Mussolini, com o jovem protagonista Titta (Bruno Zanin) como alterego do diretor.
Numa narrativa agridoce, o filme critica aspectos da cultura e história italianas, como a postura do governo ou da igreja católica em aprisionar seus seguidores numa eterna adolescência, sonhadora e amoral. Em suas esquetes cômicas, por vezes acidamente hilárias, Fellini subscreve em tons satíricos a incapacidade de seus personagens manterem uma postura responsável ou avessa às fantasias – sejam sexuais, religiosas ou idealísticas – típicas da juventude.
Amarcord é um filme que pede para ser visto no cinema. As imagens panorâmicas, enquadramentos repletos de informações visuais e personagens maiores que a própria vida são perfeitos para uma tela gigantesca, onde suas exuberâncias seriam melhor contempladas. A linguagem aqui é felliniana em todas as suas sequências, elevada na direção de arte surrealista de Danilo Donati e na fotografia meticulosa de Giuseppe Rotunno. A trilha de Nino Rota é um espetáculo à parte, e conta um enredo próprio que dialoga em totalidade com o filme para o qual foi composta.
Vencedor do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 1974, Amarcord é soberbo em todas suas investidas, e talvez seja um dos trabalhos mais acessíveis e facilmente apreciáveis do diretor – o que está longe de ser um demérito. Escrito em parceria com Tonino Guerra, a produção transborda afeto por seus personagens e o universo que retrata, mesmo quando o faz severamente. Suas anedotas visuais, episódicas, são apresentadas a partir do lirismo intrínseco à Fellini, compartilhado numa obra essencial para ser sonhada muitas vezes.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Conrado Heoli | 10 |
Chico Fireman | 10 |
Wallace Andrioli | 10 |
Celso Sabadin | 10 |
Marcelo Müller | 10 |
Ailton Monteiro | 9 |
MÉDIA | 9.8 |
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