Crítica
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Sinopse
Lucas e Bebel estão apaixonados e decidem oficializar sua união, No entanto, eles sequer imaginavam que teriam tantas dificuldades por conta das suas respectivas famílias. A dela é judia; a dele é umbandista. E essas diferenças de crença vão motivar muitas confusões.
Crítica
São incontáveis os conflitos ao longo da História que foram motivados por intolerância religiosa. Fulano acredita na divindade X e não se conforma que sicrano creia na entidade Y. Por isso pipocam guerras, brigas entre vizinhos, disputas familiares, enfim, transtornos de toda sorte e amplitude. Em Amarração do Amor esse potencial motivador de tensões é utilizado para mostrar os problemas que dois jovens orientados por fés diferentes enfrentam ao anunciar seu iminente casamento. Bebel (Samya Pascotto) é uma veterinária judia. Já Lucas (Bruno Suzano) é um residente de medicina umbandista. Bem no estilo Romeu e Julieta, os dois se deparam com a ira de suas respectivas famílias, não necessariamente por conta da união, mas em virtude de como ela será sacramentada. Samuel (Ary França), o pai da noiva, deseja que tudo siga as tradições do judaísmo, nisso incluída a tentativa de fazer o futuro genro se converter. Já Regina (Cacau Protásio), a mãe do noivo, está à frente de um terreiro e não abre mão da cerimônia que siga os preceitos do seu credo de matriz africana. E diante do dilema que vai sendo desenvolvido de modo bastante previsível e burocrático, a pergunta que fica é: de fato quem são os protagonistas? O casal no meio do fogo cruzado? Seus pais? A intransigência no seio de uma geração que precisa aprender algumas boas lições de convivência e respeito ao próximo?
Bebel e Lucas possuem pouca substância para serem considerados os elementos principais do filme. Ambos são limitados pelo roteiro a uma sucessão de tentativas de conciliações entre seus pais em constante pé de guerra. É de se imaginar que em algum momento eles próprios serão contaminados por isso tudo e coloquem em dúvida os planos de matrimônio. E Amarração do Amor segue à risca o tal caminho que pode ser facilmente antevisto pela aderência irrestrita do roteiro a outros componentes de uma estrutura narrativa comum nesse tipo de conflito. No começo, os pombinhos tentam amenizar as brigas, ouvir o que seus futuros sogros têm a dizer, parecendo refratários às tensões dos mais velhos. Mas, o que falta a eles é personalidade. A diretora Caroline Fioratti os utiliza como meras peças de uma lição de moral desenhada com ares de “opa, já vi esse filme antes e muitas vezes”. Por exemplo, é difícil saber até que ponto ambos estão verdadeiramente dispostos a ceder para apaziguar os ânimos. O desempenho dos atores também contribui para a falta de consistência dos noivos que poderiam bem ser os protagonistas. Samya Pascotto até que consegue dar algum charme à Bebel, mas Bruno Suzano se restringe a ter reações um tanto superficiais e planas diante de toda a celeuma. E esse desequilíbrio também pode ser creditado à direção que não equaliza os polos.
Partimos à ideia de que os protagonistas podem ser os pais em pé de guerra. Cacau Protásio e Ary França sobressaem justamente porque é a partir de seus personagens que temos deflagrada a intolerância e a tensão sem as quais o filme nem existiria. Ela vive uma umbandista que se enche de brios para defender sua fé da constante marginalização à qual é exposta pela ignorância do preconceito. Já ele vive um tipo turrão que não compreende a possibilidade de uma união sincrética. Os dois intérpretes estão ótimos dentro dos tipos de personagens que ambos dominam: ela, o da mulher que sobe nas tamancas (gritando) se preciso for para se fazer ouvir; ele, o do homem neurotizado por alguma questão específica (aqui a religiosa). Mas, uma vez que nenhuma pessoa e/ou dinâmica se estabelece como a principal, podemos supor que o assunto é o grande destaque de Amarração do Amor. No entanto, para isso acontecer, de fato, a diretora precisaria orientar tudo pela intolerância religiosa. A trama é frouxa ao ponto de nem sempre ficar evidente se a fonte da beligerância é realmente a dificuldade de reconhecer a fé alheia, o ciúme dos filhos que estão prestes a deixar o ninho ou um simples capricho. A falta de espessura dos personagens não permite que se crave um diagnóstico e que tampouco a indeterminação seja um sintoma de alguma complexidade. A mensagem está na cara, isso sim.
Pelo modo como traça seu itinerário sem tantos desvios (surpresa-assimilação-dissimulação-imposição-ruptura-reconciliação), Amarração do Amor antecipa que acabará numa belíssima celebração ecumênica capaz de agradar a gregos e troianos. E o arremate é a famigerada moral da história: é preciso respeitar o outro. Em tempos de notícias diárias sobre manifestações odiosas de intolerância religiosa, sem dúvida esse ensinamento é bem-vindo. Porém, como cinema não deve ser medido estritamente pelas boas intenções (inclusive porque delas o inferno está cheio), é uma pena que nesse longa-metragem tudo seja tão esquemático. Sabemos exatamente para onde os frágeis personagens vão e de quais modos tudo ficará bem no novo lar religiosamente híbrido. Há algo de protocolar na maneira do roteiro a cargo de Marcelo Andrade, Carolina Castro, Caroline Fioratti e Laura Malin relacionar umbanda e judaísmo, famílias do noivo e da noiva. Tudo o que acontece lá, invariável e imediatamente acontece cá. Esse jogo de alternâncias e paralelismos é assim: numa cena, Bebel é submetida à intromissão da futura sobra que tenta impor conceitos da umbanda; simultaneamente, Lucas é levado pelo futuro sogro à sinagoga para aprender sobre o povo do oriente médio. E esse tipo de “lá e cá” é repetido no filme todo. Evidentemente, a ideia é mostrar que, subtraídas as diferenças, tudo e todos são iguais. E essa dinâmica cansa, bem como a busca infrutífera pela graça nesta comédia.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Marcelo Müller | 3 |
Alysson Oliveira | 6 |
Victor Hugo Furtado | 5 |
MÉDIA | 4.7 |
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